terça-feira, 31 de março de 2009

Ataque a Lahore é primeira reação a plano americano

O ataque desta segunda-feira no Paquistão já tem autor e motivos claros. Pronto. Finalmente, os terroristas já podem se explicar para o ocidente. Na verdade, nem precisa. Como a especulação é sempre criativa após as ações de grupos extremistas, na maior parte das vezes basta que os líderes dessas organizações escolham nos jornais europeus e americanos a explicação que melhor convir.

Segundo o Asia Times, fontes internas da filial paquistanesa do Talibã confirmaram a autoria da invasão à academia policial próxima a Lahore. Ainda segundo o jornal de Hong Kong – um dos principais do sudeste asiático – a operação foi coordenada pela al-Qaeda, o líder do talibã paquistanês, Baitullah Mehsud, e extremistas do Punjab.

O motivo teria sido a nova estratégia anunciada por Obama na semana passada de aumentar a busca por alvos terroristas no Paquistão. Aliás, mesmo em um delicadíssimo momento econômico, o governo de Islamabad vai ter o triplo de ajuda financeira americana, passando a receber 1,5 bilhão de dólares por ano.

Mas, como gostam de dizer nos EUA, “there’s no free lunch”. Ou seja, é bom que o Paquistão comece a colaborar e use esta quantia significativa para manter o controle de todo o território. Entretanto, segundo fontes da inteligência americana ouvidas pelo Washington Post, é possível que membros dos serviços de inteligência paquistanês ainda mantenham estreita colaboração com o Talibã.

E por falar em dólares, com a nova estratégia anunciada por Obama para conter a expansão principalmente dos talibãs, as despesas vão aumentar também no Afeganistão. Se até hoje a guerra contra o terror no país custava aos cofres norte-americanos cerca de 2 bilhões de dólares por mês, a partir de agora este montante deve aumentar quase 60% neste ano.

Se serve de consolo aos contribuintes dos EUA, o esforço para estancar as atividades terroristas no Paquistão pode fazer sentido, como explicam em artigo Graham Allison e John Deutch – este último, inclusive, ex-diretor da CIA durante o mandato de Bill Clinton.

“A prioridade é impedir que o arsenal nuclear do país caia nas mãos de terroristas como Osama Bin Laden. E esta não é apenas uma situação hipotética. O ‘pai’ da bomba nuclear paquistanesa, A.Q. Khan, é hoje conhecido como o primeiro comerciante atômico do mercado negro, tendo fornecido tecnologia nuclear para a Líbia, Coreia do Norte e Irã”. 

segunda-feira, 30 de março de 2009

A Turquia no centro do mundo

A Turquia voltou às manchetes da imprensa internacional hoje por conta dos resultados das eleições municipais realizadas no país. O Partido Justiça e Desenvolvimento, do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, venceu por uma pequena vantagem na maior parte das 81 cidades turcas. 

Lá como cá – só que lá mais descaradamente. Aqui o pessoal já está mais profissionalizado – a oposição acusou a legenda do atual premier de corrupção. De fato, o escritório central de Erdogan distribuiu aos eleitores máquinas de lavar e outros eletrodomésticos. Bem melhor do que dentadura. 

Mas já no começo de abril Ancara vai receber Obama, evento que demonstra a importância da Turquia na geopolítica atual. Antes temido por sua enorme população – hoje na casa dos 70 milhões, uma enormidade para os padrões europeus -, o país foi beneficiado por algumas mudanças nos parâmetros internacionais. 

Além da esperada, discutida e polemizada adesão à União Europeia – que deve acontecer até 2013 –, com o terrorismo fundamentalista islâmico no topo da agenda mundial, a Turquia se tornou o principal aliado muçulmano e democrático dos Estados Unidos. 

Com a mudança do foco para o Oriente Médio e o Sudeste Asiático, os turcos entraram de vez na lista de visitas obrigatórias da diplomacia americana. 

Jim Arkedis, diretor do Projeto de Segurança Nacional do Instituto de Política Progressista de Washington, cita os objetivos em que a equipe de Obama irá necessitar de aproximação e efetiva influência turca. 

“fornecimento de soldados para o combate no Afeganistão; negociações com o Irã; mediação de diálogos entre Israel e países árabes; exportação de petróleo da região do Cáspio; e prover uma rota de fuga militar do Iraque”, diz. 

Mas para ter sucesso nessas demandas, Obama vai ter que se virar para manter um compromisso de campanha. O presidente americano disse que não abriria mão de chamar de genocídio a morte de 1,5 milhão de armênios pelos turcos em 1915. De fato, foi um genocídio mesmo, sem dúvida.

O problema é que este assunto é um tabu na Turquia até hoje, já que o governo de Ancara se recusa a usar o termo “genocídio” porque coloca o massacre de armênios na conta da confusão causada pelo fim do império otomano. 

Mais um problema para Obama resolver. 

sexta-feira, 27 de março de 2009

Operação secreta israelense no Sudão manda recado ao Irã

A mídia brasileira não deu bola a uma das notícias internacionais mais espetaculares – no sentido original do termo – dos últimos termpos. Segundo reportagem da rede de televisão americana CBS, Israel teria efetuado dois ataques aéreos a comboios no Sudão em janeiro e fevereiro deste ano. Os caminhões estariam a caminho da fronteira com o Egito e transportariam armas iranianas para o Hamas, na Faixa de Gaza.

O primeiro-ministro Ehud Olmert não negou a informação. Tampouco confirmou. Mas a resposta foi bastante clara e talvez pretenda legitimar suas ações, como que para dar coerência às decisões militares de seu governo.

“Nós atuamos em qualquer lugar onde possamos atingir a infraestrutura do terror – seja mais perto, seja mais distante”, disse.

Para não restar dúvidas, completou: “não há razão para entrar em detalhes, mas todos podem usar a imaginação. Aqueles que precisam saber sabem. Aqueles que precisam saber sabem que não há onde Israel não possa agir”.

Um político sudanês ouvido pelo Haaretz e que preferiu não se identificar confirmou o tráfico de armamentos na região.

“Todo mundo sabe que eles (os iranianos) estão contrabandeando armas para o sul do Egito”, disse.

Ao mesmo tempo, os EUA negaram qualquer envolvimento com a ação militar. Aparentemente, foi um recado diretamente de Israel para o Irã. Olmert deixa o governo com mais uma missão secreta revelada tempos depois pela imprensa internacional, não por veículos israelenses.

O jornalista Amos Harel traça um breve histórico das operações anteriores realizadas no mandato do atual primeiro-ministro:

“A destruição do complexo nuclear da Síria; o ataque ao depósito de mísseis Fajr na primeira noite da Segunda Guerra do Líbano; os bombardeios no Sudão e os assassinatos do alto comandante do Hezbolah Imad Mughniyeh e do general sírio Mohammed Suleiman”.

Para o jornalista, existe ainda uma explicação mais elaborada para os ataques no Sudão.

“A decisão de atacar a 1.400 quilômetros de distância foi tomada porque existe a crença de que o Irã está prestes a injetar uma significativa quantidade de armas em Gaza, possivelmente foguetes Fajr de 70 quilômetros de alcance”, explica.

