O atual presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, sofreu seu maior revés desde o início deste século a partir da divulgação dos resultados eleitorais do último dia 7. O presidente, ex-primeiro ministro e personalização de homem forte da Turquia está passando por dias difíceis, ainda mais quando comparados aos tempos de vitórias incontestáveis do passado recente.
O AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento), fundado por Erdogan em 2001, venceu todas as eleições no país nos últimos 13 anos. Os resultados que emergem da urna ainda mantêm o AKP na posição de maior legenda partidária turca, mas já não garantem a mesma força de outros tempos. A ginástica política de Erdogan lhe permitiu revezar-se na liderança do país; após 11 anos como primeiro-ministro, passou o cargo a seu chanceler – Ahmet Davutoglu, seu homem de confiança – e se candidatou à presidência. Venceu com 51,8% dos votos e encarava as eleições deste ano como a possibilidade de obter a maioria absoluta no parlamento e, com isso, alterar o sistema de governo para o presidencialismo – o que o levaria novamente ao principal cargo executivo do país.
Os turcos rejeitaram esta proposta, deixando claro que não estão dispostos a dar poderes plenos a Erdogan. O AKP fez importantes investimentos em infraestrutura, e a Turquia pôde usufruir de crescimento econômico no período em que os vizinhos ocidentais na Europa estavam mergulhados na crise financeira. A partir de 2001, Ancara experimentou média de crescimento de 6% até 2008, alcançando 9% em 2010 e 2011. Nos últimos dois anos, no entanto, a expansão do PIB caiu para 2%. Mesmo continuando a crescer, houve redução no ritmo, o que pode ter causado impacto nos cidadãos comuns e na percepção sobre o desempenho do governo – ainda mais de um governo personalizado num líder. Erdogan não pode mais ostentar resultados econômicos impressionantes como os dos últimos 14 anos.
Resta agora ao AKP negociar com adversários históricos: pela primeira vez, os curdos – que representam 18% da população – conseguiram ultrapassar o mínimo de 10% de votos exigidos por lei (fizeram 12 pontos percentuais) e estarão representados no parlamento pelo Partido Democrático do Povo (HDP); o Partido Republicano do Povo (CHP), principal bloco de oposição a Erdogan, obteve 25%; e o Partido do Movimento Nacionalista (MHP) conquistou 16,5% dos votos. Nenhuma das três legendas se mostrou disposta a formar um governo de coalizão com o AKP.
Por isso, as possibilidades ainda não estão claras e certamente haverá extensas negociações de bastidores. De toda forma, Erdogan conta com a possibilidade de convocar novas eleições, caso em 45 dias as articulações para a formação de um novo governo não obtenham sucesso.
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