terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O Brasil no meio disso tudo

Em entrevista ao programa Fatos & Versões, da Globonews, a jornalista da Folha de São Paulo Eliane Catanhêde declarou que o presidente Lula pode vir a se envolver pessoalmente na resolução do atual conflito entre Israel e o Hamas. Segundo ela, o presidente estaria disposto a ir à região, caso em algum momento haja uma cúpula internacional para discutir a questão.

“Precisamos detectar quem quer os conflitos, colocar essas pessoas numa mesa de negociação junto com as forças políticas que têm influência sobre a Autoridade Palestina, sobretudo no Hamas e no povo de Israel, para que a gente possa começar uma conversação e encontrar uma fórmula para que eles possam viver em paz e cada um desenvolver o seu país”, disse Lula em seu programa de rádio.

No momento, a posição oficial brasileira é chamar as partes ao diálogo. Esta é a diretriz histórica do Brasil em relação ao conflito árabe-israelense. Mais do que isso, é a reafirmação do posicionamento brasileiro de buscar a resolução de conflitos internacionais através da diplomacia. Até aí, nada de novo.

Novidade mesmo foi a polarização do conflito entre os dois principais partidos do país. PT e PSDB emitiram notas oficiais com opiniões divergentes sobre o assunto. O PT pegou mais pesado. Em comunicado assinado pelo presidente da legenda, Ricardo Berzoini, o partido classificou a ação israelense de terrorismo de Estado e comparou a ofensiva às práticas nazistas. Clique
aqui para ler na íntegra.

O PSDB foi no sentido oposto. Ou melhor, entrou em choque direto com o texto petista. Citando as declarações de Berzoini, a nota assinada pelo senador Sérgio Guerra, presidente do partido, diz que o atual conflito no Oriente Médio é complexo demais para ser transformado num roteiro simplório onde o “bem e o mal são claramente identificáveis”. Clique
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Faltando pouco mais de um ano e dez meses para as eleições presidenciais brasileiras, fica absolutamente claro que as duas legendas mais importantes do país vão passar a entrar cada vez mais em conflito – somente de discursos, é claro. Em posição de desvantagem por não estar no poder há dois mandatos, é do PSDB o interesse de chamar a atenção da sociedade para as diferenças entre os partidos.

A atual crise no Oriente Médio é uma dessas oportunidades, na visão do partido. Por dois motivos: agrada aos opositores históricos do PT, que enxergam em seu discurso tendências radicais – e no campo das relações internacionais indiretamente associam o partido às posições de Hugo Chávez –, além de buscar um nicho naqueles que discordam das opiniões do presidente e do governo em relação ao Oriente Médio.

O fato é que a nota do PT causou enorme polêmica, principalmente entre a comunidade judaica brasileira.

Também em comunicado oficial, o presidente da Confederação Israelita do Brasil (CONIB) - órgão representativo das federações judaicas estaduais –, Cláudio Lottenberg, mostrou indignação e deplorou a comparação entre os exércitos nazista e israelense afirmando que os mortos no campo de extermínio “eram pessoas absolutamente desprotegidas, que não carregavam foguetes (...), não detinham conhecimento de técnicas terroristas nem se escondiam atrás de civis, de forma covarde, como os líderes do Hamas”. Clique
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Talvez por isso Lula tenha baixado o tom, numa tentativa de encerrar essa confusão. Em seu programa de rádio, citou pela enésima vez o lugar-comum de que no Brasil judeus e árabes convivem em paz. Particularmente, penso que este exemplo é uma bobagem, até porque são comparações entre situações completamente distintas. Felizmente, apesar das diferenças culturais e religiosas, judeus e descendentes de árabes são cidadãos brasileiros com os mesmos direitos e que jamais disputaram qualquer território.

Crise é oportunidade

O Brasil vem se empenhando em buscar um papel mais ativo internacionalmente. Este é o desejo do governo brasileiro, e não apenas em relação ao Oriente Médio. Neste caso específico, entretanto, a cúpula da administração Lula está diretamente envolvida. O chancelar Celso Amorim está na região e tem conversado com lideranças locais de Israel, países árabes e da própria Autoridade Palestina. A entrega de mantimentos aos palestinos, através da Jordânia, pretende mostrar que o Brasil é solidário aos civis de Gaza e também que o país quer ser levado a sério como possível mediador. Por isso, o envio do funcionário mais alto do escalão brasileiro para realizar esta doação.

Que ninguém se engane, entretanto, em acreditar que Celso Amorim poderá fazer parte da solução do problema. Isso vai mesmo ficar a cargo de Obama, Sarkozy, Mubarak e autoridades israelenses e palestinas. O Brasil quer marcar presença. Segundo Eliane Catenhêde, Amorim estaria também preparando o terreno para uma possível visita de Lula à região, no caso da realização de uma cúpula internacional. Caso isso se confirme, poderá ocorrer a primeira visita oficial de um presidente brasileiro a Israel.

5 comentários:

Anônimo disse...

eu só queria entender onde há guerra: aqui, onde morrem 100 mil pessoas/ano, ou lá?
que diabos o lula tá se metendo no umbigo dos outros?

abs, fábio

Anônimo disse...

Olá Henry!

Parabéns pelos ótimos posts acerca da crise no Oriente Médio.

Tomei conhecimento do seu Blog através da indicação do mesmo no Blog do Shor.

Ótimo trabalho!

Unknown disse...

Obrigado, Natália. Se quiser, me passe seu e-mail para que eu possa inclui-lo no mailing, ok?

Anônimo disse...

E qual o problema do Lula nisto?seria otimo p contrabalançar a posição de Chavez sobre a mesma questao.Ou por que apenas latinos, não deveriam se meter na mesma?Deixar por que trata-se de uma questao eurocentrica?

A Conib tambem tem parte na questao que envolveu o PT.Por que a mesma não se pronuncia ,sem pensar atacar o governo,quando este tem contato com federações ligadas a mesma?Em Nov aqui o PT conversou junto a Fipe.E mais, tem inumeros integrantes da comunidade judaica no PT...A acessora do Lula ,André Singer porta voz,o Tarso Genro,etc...O bastante para a Conib e aquele Abraham Goldstein da Bnai Brith não cairem no primeiro ataque feito aos mesmos como 'anti semitas',assim como tambem fez a Fisesp e inclusive por motivaçao de um senhor ligado a esta e ao PSDB (Tem cargo no governo do Serra)!Isto certo que motivou a declaraçao vinda do Berzoini.Basta averiguar!

Anônimo disse...

Oi Henry!
Segue meu e-mail para que seja incluido no mailing: nawiesen@hotmail.com
Obrigada!