Nesta segunda-feira, o conjunto de atores internacionais conhecido como Quarteto se reúne novamente em Washington. Formado por EUA, União Europeia, Rússia e ONU, o grupo tem como objetivo conduzir as negociações de paz entre israelenses e palestinos. Considerando que o diálogo está completamente parado e não produz avanços há tempos, a meta principal do encontro na capital americana sofreu um ajuste. Passa a se concentrar somente na redação de um comunicado capaz de persuadir as partes a voltar à mesa de negociações. Por mais louvável que seja, adianto desde já que nem isso vai acontecer.
Os palestinos prometem levar a reivindicação do estabelecimento de seu Estado à Assembleia-Geral da ONU marcada para setembro. A guerra diplomática em curso neste momento é simples e franca: Israel tenta como pode convencer outros países a não serem favoráveis ao projeto, uma vez que o considera improdutivo aos esforços de paz e também a seus próprios interesses políticos e vitais (as fronteiras pleiteadas pelo Estado palestino são as anteriores à Guerra dos Seis Dias, em 1967, e este governo de Israel costuma se referir a elas como “linhas indefensáveis”). Os palestinos estão em franca vantagem. Além de contar com amplo apoio popular internacional, dão como certo que esta popularidade irá se refletir em votos nas Nações Unidas. E isso vai acontecer mesmo, não tenham qualquer dúvida.
Os dois atores estão, portanto, travando uma guerra de bastidores em que, na prática, o objetivo de um anula o do outro. O presidente palestino, Mahmoud Abbas, diz que estaria até disposto a cancelar a iniciativa se o governo israelense interrompesse a construção na Cisjordânia (território que vai formar a maior parte do Estado palestino). Velho jogador político, Abbas sabe que esta é uma promessa que está bem distante de seduzir o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu – que tem nos colonos que vivem justamente na Cisjordânia uma boa parte de seus eleitores, mas também nos partidos que os representam o peso que mantém nos eixos a coalizão política que o sustenta no cargo. Congelar as atividades no território palestino é o mesmo que desmontar suas alianças políticas e, por consequência, quase um pedido de renúncia.
E como Netanyahu prefere apostar alto a abrir mão de seu projeto de poder pessoal, ele pensa não ter mesmo com o que se preocupar em curto prazo. Pesquisas de opinião pública mostram que ele seria reeleito, caso novas eleições fossem convocadas; a economia do país está bem; e Bibi pode ser um fenômeno mesmo. Se a situação continuar do jeito como está, deve ser o primeiro líder de governo a conseguir terminar o mandato desde Menachem Begin (1977-1981). Além disso, Jerusalém não aceita negociar com um gabinete palestino de união nacional que inclua justamente o Hamas.
Por tudo isso, o impasse é a maior realidade. O Quarteto até vai escrever um texto bonito, mas ineficaz. A diferença agora não é que israelenses e palestinos se recusam a escutar. O fato é que cada um dos lados sabe o que o outro quer, mas não admite ceder. Qualquer negociação pode ser bem-sucedida quando as duas partes admitem perder algo. O problema agora é que mesmo conceder o mínimo já significa perder demais.
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