De acordo com o primeiro relatório oficial publicado pelo Centro Nacional Eleitoral da Venezuela, a Assembleia Nacional do país passa a ter a seguinte divisão: o Partido Socialista Unido (PSUV), de Hugo Chávez, conseguiu eleger 95 representantes, enquanto a oposição ganhou 61 assentos. Ou seja, a perspectiva de maioria absoluta – 110 parlamentares – para qualquer dois lados não existirá. A situação muda de certa forma, uma vez que o presidente venezuelano vai precisar negociar com adversários políticos de forma a apontar ocupantes de cargos importantes, como juízes da Suprema Corte, por exemplo.
Acho que um dos aspectos interessantes da atual eleição venezuelana foi a significativa mudança das intenções da população. Não me refiro simplesmente aos resultados, mas à demonstração de que existe a preocupação de discutir projetos políticos. Se Chávez está no poder há quase 12 anos e durante este período já realizou inúmeros pleitos e plebiscitos, algo de diferente ocorre desta vez. Esta parece ter sido a primeira ocasião em que questões ideológicas foram menos relevantes.
Ainda existe uma enorme polarização no país, o presidente ainda é o grande protagonista das discussões entre situação e oposição, mas parece que o eleitorado quer discutir alternativas para enfrentar os muitos desafios: a inflação de 30%, o aumento dos índices de violência e as frequentes interrupções no fornecimento de energia. Ao contrário do ocorrido no último pleito, a oposição não incentivou seus partidários a não comparecerem às urnas. Até seus representantes parecem ter desistido da tentadora ideia de rotular Cháves como líder antidemocrático. É preciso reafirmar que observadores internacionais não costumam encontrar fraudes em eleições e plebiscitos venezuelanos.
Curiosamente, a atual situação de Chávez acaba por permitir alguns paralelos com um de seus maiores inimigos, o presidente norte-americano Barack Obama. Ambos enfrentam o teste das urnas quase simultaneamente; os resultados podem servir de prévia de eleições presidenciais a serem realizadas em 2012, quando os dois líderes tentarão se reeleger.
As semelhanças não param por aí. Obama e Chávez emprestam aos cargos que ocupam um forte teor ideológico e pessoal – nos EUA, inclusive, os críticos mais ferrenhos ao presidente americano costumam rotulá-lo de socialista, adjetivo que o inimigo venezuelano ostenta com muito orgulho. Para completar, ambos foram eleitos por conta de ideias progressistas, mas agora são contestados por populações que anseiam pela aplicação de soluções pragmáticas capazes de resolver questões importantes, como desemprego, violência e carência na área de infraestrutura.
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