Enquanto a Europa passa por um de seus piores momentos na história recente, um acontecimento passa despercebido. A Polônia assume a presidência rotativa e temporária da União Europeia. Até aí, nada. O revezamento é parte da estrutura política do bloco e a presidência húngara que se encerra nesta sexta-feira passou, digamos, em brancas nuvens. Quer dizer, houve uma série de acontecimentos relevantes e eles ainda estão em curso, mas a verdade é que a Hungria não fez grandes contribuições.
Não se sabe se os poloneses adotarão perfil muito diferente, mas há bons motivos para vislumbrar novidades. Coincidentemente, inclusive, é um tanto representativo a presidência da UE ficar a cargo da Polônia nesses tempos turbulentos. O país se apresenta como uma espécie de “nova” Europa. Se a crise grega polarizou o grupo perversamente chamado de PIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) e as grandes economias de Alemanha, França e Grã-Bretanha, a Polônia pode ser uma terceira via.
Atualmente, o país vai relativamente bem. É a sexta maior economia do continente – está entre as 20 maiores do mundo –, mantém índice de crescimento anual de 4% e prevê um déficit de 2.9% em relação ao PIB em 2012. Não são dados impressionantes, mas contrastam positivamente com a catástrofe generalizada. Num período em que, como escrevi durante esta semana, os laços que unem os Estados-membros da UE estão desgastados – para falar o mínimo –, o discurso polonês soa como resgate teórico dos objetivos do bloco. O primeiro-ministro Donald Tusk fez questão de dizer que a solidariedade europeia precisa ser mais do que um simples slogan. Pode ser um discurso de posse, claro, mas mostra uma disposição interessante.
É a primeira vez que a Polônia assume a presidência da UE. E é bom lembrar que os quesitos de poder mudaram. Diante do mar de insegurança e incerteza, os poloneses pelo menos aparentam estar no rumo certo. E isso já é muito. Como há cada vez mais complexidades e novos atores no cenário internacional, não seria surpresa se o governo de Varsóvia passasse a reivindicar ganhos políticos. Ocupar a presidência europeia neste exato momento pode ser arriscado, mas também pode abrir caminho para oportunidades. Como a Polônia tem sua própria agenda, é possível que passe a ter mais força para torná-la prática.
Dentre algumas das intenções polonesas conhecidas e expostas pelos líderes do país estão a finalização das negociações para o ingresso da Croácia na UE, além de avanços nos diálogos com Turquia e Islândia. São objetivos ambiciosos principalmente quando o bloco europeu passa por este período bastante conturbado. A Polônia quer expandir justamente no momento de maior recuo político e econômico. Se Varsóvia conseguir acalmar o nervosismo interno no continente e também dar passos concretos para novas adesões, já terá feito muito mais do que esperado.
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