Com isso, Tel Aviv passaria a ser alvo do Hamas. 

quinta-feira, 26 de março de 2009

Presidente temporário da UE põe lenha na fogueira do G20

As declarações do atual presidente da União Europeia, o tcheco Mirek Topolanek, de que o pacote de estímulo econômico americano é “um caminho para o inferno” e que vai “minar a estabilidade do mercado de finanças global” está sendo tratada como um constrangimento. A imprensa americana prefere considerá-las como um sinal da falta de liderança na UE. Acho que ambas as impressões não são excludentes.

Trata-se sem dúvida de um momento inadequado para fazer esta “gentileza” com os Estados Unidos. Afinal, daqui a uma semana estarão todos juntos em Londres, na reunião do G20. Além do mais, serve para reafirmar mais profundamente as enormes diferenças entre europeus e americanos (com o apoio da Grã-Bretanha, vale ressaltar).

Obama e sua equipe econômica creem que somente mais estímulos fiscais e financeiros podem salvar o mundo da crise. A Europa continental, capitaneada por Angela Merkel, chanceler da Alemanha, força a barra para uma maior regulamentação do mercado.

Mesmo com diversos líderes europeus negando que as declarações do atual presidente do bloco representam a opinião mesmo da UE ou dos países individualmente, o ambiente carregado já está criado.

Para piorar, o presidente Topolanek vai receber Obama em Praga para uma cúpula de discussão das relações entre UE e Estados Unidos.

Dentro de casa, a situação do tcheco é muito ruim. Na última terça-feira, a coalizão que sustentava seu governo caiu. Para a imprensa internacional, suas declarações são um esforço pessoal para tentar mostrar força num momento de crise política interna.

Quanto à questão da falta de liderança na Europa, o continente paga pela rejeição irlandesa do Tratado de Lisboa, em junho passado. O documento – que precisa de aprovação unânime – estabelece a presidência permanente da UE, como se fosse um país, além da nomeação de um ministro das relações exteriores.

Para piorar, as discussões diretas entre República Tcheca e Estados Unidos envolvem um assunto bastante polêmico: a instalação do escudo de mísseis, proposta ainda do governo Bush. Na teoria, as armas deveriam ficar em território tcheco. Mais pimenta para a discussão que promete já ser acalorada na semana que vem.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Uma mão lava a outra em Israel

E finalmente parece que Israel vai ter um governo. Depois de muita disputa e articulação, Benjamin Netanyahu deve ser mesmo o próximo primeiro-ministro, após convencer o Partido Trabalhista a se unir à coalizão.

Numa manobra envolvendo encontros noturnos secretos com o líder do partido, Ehud Barak, Bibi convenceu-o a levar a decisão para ser votada entre os delegados. Mesmo com muita discussão, discursos inflamados e uma série de acusações, a maioria optou por fazer parte do próximo governo.

Se entre os ideólogos do Trabalhismo israelense a decisão causa um racha – afinal, como um partido de esquerda pode se aliar ao de direita e ainda por cima legitimar o governo Bibi – a coalizão pode ser um alívio. Até para a Casa Branca.

Aliás, esse pode ter sido um dos principais motivos para Netanyahu ter dado pastas importantes a trabalhistas. Barak continuará ministro da defesa, e seu partido receberá o cobiçado Ministério de Indústria, Trabalho e Comércio, além de Assuntos Sociais, Agricultura e mais um ministério sem pasta.

O prestígio dado por Bibi a Barak está causando ciumeira até mesmo no próprio Likud – partido de Netanyahu.

Importante mesmo foram as palavras de Barak, que se despiu de argumentos ideológicos para citar a responsabilidade suprapartidária de governar Israel. E nesse caso é isso mesmo, embora em todo o lugar do mundo os políticos ambicionem o poder, pura e simplesmente.

Como o país atravessa um momento-chave, é preciso abrir mão de determinadas opções individuais para continuar a existir. Neste caso, Bibi prefere ter os Trabalhistas com mais força aos partidos religiosos. Barak obviamente quer permanecer no poder. Da mesma forma, Bibi precisa mostrar a Obama que seu governo será mais suave nas negociações de paz com os palestinos do que o resto do mundo imagina.

É melhor contar com trabalhistas nas fileiras do governo a entregar ministérios de primeiro escalão a partidos ortodoxos – que naturalmente inviabilizariam as negociações com os palestinos, além de estarem longe de fazer a cabeça de Bibi em assuntos importantes, como a política educacional, por exemplo.

Uma mão lava a outra neste caso na nova relação estabelecida entre o Partido Trabalhista e o Likud.

terça-feira, 24 de março de 2009

As atuais complicações da Otan

Num momento em que o Paquistão quase entra em colapso e a guerra do Afeganistão se mostra mais complicada do que aparentava ser, a Otan volta a ser considerada um organismo multilateral importante. Desde a campanha do Kosovo, em 1999, a aliança militar entre EUA e Europa não entrava nas discussões internacionais com tanta força.

Com a decisão do presidente Nicolas Sarkozy de reintegrar a França ao comando militar da Otan depois de 43 anos, as articulações e o debate se tornaram mais acalorados.

A Otan passou a ter um papel mais importante justamente no final do século passado (o vinte, não custa lembrar) e início deste. Justamente pela guerra nos Bálcãs e também por ter suas forças convocadas para a invasão do Afeganistão.

E são esses os motivos fundamentais que levaram muitos opositores e partidários de Sarkozy a criticar o reingresso total na organização.

Como as campanhas militares são – e com motivo, diga-se de passagem – plenamente identificadas com objetivos político-militares americanos, os franceses questionam a aliança. Para muitos, é como se o país assinasse embaixo das decisões altamente controversas levadas adiante pelo então presidente Bush.

Na França, inclusive, chegou-se a criar um termo específico para designar esta postura política: “atlanticismo”.

“Muitos criticam a decisão sob o argumento de ela limitar a liberdade de ação francesa num mundo dominado pelos Estados Unidos. Alguns dizem acreditar que (a decisão) vai minar as chances europeias de desenvolver sua própria capacidade militar”, diz reportagem publicada no The New York Times.

Colocada de lado antes de 1999, relembrada depois, em 2001, a Otan voltou de vez às pautas. Afinal, a Rússia agora se sente ameaçada pelo ingresso da Polônia, antiga aliada e signatária do Pacto de Varsóvia, aliança militar de contraposição liderada pela URSS na época da Guerra Fria.

Além deste problema – ninguém quer melindrar Moscou –, existe agora uma enorme complicação diplomática para eleger o novo secretário-geral da organização, que passa a exercer o cargo a partir de julho deste ano.

A maior parte de seus 26 membros apoia a candidatura do primeiro-ministro da Dinamarca, Anders Fogh Rasmussen. O problema é que a decisão precisa ser unânime.

Mas a Turquia não concorda com a escolha, devido ao histórico de declarações polêmicas do dinamarquês. Em 2003, ele teria dito que não acreditava que o país muçulmano poderia se tornar um membro pleno da União Europeia.

Além disso, foi um jornal da Dinamarca que provocou a ira do mundo muçulmano ao publicar charges do Profeta Maomé, em 2006.

Como possivelmente a Otan deverá se deparar com maiores dificuldades em Afeganistão e Paquistão, entrar em choque com o mundo islâmico não é considerada uma decisão inteligente.

