A maré da virada política europeia pode ser significativa a partir de agora. O primeiro-ministro norueguês, Jens Stoltenberg, já deixou claro que, em resposta ao duplo atentado, vai adotar medidas para reforçar ainda mais a tolerância e a democracia no país. Aliás, o olho de todo o mundo deve se concentrar na Noruega. As eleições locais do próximo mês de setembro serão profundamente influenciadas pelos acontecimentos deste mês de julho. Não é possível afirmar se, no caso de derrota significativa do Partido do Progresso (que representa a extrema-direita norueguesa), a onda contra o extremismo se espalhará pelas demais urnas europeias. Mas não há dúvidas de que as legendas trabalhistas do continente adotarão o caso da violência na Noruega como exemplo das graves consequências da ascensão política do extremismo.
Se esta será uma estratégia vencedora é uma outra história. Mas acho razoável dizer que os maiores prejudicados politicamente foram justamente os partidos que levantam bandeiras anti-imigração. Como escrevi nesta terça-feira, todo o trabalho de maquiagem que fizeram ao longo desses anos está comprometido. E existe mesmo a possibilidade de grande retrocesso. Tudo depende de como as pessoas irão se manifestar nas eleições que estão por vir. Se houver consenso quanto ao perigo do extremismo interno europeu, os partidos de direita sofrerão derrotas sucessivas.
A saída para esses partidos é baixar ainda mais o tom. A questão é que seus militantes não se sentirão representados se isso acontecer. Por mais que fique evidente que se trata de um recuo estratégico, é preciso alguma sofisticação para compreender este passo. E nem todos os eleitores serão capazes de aceitar isso. Pelo contrário. Podem interpretar o gesto como capitulação. E como a maior parte das pessoas não está disposta a pegar em armas e largar tudo em nome de ideologias, podem simplesmente correr para outros partidos, iniciado um processo de esvaziamento das legendas de extrema-direita. Seria o fim do plano político traçado – o plano que mencionei no texto desta terça.
Há duas alternativas para manter o extremismo político respirando. A primeira dependeria de alguma organização fundamentalista islâmica resolver cometer um atentado terrorista de grandes proporções na Europa. Isso não anularia os estragos causados por Anders Behring Breivik, mas empataria o jogo. Ou seja, Brevik não deixaria de ser um extremista, da mesma maneira que o radicalismo islâmico provaria, mais uma vez, representar uma grande ameaça aos valores europeus. Se este eventual ataque fosse cometido por uma célula – ou articulação de células – de fundamentalistas com cidadania europeia (estabelecidos em grandes comunidades muçulmanas do continente, casos de Espanha ou Grã-Bretanha, por exemplo), ainda “melhor”.
A segunda alternativa é bastante viável. Os partidos de extrema-direita devem correr para reforçar o discurso em torno da crise econômica e suas consequências aos cidadãos comuns. Os slogans devem girar em torno da falta de empregos e perspectivas aos jovens – o que, de fato, é uma realidade. E deve culpar, por tabela – e com mais sutileza –, os imigrantes. Aos partidos de extrema-direita, o melhor cenário agora seria o agravamento da crise. Algo, aliás, não só possível como provável.
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