A agressão às embaixadas de França e EUA em Damasco causou revolta aos governos dos países cujas representações diplomáticas foram alvo da fúria de militantes pró-Bashar al-Assad. E não é para menos. A campanha promovida pelo presidente sírio descumpre uma das mais básicas convenções internacionais. Atacadas durante 31 horas entre sexta-feira e sábado, os edifícios foram pichados, sujos e quebrados. Os manifestantes jogaram ovos, tomates, pedras e vidro. Toda esta violência tem razões estratégicas até bastante fáceis de serem identificadas. Na origem, a incapacidade do presidente-ditador de lidar com o impasse iniciado em meados de março e que já matou 1,4 mil pessoas.
Foto: manifestantes em protesto diante da embaixada americana
Assad tenta contornar a situação com as armas de que dispõe. Seu monopólio sobre todos os mecanismos do Estado permitem que ele transforme as críticas internacionais em caso de disputa entre a Síria e as potências ocidentais. Assim, usa também a imprensa oficial para usar a seu favor qualquer manifestação estrangeira. No caso específico dos ataques coordenados a partir da incitação governamental às embaixadas, a razão explicitada para justificá-los é a tentativa de EUA e França de intervirem nos assuntos domésticos do país. Refere-se, particularmente, às visitas realizadas na semana passada pelos representantes diplomáticos à cidade de Hama, foco de manifestações e confrontos entre tropas fiéis ao presidente sírio e manifestantes populares.
A situação agora tende a mudar um pouco. Os EUA tentaram o máximo que puderam se manter relativamente distantes dos acontecimentos na Síria. A violência em curso por lá é vista com preocupação em Washington por algumas razões: há a percepção de que uma invasão como a articulada à Líbia não é a melhor alternativa porque poderia – e certamente seria este o caso – acender o isqueiro numa região já naturalmente explosiva; além disso, a posição americana até agora se restringia simplesmente a pedir que Assad realizasse reformas democráticas, mas não exigia que o ditador deixasse o cargo. A Casa Branca teme que a saída do atual presidente represente a ascensão de grupos ainda mais radicais, como a Irmandade Muçulmana local. Esta é a mesma posição da administração israelense. Assad pode ser um grande problema, mas ao menos é um problema conhecido.
De qualquer maneira, o ataque às representações diplomáticas é um novo capítulo e força franceses e americanos a subirem o tom. “O presidente Assad não é indispensável e não temos absolutamente nada a ganhar com sua permanência no poder. Nosso objetivo é ver atendido o desejo do povo sírio por transformação democrática”, disse. Esta foi a primeira vez que o governo americano se viu obrigado a fazer um comunicado oficial que pode ser interpretado como um pedido de reformas no país realizadas por qualquer um. É como um aval de Washington a um futuro sem Assad. E é exatamente isso que o líder sírio mais queria. Polarizar o embate entre ele e o Ocidente – principalmente entre ele e os EUA – talvez seja sua única estratégia em busca do que lhe resta de legitimidade interna.
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