Certamente, o terrorista de extrema-direita Anders Behring Breivik não é nenhum gênio da estratégia política. Ele pode ter sido organizado, discreto e eficiente o bastante no que se propunha: promover um banho de sangue no acampamento dos jovens membros do partido que condenava ideologicamente. Mas o efeito que causou no cenário norueguês e europeu ainda é desconhecido. Existe a grande possibilidade de que suas ações tenham efeito contrário. Pelo menos em curto prazo.
Antes de mais nada, Breivik não me parece parte de qualquer grande organização articulada de extrema-direita. Eleitor do Partido do Progresso, deixou de ser membro da legenda a partir do momento em que considerou suas práticas amenas demais. Ou seja, como o partido não teve a iniciativa de abertamente incentivar a luta armada, já não lhe servia. Daí, o terreno de atuação do atirador passou a ser o mesmo compartilhado por outros tantos malucos solitários e rancorosos: a internet e toda a gama de bravatas preconceituosas que ela oferece. Particularmente, acho que já é possível traçar um perfil a partir das informações conhecidas – seus uniformes militares, sua sede de dar significado a uma vida comum e desinteressante, seus jogos de guerra, o confuso manifesto publicado e a afirmação de que faz parte da nova geração de Cavaleiros Templários (!). Pois é.
Resta saber agora como o mundo real vai lidar com a situação que ele criou. O debate sobre imigração já é um fato – delicado, diga-se de passagem. Politicamente, o assunto foi alçado há algum tempo à lista de temas prioritários em toda a Europa. Como escrevi ontem – e como muita gente tem lembrado nesses dias –, importantes líderes europeus passaram a questionar a sociedade multicultural e seus benefícios em tempos de crise. Esta foi uma enorme conquista dos partidos de extrema-direita, na medida em que, graças aos bons desempenhos em algumas das principais eleições recentes realizadas no continente, conseguiram transpor uma de suas principais agendas ao mainstream da política europeia. Para partidos antes marginalizados numa Europa ainda constrangida por ter de lidar com este tema (devido à memória dos estragos causados pelo extremismo durante a Segunda Guerra Mundial), reacender o debate sobre a presença de imigrantes já se trata de uma vitória política significativa.
Ora, até os grandes líderes europeus tiveram de “comprar” parte do discurso da extrema-direita. Isto se deve ao abrandamento aparente desses partidos. Quando deixaram de lado manifestações públicas de racismo, antissemitismo e xenofobia e passaram a questionar politicamente as restrições econômicas, por exemplo, ganharam não apenas eleitorado, mas também legitimidade política. O projeto da extrema-direita é se camuflar para conquistar espaço. E os líderes tradicionais não puderam mais ignorar que parte importante dos eleitores de seus países estavam dispostos a debater, além das questões econômicas, as leis de imigração.
Logo agora, logo neste momento tão “produtivo” para os partidos de extrema-direita, Breivik decidiu agir. O clima de comoção e a condenação generalizada aos ataques podem influenciar em eleições por toda a Europa. A exacerbação do discurso e a prática violenta não servem aos propósitos dos partidos de extrema-direita. Não neste momento.
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