No próximo dia 30 expira o prazo para que o P5+1 (EUA, Grã-Bretanha, Alemanha, França, Rússia e China) alcance os termos finais de um acordo que normatize e limite as pretensões nucleares iranianas. Entre todos os países envolvidos nas negociações nenhum está mais interessado no sucesso das conversações do que os EUA – o Irã também, claro, na medida em que espera ficar livre das sanções internacionais. Mas, sob o ponto de vista do impacto político, o governo Obama precisa tanto deste acordo quanto os iranianos necessitam dele para recuperar suas perdas econômicas.
No entanto, da mesma maneira como aconteceu em abril – quando houve consenso quanto a um acordo preliminar –, a reta de chegada desta última semana de junho promete muita tensão, discussão e questionamento. Na última quarta-feira, o aiatolá Ali Khamenei, maior autoridade do Irã, já deixou claro que espera a suspensão das sanções antes da assinatura do acordo. Era tudo o que a Casa Branca não precisava. Se já há muita resistência interna nos EUA, as palavras de Khamenei acrescentaram ainda mais desconfiança.
O secretário de Estado John Kerry, que está à frente das negociações pelos americanos, procurou minimizar as palavras e alegou que se trata de um discurso doméstico. O problema para Kerry é que esta é, na prática, uma situação sem saída. Nem pode elevar o tom – sob ameaça de interromper o diálogo –, nem pode dar a entender que P5+1 estaria disposto a fazer mais concessões.
Vale lembrar também que em novembro de 2016 ocorrem as eleições americanas. Após oito anos de governo democrata, Hillary Clinton navega por águas tranquilas em sua candidatura até agora (os republicanos ainda não apresentaram um nome que pudesse rivalizar com a ex-primeira dama e ex-secretária de Estado). Por isso a oposição não vai pensar duas vezes em tentar mudar este cenário com as armas que tiver disponíveis. Sejam elas quais forem.
Um dos principais nomes no comando desta missão é o senador republicano Bob Corker (foto), representante do partido no Comitê de Relações Externas do Senado. O objetivo dos republicanos não é apenas questionar ideologicamente o projeto de acordo defendido pelo governo, mas também atuar politicamente para dificultar sua aprovação. Corker é autor da lei, já em vigor, que obriga o presidente Obama a submeter um eventual entendimento com o Irã ao Congresso até o dia 9 de julho. Quando isso acontecer, as duas Casas (Senado e Câmara dos Deputados) terão 30 dias para se posicionar sobre os termos acordados em Viena. Obama pode vetar qualquer parecer dos congressistas – e deve mesmo fazer uso desta possibilidade.
Mas aí o Congresso tem uma maneira de driblar o veto presidencial. E aposto que este deve ser o assunto que irá movimentar o debate político em Washington – e principalmente as negociações de bastidores – em algum momento do segundo semestre deste ano. Os deputados e senadores podem ter a palavra final sobre o acordo com o Irã caso dois terços dos congressistas americanos das duas Casas se oponham à decisão do presidente.
Esta é uma possibilidade real e, se realmente ocorrer, irá movimentar todas as forças políticas dos EUA. Este é o tipo de discussão tão desgastante que pode mudar inclusive o que parece ser um caminho tranquilo para os democratas nas próximas eleições. E é justamente em função disso que acredito que os republicanos não irão perder a oportunidade de alongar este assunto ao máximo. Já escrevi por aqui que, na maioria das situações, questões de política externa não costumam influenciar decisivamente em eleições. Se este cenário que descrevi se confirmar, haverá um exemplo bastante representativo de que, em algumas circunstâncias, esta premissa não se aplica.
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