E assim se configura mais uma dor de cabeça para a administração Obama. Afinal, caberá aos EUA negociar com os turcos. Para os americanos, o nome que causará menos atrito é o de Peter MacKay, ministro de defesa do Canadá. Parece mais uma piada com o vizinho de cima, alvo de deboche histórico dos americanos por ser considerado irrelevante.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Funes paz e amor

A vitória de Mauricio Funes nas eleições presidenciais de El Salvador na semana passada é mais uma evidência da guinada à esquerda que vem ocorrendo na América Latina. Com uma margem apertadíssima de pouco mais de dois pontos de vantagem sobre o concorrente Rodrigo Ávila – do conservador Arena. Aliás, um nome que remete a uma lembrança amarga para os brasileiros -, as primeiras declarações do presidente eleito tiveram como objetivo acalmar críticos, mercado, investidores e a imprensa internacional.

Não. El Salvador não será uma nova Venezuela, disse o ex-jornalista hoje político e que chegou a ser correspondente da CNN no país. Ele também negou intenções de reverter privatizações e deixou claro que promoverá boas relações com os Estados Unidos.

Afinal, um quarto dos salvadorenhos vive e trabalha nos EUA, sendo que 18% do Produto Interno Bruto (PIB) do país são de remessas de dinheiro enviadas de território americano.

Funes é filiado à Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), grupo guerrilheiro transformado em partido político após os acordos de paz de 1992 que puseram fim à guerra civil que deixou cerca de 75 mil mortos e mais de 8 mil desaparecidos.

O presidente eleito de El Salvador ingressou na política já no período do pós-guerra.

Casado com uma brasileira, Funes escolheu o Brasil como destino de sua primeira viagem após a vitória. O presidente Lula é citado pelo jornalista como um modelo da esquerda responsável que será seguido por seu governo.

Mais do que isso, Funes vem se mostrando um publicitário inesperado dos ganhos obtidos pela administração Lula. Aliás, as condições políticas antes da vitória da esquerda em El Salvador lembram bastante o período eleitoral brasileiro em 2002.

O partido conservador tentou de todas as formas criar um clima de pânico, citando a ameaça à propriedade privada como uma das plataformas do candidato de esquerda.

Lula sai fortalecido involuntariamente das eleições em El Salvador. Mais uma vez, a imprensa internacional destaca o papel do presidente brasileiro na consolidação de um governo de centroesquerda responsável, democrático e que honra compromissos com o capital externo.

“A esquerda na América Latina já não pode ser descrita numa única frase. Na Venezuela, o presidente Hugo Chávez combina populismo econômico e autoritarismo, enquanto os governos de Brasil e Chile adotam políticas amistosas de investimento próximas das sociais-democracias europeias”, diz reportagem publicada no The New York Times.

sexta-feira, 20 de março de 2009

EUA e Israel tentam comover o Irã

Estados Unidos e Israel mandaram mensagens positivas ao Irã por conta do feriado de Noruz, que marca o começo do ano novo persa. Aparentemente descoordenadas entre si, o recado em vídeo de Obama e a mensagem radiofônica do presidente israelense, Shimon Peres, são semelhantes. Ambos os países perceberam que é chegada a hora de uma nova abordagem à República Islâmica. Entretanto, os destinatários das mensagens americana e israelense são distintos e dizem muito sobre a atual política externa de ambos os países.

Enquanto Washington busca claramente uma aproximação com Teerã e tem no estabelecimento de um canal de comunicação direto com os iranianos uma plataforma política, a mensagem israelense parece demonstrar uma vontade individual do presidente Peres.

Até porque os últimos acontecimentos no Oriente Médio parecem ter mudado a compreensão de parte do governo de Israel sobre a imagem internacional do país. A recente divulgação dos relatos pessoais dos soldados que participaram da última ofensiva em Gaza diminuiu o apoio internacional ao Estado Judeu. Peres acredita que é chegada a hora de mudar essa percepção. Israel não pode contar apenas com o suporte americano.

Mas, como a aproximação com o Irã está longe de ser uma política oficial de Jerusalém, Peres agiu por conta própria. Falando algumas frases em persa, o presidente israelense foi mais estomacal que estratégico. Além disso, preferiu se dirigir ao povo iraniano, contestando também as diretrizes da administração de Teerã.

“Existe grande taxa de desemprego, corrupção, drogas e um descontentamento geral. Vocês não podem alimentar seus filhos com urânio enriquecido (...). Sugiro que não deem ouvidos a Ahmadinejad. É impossível preservar uma nação inteira incitando o ódio. O povo vai se cansar disso”, disse.

Não acho que seja uma tática eficiente. Até porque só vai colocar mais lenha na fogueira, já que o governo iraniano vai usar o discurso argumentando que os israelenses estão tentando manipular o povo do Irã jogando-o contra seus líderes.

A estratégia americana me parece mais clara. Pode até não sensibilizar Ahmadinejad e o líder supremo da revolução, Ali Khamenei, mas coloca os EUA na posição daquele que estende a mão ao diálogo. E foi essa a mensagem de Obama. Clara, direta e firme:

“Os Estados Unidos desejam que a República Islâmica do Irã ocupe seu lugar de direito na comunidade das nações. Vocês têm este direito. Mas ele vem acompanhado de responsabilidades reais. Este lugar não pode ser alcançado através do uso do terror ou das armas, mas por meio de ações pacíficas capazes de demonstrar a grandiosidade do povo e da nação iranianas. E o que mede este grandiosidade não é a capacidade de destruir, mas a já demonstrada habilidade de construir e criar”, disse.

Khamenei não respondeu diretamente à oferta de paz americana, preferindo ressaltar os recentes avanços iranianos, como a construção da primeira usina nuclear do país e o lançamento do satélite integralmente fabricado no Irã.

A posição oficial do país é que, antes de qualquer entendimento, os EUA precisam se desculpar pelo golpe de 1953, quando, junto com a Grã-Bretanha, conspiraram para a derrubada do primeiro-ministro Mohammed Mosadegh.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Trapalhadas do presidente da Assembleia Geral da ONU

Nos últimos anos houve muitas críticas a atual função da ONU. Na verdade, já existe quase um consenso internacional de que o papel da organização, criada sobre os escombros da Segunda Guerra Mundial, precisa ser revisto.  Mas, no momento em que os Estados Unidos mostram disposição para orquestrar uma nova política externa, o presidente da Assembleia Geral da ONU decide andar para trás.

Miguel d’Escoto Brockmann é um padre católico que foi ministro das relações exteriores da Nicarágua entre 1979 e 1990. Suas declarações polêmicas já são conhecidas e ele é considerado um dos antiamericanos de maior poder no ocidente. Na década de 1980, chamou o presidente dos EUA Ronald Reagan de açougueiro.

Nesta semana, durante conferência de imprensa, ele – que é o presidente da Assembleia Geral da ONU, não custa repetir – disse estar comovido com o grande respeito com que o Irã trata seus vizinhos. Também declarou que Mahmoud Ahmadinejad tem sido injustamente demonizado no ocidente.

Para completar, d’Escoto disse que considera racista a recente condenação do presidente sudanês Omar al-Bashir pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).

