Parece que a novela envolvendo a segunda frota internacional a caminho de Gaza terminou como ninguém imaginava. Ou seja, nada aconteceu. Soldados israelenses abordaram o iate francês Dignité-Al Karama sem maiores problemas. A embarcação, passageiros e tripulantes foram escoltados calmamente até o porto de Ashdod, no sul de Israel. A situação é totalmente diferente da que ocorreu no ano passado, quando a abordagem ao navio Mavi Marmara se transformou num golpe político genial que provocou, inclusive, o completo esfriamento das relações entre os governos turco e israelense.
Se é possível enumerar as lições apreendidas por Jerusalém, é preciso também deixar claro que as comparações entre as distintas empreitadas pró-palestinas merecem muito cuidado. O momento político atual é completamente diferente, e os atores envolvidos diretamente na bem-sucedida “experiência” do ano passado não se mostraram tão entusiasmados para repetir a dose.
O grande financiador da tentativa de furar o bloqueio marítimo israelense era a organização turca IHH – diga-se de passagem, influente e com livre trânsito à cúpula do governo de Ancara. Em 2011, o grupo se retirou do projeto. O desânimo pode ser atribuído – quem sabe – ao momento difícil da política doméstica Turca – o primeiro-ministro Erdogan se vê às voltas com o recrudescimento do nacionalismo curdo e também com a instabilidade da vizinha Síria, responsável por despejar milhares de refugiados no lado turco da fronteira.
Havia a expectativa de mais um confronto entre Israel e os passageiros. Havia também o projeto constituir uma frota muito maior que a de 2010. A ideia original era navegar rumo a Gaza com 20 barcos. O plano terminou hoje com somente 16 militantes a bordo de um pequeno iate de bandeira francesa. É claro que a frustração por parte dos manifestantes se deve também às distintas ações israelenses. Pela primeira vez, Benjamin Netanyahu considerou que este evento tinha mais perfil político, diplomático e midiático, e se configurava bem menos como uma ameaça à segurança do país. Isso o ajudou muito. Articulou com o governo grego e convenceu-o a aplicar toda a sorte de exigências burocráticas às embarcações que pretendiam zarpar a partir de seus portos. Isso foi muito eficaz. Tanto que 300 ativistas abandonaram a empreitada ainda na Grécia.
O exército israelense filmou toda a abordagem e emitiu boletins periódicos com todos os passos da operação. O navio recebeu um aviso de que não poderia seguir rumo a Gaza e os soldados embarcaram calmamente a bordo do Dignité-Al Karama. Os passageiros receberam comida e foram examinados por médicos de Israel. Se o Estado judeu não conseguiu ter ganhos políticos ou mesmo angariar simpatia internacional ao país, evitou a repetição dos prejuízos de 2010. Uma explicação para a calmaria temporária talvez seja também o fato de que o grande confronto deste ano deve acontecer em setembro, quando todos os esforços políticos palestinos estarão concentrados na busca por legitimidade às aspirações de constituição de um Estado na Assembleia-Geral da ONU.
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