Hugo Chávez está de volta à Venezuela. Depois de quase um mês de tratamento em Cuba e após o anúncio de que estava na ilha para se tratar de um câncer, o presidente decidiu retornar ao país que está sob seu comando há nada menos do que 12 anos. Em primeiro lugar, acho importante destacar que, apesar de trágico, o câncer não necessariamente impede que as pessoas deem prosseguimento a suas vidas. Isso vale também para líderes políticos. Nesta área, inclusive, há dois exemplos recentes, sendo um deles bastante próximo aos brasileiros; a presidente Dilma. Ela mesma chegou a ser questionada sobre suas condições de saúde antes do processo eleitoral. O outro episódio relevante e recente é o presidente paraguaio, Fernando Lugo.
De qualquer maneira, a doença e o tratamento de Chávez criaram uma situação política nova na Venezuela. Houve um tanto de especulação sobre se retornaria ao país e, se o tratamento no exterior fosse prolongado, quem poderia ou deveria ocupar seu cargo. Talvez para evitar o progresso das discussões, o presidente decidiu retornar. Não se sabe, entretanto, como será seu governo a partir de agora. Arrisco dizer que suas aparições públicas serão raras. Para se ter ideia, ele mesmo admitiu não ter condições de participar das comemorações pelo bicentenário de independência que se iniciam nesta terça-feira. Quem acompanha um pouquinho de política sabe que Chávez não perderia por nada uma ocasião como esta.
A aparente saúde debilitada de Chávez expõe também a frágil estrutura política do país. Quando digo isso não me refiro às instituições venezuelanas, de forma alguma. A questão é que, propositalmente ou não, tudo gira em torno do presidente. Isso pode ser creditado a seu enorme carisma, polêmica e retórica. Ou mesmo aos incríveis 12 anos de poder. Mas o fato é que mesmo a oposição pareceu órfã durante seu sumiço. Não há muitas propostas ou ideias. O grupo antichavista é dependente de Chávez. Para ser franco, não creio que este seja um projeto de um lado ou de outro, mas uma consequência de uma disputa que se polarizou em torno da emblemática figura presidencial.
Dividida ao meio, a Venezuela é hoje um país cheio de problemas. Ostenta a segunda mais alta taxa de homicídios do continente e um dos maiores índices de inflação do mundo. Ou seja, sem se aprofundar demais, há muito o que ser resolvido. E quando os problemas são sérios – como nesses casos –, os grupos políticos deveriam estar empenhados em apresentar propostas para resolvê-los. Mas estão todos divididos em torno da personalidade e dos métodos de Chávez. Sua ausência temporária deixou isso bem claro.
E se o presidente é um tanto questionado pela oposição interna, é preciso dizer que este mesmo grupo não tem lá muito do que se orgulhar. Além de não apresentar muitas ideias, este é um momento particularmente problemático. Alguns de seus líderes fizeram um enorme favor a seu maior inimigo ao procurar o embaixador americano em Caracas e requisitar auxílio financeiro de instituições governamentais dos EUA para, claro, combater Hugo Chávez. As informações foram divulgadas pelo WikiLeaks e, não tenham dúvidas, o presidente venezuelano vai se fartar com elas. Para completar o perfil patético da oposição venezuelana, vale dizer que os americanos disseram não ter nenhum interesse em se intrometer nos assuntos internos do país.
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