Para justificar toda a sua “comoção” com o regime iraniano, ele alegou desconhecer que Ahmadinejad havia pedido, por exemplo, a destruição do Estado de Israel, além de ter promovido um concurso de caricaturas com o objetivo de ironizar o Holocausto.

Vale lembrar que a imprensa internacional cansou de repercutir as declarações do presidente iraniano, sendo que Ahmadinejad já pediu que Israel fosse “varrido do mapa” até mesmo em pronunciamento na própria ONU.

Em relação ao Sudão, d’Escoto tampouco mencionou o massacre de civis ou a expulsão das agências de ajuda internacionais em retaliação à decisão do TPI.

Adotando hoje posições bastante firmes contra EUA e o ocidente, um dado curioso da biografia de d’Escoto é que ele fez parte da folha de pagamento da CIA quando morava no Chile na década de 1980. Outro fato interessante é que, como padre, foi publicamente repreendido durante visita do papa João Paulo II a Manágua, em 1983.

Suas declarações venais são movidas pelo ódio puro ao ocidente. O problema é que ele é simplesmente o presidente da Assembléia Geral da ONU. E, num momento em que a organização busca reafirmar o propósito de sua existência, girar gratuitamente a metralhadora da ignorância não vai levar as Nações Unidas a lugar algum.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Como o Hamas ganhou mais uma sem fazer esforço

Não deu em nada a negociação indireta entre Hamas e Israel para a libertação do soldado sequestrado Gilad Shalit. As dificuldades envolvendo as conversações mostram posições bastante antagônicas entre as partes. Israel corre contra o tempo, enquanto o Hamas não esconde como a situação lhe parece confortável. E é mesmo.

Os israelenses enxergam mais este diálogo indireto com o Hamas como um incômodo conceitual em sua essência. Não é segredo para ninguém que desde sempre as autoridades do Estado Judeu se recusam a dialogar com terroristas. A não ser que eles deixem a luta armada de lado – como Arafat – e aceitem a existência de Israel.

Não é o caso do Hamas. Com ações como o sequestro do soldado e o lançamento de mísseis sobre o sul de Israel, o grupo busca ascensão e legitimidade política. O simples fato de forçar os israelenses a um acordo já é uma vitória.

Mais ainda, o primeiro-ministro Ehud Olmert declarou que as negociações foram interrompidas porque “há uma linha vermelha que não pode ser ultrapassada”. Ele se refere à demanda apresentada pelos palestinos de libertação de 450 prisioneiros que estão em cadeias israelenses. Israel aceitou a libertação de 320 deles, mas se recusa a dar liberdade àqueles envolvidos em alguns dos mais sangrentos atentados terroristas cometidos em cafés e ônibus durante a Segunda Intifada, iniciada em 2000.

Uma fonte ouvida pelo jornal Haaretz informa o que teria acontecido pouco antes do encerramento das negociações no Cairo.

“Eles apresentaram demandas de alguém que não pretende encontrar uma solução. Os novos pedidos apareceram de repente e havia uma grande discrepância entre eles e o que tinha sido discutido no passado”, diz.

Para o Hamas, se nada for acordado – como sinalizam os recentes acontecimentos – sobre a libertação de Shalit e uma eventual libertação de prisioneiros palestinos, nada muda. Simplesmente, o grupo não acumulará novas derrotas com isso. Pelo contrário. Comunicados emitidos pelo Hamas e publicados em todos os grandes veículos internacionais procuram culpar Israel por não ceder mais.

Por outro lado, a opinião pública israelense exige uma resposta do governo. A situação ainda se configura como mais uma dor de cabeça para o próximo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que certamente gostaria de iniciar o mandato com este problema resolvido.

Para o jornalista Yossi Melman, o processo de negociação está sendo conduzido de maneira equivocada desde o começo. Ele acredita também que Israel sai perdendo de qualquer maneira.

“Libertar assassinos só estimula mais assassinatos. As atuais conversações com o Hamas contradizem outra reivindicação: de que Israel não negocia com terroristas”, diz.

terça-feira, 17 de março de 2009

Rússia adota discurso ameaçador. E daí?

Num comunicado eloquente, o presidente russo, Dmitri Medvedev, em mais um dos rompantes que ditam a política externa do país, acusou a OTAN de expansionismo e ordenou um rearmamento militar em larga escala. Segundo ele, o arsenal nuclear russo também deverá ser renovado a partir de 2011. A informação é da AFP repercutindo as agências locais.

Declarações como esta sinalizam dados importantes: 1) a Rússia permanece na contramão da tendência mundial de evitar confrontos entre Estados; 2) o discurso inflamado ainda é uma forma de jogar problemas internos para debaixo do tapete; 3) o ocidente precisa definir com urgência uma abordagem nova e criativa capaz de manter o mínimo de estabilidade com os russos.

Num momento em que o desemprego na Rússia atinge a perigosíssima marca de 17%, a declaração de Medvedev soa como um pedido de socorro disfarçado. Além da falta de trabalho que agrava a situação de crise instalada, o país sofre também com a falta de alimentos.

Mas nem o encontro entre a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, e o chefe de diplomacia do Kremlin, Serguei Lavrov, em Genebra, há menos de duas semanas, foi capaz de amenizar o desejo de grandiosidade da dupla Putin-Medvedev.

E as intenções bélicas de Medvedev quebram a lógica de expansão diplomática de Obama. Washington ofereceu a interrupção da instalação do escudo de mísseis na Europa Oriental em troca da retirada do apoio de Moscou ao Irã. Não adiantou, ao que parece, apesar das brincadeiras envolvendo o botão de reset dado de presente a Lavrov como símbolo de um recomeço das relações russo-americanas.

De fato, vale acrescentar que as declarações do presidente russo podem ser apenas a repetição de um discurso velho e vazio. Simples nostalgia.

O Conglomerado Industrial Russo (ROT, sigla em russo) está quebrado. Ela é a companhia que detém o monopólio de toda a indústria de defesa do país. Seu presidente, Sergei Chemezov, mais um amigo de Vladimir Putin (FOV, como são conhecidos os asseclas do primeiro-ministro), declarou recentemente que 30% da defesa russa estão à beira da falência.

Mais da metade das empresas produtoras de munição e explosivos estão dentre as que correm o risco de falência. Segundo dados publicados pela revista americana The Weekly Standard, das 426 ROT, 340 somam um débito de 17,5 bilhões de dólares.

Medvedev quer fazer barulho. Mas não está em condições de bancar nada. Muito menos um confronto militar com a OTAN. 

segunda-feira, 16 de março de 2009

Batalha Atlântica no G20

O encontro que reunirá as 20 maiores economias do planeta, em 2 de abril, na Inglaterra, provoca polêmica desde já. No centro do debate, além da solução pouco provável para a crise, uma divergência conceitual entre Europa – capitaneada pela Alemanha – e Estados Unidos.

Antes de entrar no mérito da questão, acho que vale citar a opinião abordada neste domingo no programa Painel, da Globonews, apresentado por William Wack. Até que ponto o G20 é uma organização multilateral que tem apresentando soluções criativas ou abordado pontos de real interesse para seus membros.

