Uma das notícias mais importantes sobre este ataque foi dada por Janne Kristiansen, diretor do Serviço de Segurança Policial da Noruega: o atirador agiu sozinho. Trata-se de um criminoso não filiado a qualquer rede extremista europeia. Esta hipótese era previsível, mas os grupos radicais que se politizaram ao longo dos anos para alcançar seus objetivos não tinham como garantir este isolamento. A revelação de que Breivik agiu por conta própria, elaborou planos e tornou-os reais – tragicamente reais – é um alívio para os muitos partidos de extrema-direita.
É bom que se diga que nada disso salva o discurso extremista. Breivik marcou um tremendo gol-contra ao realizar os ataques. A imprensa e as instituições políticas europeias passaram a condenar não apenas o atentado, mas também estão dispostos a culpar o agravamento da pressão sobre imigrantes e minorias. Os dedos apontam com firmeza os próprios partidos de ultradireita como os culpados pela criação de um ambiente hostil responsável pelo surgimento de sujeitos como o atirador norueguês.
No entanto, a informação de que ele não estava formalmente vinculado a nenhum grupo ou partido ameniza. É como um bote no meio do oceano. Não melhora a situação, mas evita ou ao menos retarda a sentença de morte. E, claro, os partidos que agora estão por baixo – muito por baixo – farão uso desta informação e a propagarão aos quatro ventos.
Há muita gente – e eu me incluo nisso – que vem lembrando a popularização das ideias extremistas no mais alto-escalão político europeu. Acho que vale dizer que os acontecimentos recentes da Europa já sinalizavam não apenas o agravamento da situação em termos teóricos, mas também práticos. No meio de tanta discussão em torno do duplo atentado na Noruega alguns fatos foram esquecidos.
Por exemplo, a Dinamarca decidiu voltar a estabelecer controle de entrada de pessoas em seus postos de fronteira em maio de 2011. O país é signatário do acordo Schengen, em que os Estados permitem a livre circulação entre seus membros. Desistir do conceito básico de Schengen é uma medida drástica e fruto da enorme pressão do Partido do Povo Dinamarquês, de extrema-direita. E as polêmicas não param por aí. Em agosto de 2010, o governo francês deportou cerca de mil ciganos para Romênia e Bulgária – decisão que levantou ainda mais questões quanto ao projeto de multiculturalismo europeu. Isso apenas para restringir o cenário a grandes movimentos estatais.
Talvez, o atirador norueguês consiga, ironicamente, constranger medidas como essas. Pelo menos por algum tempo. Breivik pôs uma barreira involuntária no curso extremista que, estranhamente, não vinha recebendo muita consideração. O duplo atentado que cometeu parece ter acordado uma parte da Europa para a articulação política da ultradireita.
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