A cidade de Palmira, na Síria, está sob controle do Estado Islâmico. Se por um lado o foco internacional se concentra no destino de suas ruínas (que contam mais de dois mil anos de história), há questões ainda em aberto sobre as razões da derrota do exército oficial sírio diante do EI.
É possível fazer uma relação entre duas derrotas recentes para os terroristas do EI. Em Ramadi, no Iraque, ficou evidente a fragilidade do exército iraquiano. No caso sírio, não se pode falar em fraqueza. As forças do presidente Bashar al-Assad teriam condições plenas de vencer os terroristas. Mas isso não aconteceu. Há algo de muito estranho no ar.
Em janeiro deste ano, os curdos expulsaram os jihadistas do EI da cidade síria de Kobane, fronteiriça com a Turquia, depois de mais de quatro meses de combates. Não se pode comparar a milícia curda da Síria ao exército oficial sírio.
Equipada por anos na corrida armamentista permanente do Oriente Médio, as forças leais de Bashar al-Assad não têm poderio desprezível: são 4,5 mil tanques, 4,5 mil veículos militares terrestres, 650 sistemas de lançamento de mísseis, 462 aviões de combate, 168 helicópteros e efetivo de mais de 150 mil militares. É claro que a guerra civil em curso desde 2011 está corroendo esta capacidade, mas o exército sírio poderia, se quisesse, empenhar esforços plenos para derrotar o EI. Assad não o faz. E é possível que esta decisão seja parte de um esforço estratégico mais amplo.
Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos – grupo de oposição a Assad baseado na Grã-Bretanha – metade do território da Síria está hoje sob controle do EI. As forças leais ao presidente sírio se concentram na luta contra os grupos aliados aos opositores internos. É possível que Assad propositalmente venha permitindo avanços do EI, uma vez que sabe do temor ocidental ao grupo – também temido pelos demais Estados nacionais da região.
Mesmo cambaleado diante do isolamento internacional, Assad vem conseguindo se manter no cargo de presidente da Síria. Para ele, o EI é uma oportunidade para ser reavaliado pelas potências ocidentais. Quanto maior o avanço do grupo pela Síria, maior é o temor dos Estados da região e menor a disposição das potências ocidentais para pressionar Assad. Isso porque o movimento contrário ao presidente sírio também é difuso e inspira pouca confiança à comunidade internacional.
Este raciocínio parece resumir a aposta de Bashar al-Assad para mudar as pretensões ocidentais sobre o futuro da Síria. Ele entende que a melhor maneira de se manter no comando do país é insistir na redução das alternativas internacionais, reduzindo a percepção das possibilidades de saída. Ou ele ou o Estado Islâmico. Sob o ponto de vista estritamente pragmático, Assad quer dar publicidade à velha equação de que “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”.
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