Fica claro que as reuniões só assumem um tom realmente importante em momentos como este: quando o prejuízo originado por uma crise cuja responsabilidade é exclusivamente dos países desenvolvidos será dividido entre aqueles que pouco ou nada tem a ver com ela – como é o caso do Brasil, por exemplo.

Mas a presença do presidente Lula é fundamental. A posição de Brasília já foi apresentada durante o encontro com Obama. O país vai se manter contrário ao protecionismo e, como foi bem lembrado durante o programa Painel, Lula assumiu a posição de chefe de um Estado sério, que não esteve em Washington a passeio, mas sim para pensar em soluções para a crise.

Voltando ao encontro do G20, a posição dos Estados Unidos entra em rota de colisão com o pensamento dos demais membros. Para Obama, os europeus – especialmente a Alemanha, maior economia do continente – devem fazer mais para estimular o crescimento, de preferência investindo bilhões de euros em pacotes econômicos.
Por outro lado, a chanceler alemã, Angela Merkel, tenta articular uma grande aliança europeia que apresentará como uma das principais soluções para a crise uma maior regulamentação do sistema financeiro global. Após encontro com o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, elogiou a decisão tomada por Suíça, Áustria e Luxemburgo – além de outros países – de cooperar contra a evasão fiscal e também facilitar o acesso a informações bancárias.

“O problema não é gastar mais dinheiro, mas colocar em funcionamento formas de regular o mercado financeiro”, disse.

Este vai ser o tom da maior discussão do encontro do G20.

O jornal inglês The Sunday Times publicou um editorial que defende o fim do protecionismo como medida fundamental a ser tomada durante a reunião – algo que interessa profundamente ao Brasil e é de fato uma bandeira inteligente da política externa de Lula.

“Não se trata de chegar a um acordo e redigir um comunicado e depois voltar para casa e assinar medidas ainda mais protecionistas. O encontro em Londres deve se mobilizar contra o protecionismo de verdade. Do contrário, a recessão pode se transformar em uma nova depressão mundial”, escreve.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Novas diretrizes em tempos de mudança

Notícia publicada no The Wall Street Journal informa que os primeiros contatos diretos entre oficiais americanos e iranianos deverão acontecer no final deste mês, na Holanda, durante uma conferência sobre o Afeganistão. O Irã tem todo o interesse de tomar parte da discussão, já que quer participar da busca por uma solução para o tráfico de ópio e heroina do país vizinho. Aos poucos, os EUA mostram uma nova e surpreendente política de inclusão dos regimes inimigos como forma de diplomaticamente convencê-los a se alinhar aos interesses ocidentais. Não deixa de ser inteligente.

Ainda segundo o jornal, existe o consenso de que os EUA devem buscar o diálogo com o Irã antes mesmo das eleições de junho na república islâmica, mesmo que esta posição reforce o presidente Mahmoud Ahmadinejad.

Mais ainda, há por parte do governo Obama a intenção de abrir um caminho de diálogo diretamente com o líder supremo da revolução iraniana, o aiatolá Ali Khamenei.

O colunista do Forward Jewish Daily, J.J. Goldberg faz uma compilação interessante do que chama de “revolução” na política externa promovida por Washington somente entre os dias 2 e 7 de março:

O envio de dois funcionários de alto escalão para Damasco com o objetivo de discutir as relações com a Síria; o anúncio da intenção de convidar o Irã para diálogos multilaterais sobre o Afeganistão; a resposta favorável à oferta turca de mediar contatos com Teerã; o apoio à decisão britânica de dialogar com o braço político do Hezbolah; a prontidão para negociar com membros do talibã; e a disponibilidade de voltar atrás no projeto de instalação do escudo antimísseis na Europa oriental.

Ufa! Realmente é muito trabalho para um espaço de apenas cinco dias. O conceito de mudança proposta durante toda a campanha começa a tomar forma. E promete ir além.

“É parte de uma tendência natural entre os democratas de buscar uma política global capaz de promover compromissos com os inimigos. Não será surpresa se de repente houver o diálogo com o Hamas. Os americanos vão negar, mas, quanto a isso, vamos assistir a mudanças graduais”, diz Steven Spiegel, especialista em Oriente Médio da Universidade da Califórnia.

quinta-feira, 12 de março de 2009

A violência do tráfico no México e suas relações com os EUA

A violência que acompanha o tráfico de drogas se espalhou de uma maneira incontrolável pelo México. Este é um problema que afeta toda a América Latina, mas recebe maior atenção por lá por conta da proximidade com os Estados Unidos. Se é sorte ou azar isso me parece ser outra questão. Mas se sabe que há tempos o governo dos EUA está de olho no problema. Tanto que Bush chegou a providenciar um relatório sobre o tráfico de drogas no país vizinho. O estudo foi liberado somente neste ano e apresenta dados importantes.

Somente no ano passado houve mais de 6 mil mortos na batalha entre autoridades mexicanas e traficantes. Apenas no mês de janeiro deste ano, já morreram mil pessoas.

Num processo semelhante ao aplicado por quadrilhas brasileiras, os grandes chefões do tráfico mexicano têm um lucro astronômico. O documento do governo norte-americano estima que as quadrilhas recebam entre 50 e 70 milhões de dólares em pagamentos por “proteção” concedida pelos bandidos a fazendeiros. Além disso, entre 200 e 400 milhões de dólares vêm de “impostos” obtidos no processamento e no tráfico das drogas.

A simbiose entre EUA e México no mundo do crime é fundamental para a manutenção e o sucesso da indústria.  O México é apontado como o principal ponto de entrada para a cocaína nos Estados Unidos e também origem de boa parte da heroína, maconha e meta-anfetamina consumida pelos norte-americanos.

O problema está longe de ser superado, e os mexicanos continuarão a morrer. A culpa obviamente é dos bandidos, mas parte da solução poderia passar pelo congresso americano. Poderia, mas não vai acontecer.

Ao contrário do que acontece no Brasil, onde o tráfico obtém armamento por meio de remessas ilegais do exterior ou o faz roubando paióis da polícia ou das forças armadas, as quadrilhas mexicanas simplesmente adquirem as armas legalmente. E nos Estados Unidos. A legislação americana permite a compra de armamento e munição por qualquer pessoa em boa parte dos estados do sul do país.

Segundo o Los Angeles Times, cerca de 6 mil negociadores americanos no Texas, Novo México e Califórnia proveem pistolas e rifles às quadrilhas do país vizinho. Para o colunista Timothy Rutten, a solução seria relativamente simples: deixar de tratar o vício de drogas nos EUA como um problema de polícia e, ao mesmo tempo, impedir a venda legal de armas responsável por gerar violência no México, alimentar a indústria do tráfico e, no final das contas, inundar os Estados Unidos de droga.

“Se os americanos estão realmente preocupados quanto às consequências impostas pelos narcotraficantes mexicanos, então precisamos fazer sérias e duras perguntas sobre nossas próprias ilusões políticas e culturais”, diz Rutten.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Atentados na Irlanda do Norte não ameaçam os acordos de paz

Depois do ataque do IRA Autêntico, a Irlanda do Norte novamente voltou a ser palco de mais um ato de violência. Desta vez, o IRA da Continuidade reivindicou a autoria do assassinato de um policial apenas 48 horas depois do atentado de domingo. A dúvida é se uma nova onda de mortes inspirada pelo nacionalismo irlandês vai tomar conta do país.

