quarta-feira, 11 de março de 2009

Atentados na Irlanda do Norte não ameaçam os acordos de paz

Depois do ataque do IRA Autêntico, a Irlanda do Norte novamente voltou a ser palco de mais um ato de violência. Desta vez, o IRA da Continuidade reivindicou a autoria do assassinato de um policial apenas 48 horas depois do atentado de domingo. A dúvida é se uma nova onda de mortes inspirada pelo nacionalismo irlandês vai tomar conta do país.

Num mundo globalizado em todos os sentidos, não custa tentar traçar um paralelo entre os acontecimentos desta semana e os promovidos pelas demais organizações de inspiração terrorista. No caso, os fundamentalistas islâmicos. E o que o IRA verdadeiro ou o seu continuísmo que se declara autêntico tem a ver com isso? A resposta é: nada.

Não faz tempo, escrevi um texto sobre a possibilidade de a crise financeira ser o único motivo que vejo ser capaz de detonar uma guerra entre países ocidentais. Continuo a pensar assim. Pelo simples fato de ao longo dos últimos anos – mais precisamente desde 1991, com o fim da URSS – as ideologias que já mobilizaram corações e mentes do ocidente terem dado lugar ao pragmatismo individual da busca pelo sucesso econômico.

E soa curioso que os atentados na Irlanda, as manifestações na Grécia e na França possam ocupar o vazio deixado pela própria crise financeira. Longe de desemprego, insatisfação com demissões ou com a ajuda de governos a instituições bancárias serem capazes de reacender algum tipo de sonho igualitário. Mas fica claro que somente quando existe a ameaça aos preceitos básicos de existência – como ocorreu na Ucrânia na última semana – a população se levanta para protestar e mesmo articular atos de violência contra o Estado.

Reportagem publicada pela agência de notícias AP repercute a reação do ex-comandante do IRA Martin McGuiness que mostrou solidariedade ao chefe de polícia da Inglaterra após o ataque da noite de segunda-feira. Ele pediu também para que as comunidades católicas não deem abrigo aos dissidentes que insistem no uso da violência. E este é um ponto importante para diferenciar o terrorismo fundamentalista islâmico das ações do IRA.

Ao mesmo tempo em que o IRA tinha objetivos políticos claros, os diferentes grupos terroristas fundamentalistas islâmicos não o têm. Se o IRA topou ir à mesa de negociações é porque sabia que poderia abrir mão aqui e ali de algumas das reivindicações. Terminou por aceitar um governo conjunto com os protestantes. Não ganharam. Mas não perderam. O terrorismo fundamentalista tem na morte seu principal objetivo. Não existe forma de negociar nesses termos.

Nada de errado quando Obama nomeia George Mitchell como enviado especial dos Estados Unidos para o Oriente Médio. Mas é absolutamente desimportante o fato de ele ter tido sucesso como articulador do acordo da Sexta-feira Santa, em 1998, na Irlanda do Norte. A natureza dos conflitos é bastante distinta. Invariavelmente, Mitchell será obrigado a lidar com fundamentalistas islâmicos em sua missão na região. Mas é impossível convencer alguém a debater soluções quando simplesmente se utiliza de desculpas políticas para legitimar a busca pela maximização da destruição e do ódio.

Ao contrário da Irlanda do Norte, onde o IRA usava a violência – sempre condenável – como forma de alcançar a independência. Por isso, creio que somente se vinculado ao fracasso econômico, esses grupos podem alcançar algum sucesso em reacender o apoio comunitário a sua luta.

Por enquanto, creio que na Irlanda do Norte tudo permanecerá na mesma. O Sinn Fein continuará a ratificar decisões políticas e nenhuma cópia do IRA encontrará espaço para se articular a ponto de retroceder com os acordos já assinados e postos em prática.

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