Não deu em nada a negociação indireta entre Hamas e Israel para a libertação do soldado sequestrado Gilad Shalit. As dificuldades envolvendo as conversações mostram posições bastante antagônicas entre as partes. Israel corre contra o tempo, enquanto o Hamas não esconde como a situação lhe parece confortável. E é mesmo.
Os israelenses enxergam mais este diálogo indireto com o Hamas como um incômodo conceitual em sua essência. Não é segredo para ninguém que desde sempre as autoridades do Estado Judeu se recusam a dialogar com terroristas. A não ser que eles deixem a luta armada de lado – como Arafat – e aceitem a existência de Israel.
Não é o caso do Hamas. Com ações como o sequestro do soldado e o lançamento de mísseis sobre o sul de Israel, o grupo busca ascensão e legitimidade política. O simples fato de forçar os israelenses a um acordo já é uma vitória.
Mais ainda, o primeiro-ministro Ehud Olmert declarou que as negociações foram interrompidas porque “há uma linha vermelha que não pode ser ultrapassada”. Ele se refere à demanda apresentada pelos palestinos de libertação de 450 prisioneiros que estão em cadeias israelenses. Israel aceitou a libertação de 320 deles, mas se recusa a dar liberdade àqueles envolvidos em alguns dos mais sangrentos atentados terroristas cometidos em cafés e ônibus durante a Segunda Intifada, iniciada em 2000.
Uma fonte ouvida pelo jornal Haaretz informa o que teria acontecido pouco antes do encerramento das negociações no Cairo.
“Eles apresentaram demandas de alguém que não pretende encontrar uma solução. Os novos pedidos apareceram de repente e havia uma grande discrepância entre eles e o que tinha sido discutido no passado”, diz.
Para o Hamas, se nada for acordado – como sinalizam os recentes acontecimentos – sobre a libertação de Shalit e uma eventual libertação de prisioneiros palestinos, nada muda. Simplesmente, o grupo não acumulará novas derrotas com isso. Pelo contrário. Comunicados emitidos pelo Hamas e publicados em todos os grandes veículos internacionais procuram culpar Israel por não ceder mais.
Por outro lado, a opinião pública israelense exige uma resposta do governo. A situação ainda se configura como mais uma dor de cabeça para o próximo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que certamente gostaria de iniciar o mandato com este problema resolvido.
Para o jornalista Yossi Melman, o processo de negociação está sendo conduzido de maneira equivocada desde o começo. Ele acredita também que Israel sai perdendo de qualquer maneira.
“Libertar assassinos só estimula mais assassinatos. As atuais conversações com o Hamas contradizem outra reivindicação: de que Israel não negocia com terroristas”, diz.
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