Num mundo globalizado em todos os sentidos, não custa tentar traçar um paralelo entre os acontecimentos desta semana e os promovidos pelas demais organizações de inspiração terrorista. No caso, os fundamentalistas islâmicos. E o que o IRA verdadeiro ou o seu continuísmo que se declara autêntico tem a ver com isso? A resposta é: nada.

Não faz tempo, escrevi um texto sobre a possibilidade de a crise financeira ser o único motivo que vejo ser capaz de detonar uma guerra entre países ocidentais. Continuo a pensar assim. Pelo simples fato de ao longo dos últimos anos – mais precisamente desde 1991, com o fim da URSS – as ideologias que já mobilizaram corações e mentes do ocidente terem dado lugar ao pragmatismo individual da busca pelo sucesso econômico.

E soa curioso que os atentados na Irlanda, as manifestações na Grécia e na França possam ocupar o vazio deixado pela própria crise financeira. Longe de desemprego, insatisfação com demissões ou com a ajuda de governos a instituições bancárias serem capazes de reacender algum tipo de sonho igualitário. Mas fica claro que somente quando existe a ameaça aos preceitos básicos de existência – como ocorreu na Ucrânia na última semana – a população se levanta para protestar e mesmo articular atos de violência contra o Estado.

Reportagem publicada pela agência de notícias AP repercute a reação do ex-comandante do IRA Martin McGuiness que mostrou solidariedade ao chefe de polícia da Inglaterra após o ataque da noite de segunda-feira. Ele pediu também para que as comunidades católicas não deem abrigo aos dissidentes que insistem no uso da violência. E este é um ponto importante para diferenciar o terrorismo fundamentalista islâmico das ações do IRA.

Ao mesmo tempo em que o IRA tinha objetivos políticos claros, os diferentes grupos terroristas fundamentalistas islâmicos não o têm. Se o IRA topou ir à mesa de negociações é porque sabia que poderia abrir mão aqui e ali de algumas das reivindicações. Terminou por aceitar um governo conjunto com os protestantes. Não ganharam. Mas não perderam. O terrorismo fundamentalista tem na morte seu principal objetivo. Não existe forma de negociar nesses termos.

Nada de errado quando Obama nomeia George Mitchell como enviado especial dos Estados Unidos para o Oriente Médio. Mas é absolutamente desimportante o fato de ele ter tido sucesso como articulador do acordo da Sexta-feira Santa, em 1998, na Irlanda do Norte. A natureza dos conflitos é bastante distinta. Invariavelmente, Mitchell será obrigado a lidar com fundamentalistas islâmicos em sua missão na região. Mas é impossível convencer alguém a debater soluções quando simplesmente se utiliza de desculpas políticas para legitimar a busca pela maximização da destruição e do ódio.

Ao contrário da Irlanda do Norte, onde o IRA usava a violência – sempre condenável – como forma de alcançar a independência. Por isso, creio que somente se vinculado ao fracasso econômico, esses grupos podem alcançar algum sucesso em reacender o apoio comunitário a sua luta.

Por enquanto, creio que na Irlanda do Norte tudo permanecerá na mesma. O Sinn Fein continuará a ratificar decisões políticas e nenhuma cópia do IRA encontrará espaço para se articular a ponto de retroceder com os acordos já assinados e postos em prática.

segunda-feira, 9 de março de 2009

IRA Autêntico testa estabilidade do processo de paz na Irlanda do Norte

E na sexta-feira eu cometi o erro de lembrar o conflito na Irlanda. O assunto era Darfur, mas, como numa previsão trágica, no domingo dois soldados ingleses pediram uma pizza e acabaram mortos num ataque que procura desestabilizar o governo de união que tomou posse há cerca de dois anos, após quase 30 anos de violência religiosa.

Orgulhosamente praticado pelo IRA Autêntico – dissidência do IRA, grupo que abandonou a luta armada em 2005 -, o atentado não encontrou resposta popular ou política. Muito pelo contrário. Houve condenação unânime por parte de Gerry Adams e Martins McGuinness, líderes do Sinn Fein, o antigo braço político do IRA.

Apesar de o ataque estar sendo tratado como surpreendente, a Irlanda ainda está longe de ser um exemplo de tranquilidade absoluta. Nos últimos 17 meses, dissidentes republicanos foram responsáveis por 15 ataques a bomba ferindo oficiais da polícia.

A novidade dos acontecimentos de domingo fica por conta de ter sido o primeiro caso de morte de soldados britânicos na Irlanda do Norte desde 1997.

O IRA Autêntico é descrito como um grupo que conduz uma campanha marginal cujo alvo principal é a polícia norte-irlandesa. Segundo fontes policiais ouvidas pelo The New York Times, a organização possui poucos atiradores, um orçamento limitado e armamento deficiente.

Apesar da rápida resposta por parte das autoridades, o temor de novos ataques não deve ser totalmente afastado. Principalmente porque em meio à crise financeira não vão faltar “motivos” para "justificar" o impulso nacionalista. Desemprego, poder de compra reduzido e falta de oportunidades para os jovens que ingressam no mercado de trabalho costumam funcionar como poderosos combustíveis para a repetição de slogans de protesto e, muitas vezes, violência.

E aí entra uma das questões mais importantes: o apoio da população. Um atentado nas dimensões como o deste de domingo pode servir como um teste de popularidade para o IRA Autêntico, como lembra o colunista do The Guardian Peter Preston.

“Este é um assunto da Irlanda do Norte; do Sinn Fein e do povo. Se não houver nenhum lugar para se esconder, apoio ou cobertura da comunidade, aí as células que cometeram este ataque vão se enfraquecer. A palavra crucial é justamente ‘se’”, diz.

sexta-feira, 6 de março de 2009

O constrangedor silêncio brasileiro sobre Darfur

As autoridades da área de política externa brasileira preferem se manter em silêncio sobre a condenação do presidente sudanês Omar al-Bashir pelo Tribunal Penal Internacional por conta do massacre de Darfur. A complacência do Brasil mostra o quanto a diplomacia do país é regida por determinações incoerentes. Para azar de Brasília, a decisão do TPI ocorre pouco mais de um mês depois de o PT ter usado termos fortes – como terrorismo e comparação ao Holocausto – para condenar a invasão israelense em Gaza.

Na época, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro enviou um avião militar com suprimentos para a população palestina. Até aí, tudo muito justo. O próprio ministro Celso Amorim esteve no Oriente Médio e se encontrou com a colega Tzipi Livni para “cobrar explicações”.

Naquele momento, o país tentava costurar uma estratégia que pretendia deixar claro um princípio considerado importante pela equipe de relações exteriores: a busca pela justiça no cenário internacional. Mesmo se atropelando em hierarquias, dados históricos absolutamente equivocados e um maniqueísmo que em nada ajuda a situação do Oriente Médio, o Brasil manifestou sua opinião.

Mas agora, diante de um massacre que desde 2003 fez cerca de 300 mil vítimas (mais de 230 vezes o número de mortos em Gaza), o Brasil preferiu se calar. A bandeira da justiça nas relações internacionais defendida pelo país no mês passado simplesmente foi esquecida.

