Na quarta-feira, escrevi sobre o extremismo de direita que tem conseguido ganhar força na Europa. O erro de interpretação pode levar a crer que tal fenômeno político se restringe aos países europeus. Infelizmente, pensar desta forma é um engano. Cada vez mais presente no cenário das nações mais desenvolvidas, a reatividade diante da crise também encontra sua expressão na maior potência mundial. Nos Estados Unidos, atende pelo nome de Tea Party.
É bom deixar claro que tais grupos não identificam apenas a crise econômica como o estopim para suas reivindicações. Os extremistas são também fatalistas e entendem que "tudo está errado". Esse discurso pretende gerar pânico entre os menos atentos. É tentador e, pelo menos de acordo com números de pesquisas recentes, parece eficaz. Na prática, todos os partidos de extrema-direita costumam seguir a mesma cartilha: há impostos demais, imigrantes demais, poucos empregos – culpa dos imigrantes, é claro, até para fechar o ciclo da "complexa" argumentação – e é preciso retornar aos "valores originais fundadores da pátria".
Nos EUA, o Tea Party é um fenômeno novíssimo. Ao contrário dos similares europeus, não se configura ainda como partido independente, mas representa a ala mais conservadora do já conservador Partido Republicano. O movimento nasceu em fevereiro de 2009 e conseguiu se popularizar entre eleitores que detestam política, mas que consideram que "tudo está errado" (de novo!) – generalizações de todas as formas costumam servir de terreno fértil para a proliferação do extremismo.
O nome – cuja tradução é "Festa do Chá" – remete a um episódio fundamental da história país quando, em 1773, colonos americanos se revoltaram contra as altas taxas cobradas pelos britânicos sobre o comércio de chá. Revoltados, invadiram embarcações repletas do produto e jogaram toda a mercadoria no mar. O episódio acabou por precipitar a independência dos EUA, ocorrida três anos mais tarde. Toda esta alegoria é muito bem colocada, já que atinge dois objetivos fundamentais do atual grupo conservador: questionar a carga tributária em vigor, além de reafirmar suas convicções a partir do retorno a um mito fundador da nação.
É bom estar atento a este projeto político que enfrenta um importante teste nas eleições do próximo dia 4 de novembro. Na ocasião, os americanos vão às urnas para escolher novos representantes para a Câmara e o Senado, além dos governadores de parte da federação.
Para quem ainda não conhece as propostas do Tea Party, vale mencionar algumas de suas muitas bandeiras polêmicas: privatização do seguro social, revisão de certos direitos civis, proibição de aborto mesmo em casos de estupro, oposição ao projeto de Obama de reforma da saúde, redução do papel do Estado em questões como educação, fortalecimento de medidas anti-imigração e objeção a qualquer interferência no mercado financeiro.
"Não se trata de um partido, mas de algo ainda mais potente: é uma forma de pensar o sistema político", escreve Daniel Henninger, analista do Wall Street Journal. Ainda é muito cedo para acontecer já nas próximas eleições, mas imaginem se o movimento conseguir chegar à Casa Branca?
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