A semana pode marcar mais uma movimentação importante no Oriente Médio. Na próxima quarta e quinta-feira, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, visitará o Líbano. Se a intenção de "passear" pelo sul do país se confirmar, Ahmadinejad estará ao lado da fronteira norte de Israel – especula-se, inclusive, que repetirá a prática local de jogar pedras em direção à fronteira israelense. Mais do que simplesmente reafirmar a imagem de maior contraponto regional ao Ocidente, a visita também pode influenciar decisivamente a própria política interna libanesa, que passa por momento decisivo.
A ONU estabeleceu um tribunal especial para investigar o assassinato do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, em 2005. A iminente publicação dos resultados promete abalar as estruturas do país, já que deve apontar o envolvimento do Hezbollah no crime. Se isso de fato acontecer, ninguém sabe ao certo como o grupo radical xiita pode reagir. Principalmente porque sua reputação fica abalada. Como explicar o envolvimento da milícia sem deixar óbvio seu projeto de poder? Como manter o véu patriótico incansavelmente repetido nos discursos de seu líder, o xeque Hassan Nasrallah?
É claro que existe um grande temor quanto às consequências da divulgação dos resultados desta ampla investigação. Tanto que a exposição das descobertas tem sido constantemente adiada. Se ficar claro que o Hezbollah está por trás da morte de Hariri – como dão conta informações preliminares – o Líbano pode entrar em colapso mais uma vez. Os partidários do atual primeiro-ministro, Saad Hariri (filho de Rafik), devem acusar a milícia xiita de traição à pátria. Na prática, o grupo já representa um Estado dentro do Estado, com seu próprio canal de televisão, instituições, hospitais, escolas e forças armadas.
Antecipando-se ao que parece inevitável, a milícia xiita tratou de convidar seu maior patrocinador para uma visita. Com a temperatura em elevação, o deputado do Hezbollah Nawwaf al-Moussawi declarou que qualquer libanês que aceite os resultados do inquérito da ONU será assassinado sob a acusação de colaboração com Israel e EUA.
A atual estratégia do grupo segue passos óbvios: tentar deslegitimar o tribunal, além de procurar tornar Mahmoud Ahmadinejad uma espécie de justiceiro que busca proteger os libaneses do poderio militar israelense. É por isso que, no último final de semana, o xeque Nasrallah declarou que o dinheiro recebido pelo Hezbollah dos iranianos foi empregado na reconstrução das casas destruídas por Israel durante a guerra de 2006.
A visita de Ahmadinejad é uma tentativa desesperada de mudar o foco. O Hezbollah corre contra o tempo para angariar o máximo de vozes ao velho discurso de enfrentamento com Israel. Junto com o presidente iraniano, a milícia xiita procura deixar o mais claro possível que qualquer voz acusatória, no fundo, representa um apoio aos israelenses. Este tipo de argumento simplista é bastante comum a radicais de todas as bandeiras.
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