A derrota do exército iraquiano em Ramadi (tema de texto aqui no site, leia) deu ainda mais dramaticidade ao encontro dos membros da coalizão internacional. Em Paris, ao menos 20 dos 60 Estados participantes da ofensiva de contenção ao Estado Islâmico devem ao menos reavaliar as estratégias colocadas em prática. Mas, se a perda – mesmo que se prove temporária – de Ramadi lança evidentemente um alerta generalizado, há muita expectativa sobre o atual primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi.
Se há algo de permanente nos últimos anos no Oriente Médio é a divisão sectária entre sunitas e xiitas. Este não é um fenômeno novo, mas os acontecimentos recentes deixam claro o aprofundamento das hostilidades entre os dois grupos. A Primavera Árabe e o alinhamento dos Estados regionais a partir desta premissa não deixam dúvidas. E os grandes atores internacionais sabem disso, claro. Entendem também que os governos iraquianos não têm contribuído para acalmar os ânimos internos e esfriar rivalidades. E é deste vácuo de costura nacional, desta ausência de empenho, que o EI tem se aproveitado.
O EI se reafirma como o grupo representante dos sunitas – o que é especialmente atraente à minoria sunita iraquiana. Ao reforçar as cores da divisão sectária, o EI se fortalece diante desta parcela da população do Iraque que se percebeu deslocada do processo de tomada de decisões e desprestigiada pelo país que emergiu do vácuo deixado pelo ditador Saddam Husssein. Os sunitas iraquianos (cerca de 40% dos cidadãos) foram abandonados durante os dois mandatos do ex-primeiro ministro, o xiita Nouri al-Maliki (2006 a 2010 e 2010 a 2014).
Por mais que as estratégias militares internacionais estejam na pauta das discussões em Paris, a melhor maneira de convencer esta parcela dos iraquianos a desconsiderar o discurso do também sunita EI é correr para concretizar um Estado nacional que supere as rivalidades sectárias. É evidente que isso não acontece de um dia para o outro, mas é impossível solucionar as questões nacionais iraquianas desconsiderando este fato óbvio. Isso não irá derrotar o EI, mas enfraquecerá seu apelo interno.
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