Tudo em nome da vaga permanente ambicionada no Conselho de Segurança da ONU.

O cálculo é simples: são necessários 128 votos para aprovar qualquer proposta de reforma no órgão. A Liga Árabe e a União Africana somam 65 votos. Como os dois organismos multilaterais são contrários à resolução do TPI, Brasília decidiu não bater de frente com os países que entendem que a morte de 300 mil pessoas não corresponde a um massacre.

O ponto alto desse vexame se deu no final de 2007, quando o Brasil, no Conselho de Direitos Humanos, se absteve de votar uma resolução que exigia o julgamento dos sudaneses responsáveis pelo massacre em Darfur. Pouco depois, o governo Lula, alegando que estava muito ocupado no Haiti, recusou-se a envolver tropas na força da ONU que interviria no conflito”, escreve no blog do Estadão o historiador e jornalista Marcos Guterman.

Uma fonte interna do governo foi ouvida pelo próprio Estadão. E explicou como a cúpula em Brasília entende o atual genocídio.

"Mesmo com todas as atrocidades cometidas, a guerra de Darfur foi um conflito entre tribos nômades pastoris e sedentárias agrícolas. Todos eram islâmicos", diz.

Ou seja, a partir deste raciocínio, podemos concluir que o governo brasileiro só vai manifestar sua opinião em conflitos envolvendo distintos grupos religiosos. Mesmo tendo o claro objetivo de dizimar etnias não-árabes, Bashir pode ficar tranquilo, segundo nossos “especialistas”.

Ainda de acordo com esta “lógica”, o governo brasileiro não deverá se posicionar externamente no conflito da Irlanda (são todos cristãos), entre separatistas bascos e a Espanha (novamente, todos cristãos) e, retroativamente, nunca deveria ter se manifestado na Guerra entre Irã e Iraque que matou 1 milhão de pessoas (afinal, eram todos muçulmanos).

O silêncio em Darfur simplesmente elimina qualquer credibilidade do governo brasileiro na resolução dos conflitos internacionais.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Apesar das aparências, nada de novo no Sudão

A histórica decisão tomada pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) de condenar o presidente sudanês Omar al-Bashir por crimes contra a humanidade pode se mostrar improdutiva. Apesar de necessária e bem-intencionada, a resolução já foi fagocitada pela polarização dos discursos nos moldes dos atuais conflitos ideológicos que todo mundo conhece.

Bashir articula o apoio dos países da União Africana e da Liga Árabe – provavelmente não-alinhados ao extermínio promovido por Cartum quase que institucionalmente desde 2003, mas identificados cultural, religiosa e politicamente com o Sudão.

Para reforçar esta posição e sensibilizar corações e mentes dos que ainda estão em cima do muro, o líder sudanês abusou do discurso da solidariedade entre os países contrários às políticas ocidentais – principalmente europeias e norte-americanas.

“Somos um movimento de libertação contra esta nova colonização. Estamos prontos para qualquer batalha. Nós os derrotamos antes e vamos fazê-lo novamente”, disse em pronunciamento transmitido pela tevê.

Segundo Laurence Blairon, porta-voz do TPI, Bashir é indiciado por cinco diferentes categorias de crimes contra a humanidade: assassinato, extermínio, transferência forçada, tortura e estupro.  De acordo com os advogados que julgam o caso, o líder sudanês vem tentando eliminar três etnias não-árabes do país.

Não custa lembrar: os conflitos entre milícias árabes patrocinadas pelo governo e grupos rebeldes não-árabes já mataram em quase seis anos cerca de 300 mil pessoas, além de terem deslocado outras 2,5 milhões.

A decisão anunciada nesta quarta-feira está sendo estudada já há um ano. A demora ocorreu porque havia o temor de que a condenação de Bashir pudesse piorar ainda mais a vida dos moradores de Darfur. Esta é a explicação oficial.

Mas, segundo o colunista do The Guardian Simon Tisdall, diplomatas ocidentais admitiram que havia a real preocupação de a resolução do TPI provocar conseqüências graves... Para funcionários das embaixadas dos países desenvolvidos em Cartum, trabalhadores das agências internacionais de ajuda humanitária e soldados das forças de paz da ONU.

A declaração mais racional em meio a todo este jogo de subterfúgio por debaixo dos panos veio de Juan Mendes, presidente do Centro Internacional de Justiça Transicional de Nova Iorque, instituição que trabalha buscando ajudar países à procura de encontrar os responsáveis por seus massacres passados.

“Graças à História aprendemos que o silêncio diante de atrocidades não é capaz de evitar outros crimes”, diz.

Em tempo – o Sudão conta com a ajuda da China, maior investidor na indústria petrolífera do país. Beijing teria dado garantias a Bashir que vai impedir a politização do assunto, caso a resolução do TPI seja levada ao Conselho de Segurança da ONU.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Sinais da nova estratégia americana para o Oriente Médio

A foto do entusiasmado beijo do presidente israelense, Shimon Peres, na secretária de Estado americana, Hillary Clinton, foi estampado na capa de alguns dos principais jornais do mundo. Foi assim também por aqui. Soa irônico o afeto demonstrado no primeiro giro da administração Obama ao Oriente Médio. Muito porque um dos resultados mais comentados desta viagem à região foi a dura que os Estados Unidos impuseram a Israel.

A mensagem oficial deixa claro que Washington quer o congelamento da expansão dos assentamentos judeus na Cisjordânia e a retomada do processo de paz com os palestinos. Benjamin Netanyahu – cujo cargo ainda é o possível vir a ser o próximo primeiro-ministro de Israel – teve de ouvir diretamente de Clinton esta determinação americana por mais que todo mundo saiba de suas restrições à criação de um Estado palestino soberano.

O objetivo principal da viagem foi desfazer a impressão dos demais países de que os EUA não são um interlocutor confiável. Por isso também o anúncio do envio de dois altos oficiais à Síria para retomar o diálogo entre os países – rompido desde o assassinato do primeiro-ministro libanês Rafik Hariri, em 2005, já que existe grande suspeita de que Damasco teve participação no atentado que resultou em sua morte.

A Síria não se fez de rogada e recebeu bem a iniciativa americana de enviar dois funcionários de alto-escalão: Dan Shapiro e Jefrey Feltman – este último o mais graduado diplomata do Departamento de Estado para o Oriente Médio. Curiosamente, dois judeus.

Ao mesmo tempo, em entrevista à Al Jazira, o porta-voz da embaixada síria em Washington antecipou as demandas do país no primeiro encontro com autoridades americanas:

“Deixamos muito claro que estamos preocupados com as políticas dos Estados Unidos de dar carta branca aos israelenses”, diz Ahmed Salkini

Como o tabuleiro politico da região é bastante complexo, nos bastidores já se admite que o discurso adotado na visita de Clinton e a aproximação com Damasco têm como alvo, na verdade, o Irã. Na segunda-feira, ao se encontrar com um ministro árabe, ela teria admitido que as negociações com os sírios pretendem atingir também Teerã, uma vez que a administração Obama ainda é cética quanto à possibilidade de alcançar um diálogo direto com Ahmadinejad.

