Não haverá acordo sobre o programa nuclear. Pelo menos não nos próximos dias. Como se esperava, o novo limite deve ser o dia 9 de julho, data final para submeter o resultado das negociações ao Congresso americano. Isso bate com a análise que publiquei no último dia 26. Na prática, não há como imaginar qualquer negociação desta proporção que desconsidere o jogo doméstico dos EUA, o ator mais poderoso e também o principal interessado nos resultados políticos. É claro que os demais membros do P5+1 irão capitalizar conquistas com o Irã, mas é em Washington que os dois partidos aguardam as conversações em Viena com mais ansiedade. Suas consequências influenciarão decisivamente na corrida eleitoral e, principalmente, no legado internacional do governo Obama.
Do lado iraniano, já se pode dizer que Hassan Rouhani e a cúpula dirigente do país souberam agir com mais sabedoria que o antecessor do cargo, Mahmoud Ahmadinejad. Com estilo provocador, Ahmadinejad optou por se transformar numa caricatura e não entendeu que, se baixasse o tom, não apenas tiraria o foco de si, mas também reduziria as perspectivas de ameaça militar ao programa nuclear do país. Ao acenar com a possibilidade de negociações – mesmo que elas sejam incapazes de resultados positivos a todos os lados envolvidos – , o Irã passou a dar o que o Ocidente queria sem precisar fazer muito. Às vezes, o jogo de cena é suficiente. Muitas vezes, a imagem mais amenizada é capaz de satisfazer a opinião pública internacional. Isso faz sentido especialmente no caso iraniano, onde jamais houve apoio consistente ao impedimento militar aos avanços atômicos do país.
Negociações lentas e cujos resultados são difíceis de serem mensurados já foram capazes de jogar no esquecimento a possibilidade de um ataque coordenado entre EUA e Israel às instalações nucleares iranianas. O discurso militar foi esquecido por ora em função, principalmente, da falta de vontade americana de se envolver em mais um conflito no Oriente Médio. A crise econômica, a incapacidade de se ver realmente livre do Iraque e do Afeganistão e a necessidade de o governo Obama apresentar resultados práticos internacionais antes das próximas eleições acabaram com a perspectiva de uma ofensiva contra o Irã. E é evidente que Teerã está fazendo bom uso desses elementos enquanto negocia em Viena. Tudo isso é fruto também da capacidade de Rouhani. O Ocidente aguardava ansiosamente um líder iraniano que parecesse menos agressivo. Rouhani teve o papel mais do que simplório de ser este presidente. Não foi preciso muito mais para abrir muitas portas e fechar outras tantas.
Nada disso, no entanto, significa que a cúpula da República Islâmica tenha se transformado. A própria perspectiva de suspensão das sanções é de interpretação duvidosa. Se as sanções caírem, o governo irá se abrir e abandonar o projeto nuclear militar (nunca admitido)? Ou irá reforçar internamente o discurso de vitória sobre o Ocidente apostando que os EUA estarão muito ocupados na sucessão eleitoral para voltar atrás e se envolver numa ação que continuará a não encontrar apoio internacional? Eu diria que parte desta resposta irá depender de quem será o próximo presidente americano. E, como escrevi, mesmo que seja Hillary – uma possibilidade real – , a abordagem americana, no caso de impasse com o Irã, deve mudar um pouco. Se for um presidente republicano, deve mudar completamente.