sexta-feira, 20 de março de 2009

EUA e Israel tentam comover o Irã

Estados Unidos e Israel mandaram mensagens positivas ao Irã por conta do feriado de Noruz, que marca o começo do ano novo persa. Aparentemente descoordenadas entre si, o recado em vídeo de Obama e a mensagem radiofônica do presidente israelense, Shimon Peres, são semelhantes. Ambos os países perceberam que é chegada a hora de uma nova abordagem à República Islâmica. Entretanto, os destinatários das mensagens americana e israelense são distintos e dizem muito sobre a atual política externa de ambos os países.

Enquanto Washington busca claramente uma aproximação com Teerã e tem no estabelecimento de um canal de comunicação direto com os iranianos uma plataforma política, a mensagem israelense parece demonstrar uma vontade individual do presidente Peres.

Até porque os últimos acontecimentos no Oriente Médio parecem ter mudado a compreensão de parte do governo de Israel sobre a imagem internacional do país. A recente divulgação dos relatos pessoais dos soldados que participaram da última ofensiva em Gaza diminuiu o apoio internacional ao Estado Judeu. Peres acredita que é chegada a hora de mudar essa percepção. Israel não pode contar apenas com o suporte americano.

Mas, como a aproximação com o Irã está longe de ser uma política oficial de Jerusalém, Peres agiu por conta própria. Falando algumas frases em persa, o presidente israelense foi mais estomacal que estratégico. Além disso, preferiu se dirigir ao povo iraniano, contestando também as diretrizes da administração de Teerã.

“Existe grande taxa de desemprego, corrupção, drogas e um descontentamento geral. Vocês não podem alimentar seus filhos com urânio enriquecido (...). Sugiro que não deem ouvidos a Ahmadinejad. É impossível preservar uma nação inteira incitando o ódio. O povo vai se cansar disso”, disse.

Não acho que seja uma tática eficiente. Até porque só vai colocar mais lenha na fogueira, já que o governo iraniano vai usar o discurso argumentando que os israelenses estão tentando manipular o povo do Irã jogando-o contra seus líderes.

A estratégia americana me parece mais clara. Pode até não sensibilizar Ahmadinejad e o líder supremo da revolução, Ali Khamenei, mas coloca os EUA na posição daquele que estende a mão ao diálogo. E foi essa a mensagem de Obama. Clara, direta e firme:

“Os Estados Unidos desejam que a República Islâmica do Irã ocupe seu lugar de direito na comunidade das nações. Vocês têm este direito. Mas ele vem acompanhado de responsabilidades reais. Este lugar não pode ser alcançado através do uso do terror ou das armas, mas por meio de ações pacíficas capazes de demonstrar a grandiosidade do povo e da nação iranianas. E o que mede este grandiosidade não é a capacidade de destruir, mas a já demonstrada habilidade de construir e criar”, disse.

Khamenei não respondeu diretamente à oferta de paz americana, preferindo ressaltar os recentes avanços iranianos, como a construção da primeira usina nuclear do país e o lançamento do satélite integralmente fabricado no Irã.

A posição oficial do país é que, antes de qualquer entendimento, os EUA precisam se desculpar pelo golpe de 1953, quando, junto com a Grã-Bretanha, conspiraram para a derrubada do primeiro-ministro Mohammed Mosadegh.

Nenhum comentário: