E na sexta-feira eu cometi o erro de lembrar o conflito na Irlanda. O assunto era Darfur, mas, como numa previsão trágica, no domingo dois soldados ingleses pediram uma pizza e acabaram mortos num ataque que procura desestabilizar o governo de união que tomou posse há cerca de dois anos, após quase 30 anos de violência religiosa.
Orgulhosamente praticado pelo IRA Autêntico – dissidência do IRA, grupo que abandonou a luta armada em 2005 -, o atentado não encontrou resposta popular ou política. Muito pelo contrário. Houve condenação unânime por parte de Gerry Adams e Martins McGuinness, líderes do Sinn Fein, o antigo braço político do IRA.
Apesar de o ataque estar sendo tratado como surpreendente, a Irlanda ainda está longe de ser um exemplo de tranquilidade absoluta. Nos últimos 17 meses, dissidentes republicanos foram responsáveis por 15 ataques a bomba ferindo oficiais da polícia.
A novidade dos acontecimentos de domingo fica por conta de ter sido o primeiro caso de morte de soldados britânicos na Irlanda do Norte desde 1997.
O IRA Autêntico é descrito como um grupo que conduz uma campanha marginal cujo alvo principal é a polícia norte-irlandesa. Segundo fontes policiais ouvidas pelo The New York Times, a organização possui poucos atiradores, um orçamento limitado e armamento deficiente.
Apesar da rápida resposta por parte das autoridades, o temor de novos ataques não deve ser totalmente afastado. Principalmente porque em meio à crise financeira não vão faltar “motivos” para "justificar" o impulso nacionalista. Desemprego, poder de compra reduzido e falta de oportunidades para os jovens que ingressam no mercado de trabalho costumam funcionar como poderosos combustíveis para a repetição de slogans de protesto e, muitas vezes, violência.
E aí entra uma das questões mais importantes: o apoio da população. Um atentado nas dimensões como o deste de domingo pode servir como um teste de popularidade para o IRA Autêntico, como lembra o colunista do The Guardian Peter Preston.
“Este é um assunto da Irlanda do Norte; do Sinn Fein e do povo. Se não houver nenhum lugar para se esconder, apoio ou cobertura da comunidade, aí as células que cometeram este ataque vão se enfraquecer. A palavra crucial é justamente ‘se’”, diz.
2 comentários:
Mais uma perola!
Voce precedeu o despertar da hibernaçao do ursinho que dora whisky!Agora tem de jogar na loteria...
Mas voltando a Africa, só voce mesmo para falar a respeito.A grande midia não se importa com estes 'detalhes'
Obrigado, Anônimo. Acho que o papel dos veículos alternativos é esse mesmo, meu caro. E penso que o Carta & Crônica existe pra isso: discutir, debater e se aprofundar além da grande imprensa.
Grande abraço e super obrigado pela leitura!
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