Como Síria e Irã são aliados diretos, negociar com Bashar Assad pode ser o primeiro passo para sensibilizar os iranianos. Para completar esta estratégia, nada melhor do que aumentar o tom das críticas a Israel neste momento específico.

Apesar de parecer coerente, o jornalista do Jerusalem Post e da revista americana The New Republic Shmuel Rosner é cético quanto ao sucesso desta empreitada.

“Se entendi corretamente as declarações de Clinton sobre o Irã, fazer um ‘show’ tem se tornado um hábito para a equipe de Obama nesta parte do planeta. O principal ato deste ‘espetáculo’ é levar Teerã a aderir a ele; o outro objetivo seria avançar com o processo de paz. Infelizmente as chances de ambos serem bem-sucedidos me parecem bastante reduzidas a partir da estratégia atual”, diz.

terça-feira, 3 de março de 2009

Os novos termos das relações russo-americanas

Cartas secretas entre dirigentes americanos e russos lembram muito a Guerra Fria. Mas como tudo parece possível neste início de 2009, a sedução de fazer articulações internacionais por baixo dos panos tomou o governo Obama. Porém o tiro de seduzir a Rússia que ainda se imagina União Soviética saiu pela culatra. Assim, a informação vazou e o presidente Medvedev aproveitou a levantada de bola para dizer que estima muito a importância com que os EUA pensam a relação com a Rússia.

E aí o que se pensava diplomacia – lema de Obama e da Secretária Hillary Clintou – virou fumaça. Para começar do início, autoridades de Washington contaram ao The New York Times que o presidente americano teria enviado uma mensagem ao colega russo propondo uma troca: Washington abriria mão da instalação de um sistema de mísseis na Europa oriental caso Moscou se dispusesse a convencer o Irã a interromper seu projeto de desenvolvimento de armas de longo-alcance.

A questão é mais profunda, envolvendo a diretriz da política externa americana. Se por um lado a opção pelo diálogo parece agradar à opinião pública internacional, as soluções ocorrem mais lentamente. É o que explica o jornalista Gabor Steingart, em artigo publicado no alemão Der Spiegel.

Antes de iniciar uma estratégia própria, Obama e Clinton terão o trabalho de desfazer a imagem belicista e mesmo de confronto com países aliados criada por Bush. Além disso, os Estados Unidos hoje precisam baixar os custos da guerra contra o terror, estimados até agora em 1 trilhão de dólares. Afinal, como explicar um gasto desta magnitude num momento de crise?

Estender a mão à Rússia pode significar um investimento em longo prazo em duas áreas importantes: a solução para frear o desenvolvimento atômico iraniano sem a necessidade de mais um empreendimento bélico; e também a constituição de uma nova parceria econômica com um importante aliado.

“Os Estados Unidos pretendem oferecer apoio nos esforços da Rússia de se tornar integrada à ordem econômica do ocidente. Existe a intenção de acabar com barreiras de comércio entre os países e é possível acelerar a candidatura russa para integrar a Organização Mundial de Comércio (OMC)”, escreve Steingart.

Num momento em que a economia russa – e em breve a do mundo inteiro – vai de mal a pior, definitivamente o confronto não é a melhor alternativa para solucionar os graves problemas. O PIB do país promete cair, já que, como a Venezuela, a economia se baseia no petróleo – e o preço do barril vem caindo a cada dia.

“Obama não é altruísta. A realidade desfavorável obriga Washington a ter a Rússia como um parceiro seguro. Além disso, os EUA buscam uma aliança com a China e pelo menos algum equilíbrio em suas relações com Irã e Coreia do Norte”, diz Strobe Talbott, assessor de Hillary Clinton.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Muito além de uma crise financeira

É difícil analisar as mudanças do planeta num início de século tão conturbado. Terrorismo, guerra contra o terrorismo, aquecimento global e, agora, crise econômica. São temas tão grandiosos e que nos afetaram com tanta rapidez, que ainda é cedo para avaliar as consequências disso tudo na maneira como entendemos nossa presença no mundo.

A crise é a fonte de discussão do momento. Mas ela veio pra ficar mesmo e, ao contrário dos demais assuntos, o Brasil não vai ficar imune. Podemos e estamos preparados para enfrentá-la, mas vamos sentir na pele seus efeitos, assim como todo o mundo ocidental. Se em relação às outras duas grandes discussões dos últimos oito anos conseguimos fingir de morto, a crise das finanças não vai nos permitir a tranquilidade do conforto de um país em desenvolvimento e periférico na maior parte dos debates mundiais.

E muito porque o ocidente cristão, americano e europeu está metido nisso dos pés à cabeça. Como já escrevi outras vezes, num mundo unido pela força quase incontestável da globalização, que ninguém pense que fenômenos aparentemente desconexos têm profunda relação entre si.

É o que nos mostra os acontecimentos dos últimos meses. Os americanos não conseguiram pagar as hipotecas. Crise financeira. Queda de braço entre Rússia e Ucrânia. Manifestações em diversos países europeus por conta do efeito dominó, como Grécia e França. Desemprego. Novas manifestações. Declaração do bispo negacionista do Holocausto num momento onde o ódio aos imigrantes e às minorias volta à tona. Ataques à sinagoga e instituições judaicas de Caracas. Pode parecer improvável estabelecer um encadeamento entre estes fatos. Mas não é.

As graves consequências políticas estão começando a eclodir. Na última sexta-feira, o Fundo Monetário Internacional divulgou um comunicando projetando a redução de 6% da economia ucraniana neste ano. A indústria química e de aço local está demitindo milhares de trabalhadores. Cidades inteiras estão há dias sem água e aquecimento porque a população simplesmente não consegue pagar as contas. A moeda local, a hryvnia, já perdeu cerca de 40% do poder de compra.

“Há pouco tempo considerada símbolo mundial de desenvolvimento e da democracia de livre-mercado, a Ucrânia está oscilando. E esta situação de apuro que se anuncia estabelece uma verdadeira ameaça para outras economias europeias e também ex-repúblicas soviéticas”, escreve o jornalista Clifford J. Levy na edição de hoje do The New York Times.

Simultaneamente a isso, instituições fortíssimas começam a entrar em crise de existência. É o caso até da União Europeia, cujos líderes se reuniram neste domingo em caráter de emergência numa tentativa de arrefecer ânimos exaltados que ameaçavam a unidade do bloco.

“O tradicional conceito de solidariedade está sendo minado por medidas que pressionam por protecionismo em alguns países-membros. Particularmente, os intensos problemas em novos ‘sócios’ egressos da ex-URSS só têm tornado a discussão mais difícil”, escrevem Steven Erlanger e Stephen Castle, também do NYT.

Num jogo de encadeamento que se torna mais complexo, a única certeza é que as decisões econômicas afetam o cotidiano político, que, por sua vez, influencia diretamente nosso dia-a-dia. A tendência é que, infelizmente, a situação piore cada vez mais. Até porque, como a história nos ensina, é preciso encontrar bodes expiatórios para justificar demissões, inflação, redução do poder de compra etc. E todo mundo já viu este filme.

Se alguém – como eu mesmo – duvidava da possibilidade de uma escalada de violência internacional por conta da crise financeira, é chegada a hora de parar e fazer uma nova leitura dos últimos acontecimentos.