segunda-feira, 18 de julho de 2011

Movimento popular no Egito corre risco

O movimento político mais surpreendente do ano corre risco de perder sua força de maneira catastrófica. A massa de cidadãos comuns que derrubou Hosni Mubarak, no Egito, pede socorro porque, meses após o sucesso que culminou na deposição do presidente, quase nenhuma mudança significativa foi posta em prática. E aí a revolta periga simplesmente ter sido útil como mero instrumento de transição do poder de um ditador a outro. Há também a possibilidade de Mubarak ter dado lugar a movimentos institucionalizados que estão muito distantes de serem os legítimos representantes da população que se aglomerou na simbólica Praça Tahrir, no Cairo.

Logo depois da queda do ditador egípcio, muitos analistas estrangeiros apontaram para a Irmandade Muçulmana como único grupo organizado capaz de articular a tomada do poder. No entanto, existia a esperança quanto ao sucesso do movimento original, centrado no secularismo e na independência em relação a discursos estabelecidos. Mas, como sempre costumo repetir por aqui, uma boa parte do sucesso que deixou o mundo todo estarrecido (no bom sentido, claro) se deve, basicamente, à adesão do exército aos revoltosos.

Aliás, temos assistido desde então a uma série de ondas populares pró-democracia no Oriente Médio que tem as mesmas demandas dos egípcios. E qual a diferença entre elas? Justamente que em países como Síria e Arábia Saudita, por exemplo, as forças armadas se mantiveram fiéis aos governos centrais. Não é possível prever se as reivindicações das populações desses países serão atendidas. Mas é algo absolutamente notório como os embates entre as pessoas comuns e a estrutura de poder estabelecida têm sido caracterizados pela violência.

Agora, milhares de pessoas retornaram à Praça Tahrir porque estão com medo. Não da polícia e da opressão, mas medo de que seus desejos de justiça, emprego, democracia, eleições livres e imprensa independente sejam sequestrados justamente pelos militares – os mesmos que nada fizeram para impedir a queda de Mubarak. Especula-se, inclusive, sobre uma eventual associação entre as forças armadas e a Irmandade Muçulmana. E num cenário onde houve muito pouco tempo para que partidos seculares emergissem, o sucesso da articulação de interesses entre as duas forças mais organizadas do Egito pós-Mubarak é totalmente possível.

E este é um movimento que se caracteriza pela discrição. Não imaginem que a junta militar que governa o Egito irá aplicar um golpe e cancelar a realização das eleições previstas para setembro. De forma alguma. As articulações serão mais sofisticadas. Por exemplo, um sinal interessante foi a vitória da Irmandade Muçulmana, que conseguiu que o pleito político seja realizado antes da adoção de uma nova constituição (que poderia, digamos, exigir a separação total entre religião e política).

Nenhum comentário: