As declarações do atual presidente da União Europeia, o tcheco Mirek Topolanek, de que o pacote de estímulo econômico americano é “um caminho para o inferno” e que vai “minar a estabilidade do mercado de finanças global” está sendo tratada como um constrangimento. A imprensa americana prefere considerá-las como um sinal da falta de liderança na UE. Acho que ambas as impressões não são excludentes.
Trata-se sem dúvida de um momento inadequado para fazer esta “gentileza” com os Estados Unidos. Afinal, daqui a uma semana estarão todos juntos em Londres, na reunião do G20. Além do mais, serve para reafirmar mais profundamente as enormes diferenças entre europeus e americanos (com o apoio da Grã-Bretanha, vale ressaltar).
Obama e sua equipe econômica creem que somente mais estímulos fiscais e financeiros podem salvar o mundo da crise. A Europa continental, capitaneada por Angela Merkel, chanceler da Alemanha, força a barra para uma maior regulamentação do mercado.
Mesmo com diversos líderes europeus negando que as declarações do atual presidente do bloco representam a opinião mesmo da UE ou dos países individualmente, o ambiente carregado já está criado.
Para piorar, o presidente Topolanek vai receber Obama em Praga para uma cúpula de discussão das relações entre UE e Estados Unidos.
Dentro de casa, a situação do tcheco é muito ruim. Na última terça-feira, a coalizão que sustentava seu governo caiu. Para a imprensa internacional, suas declarações são um esforço pessoal para tentar mostrar força num momento de crise política interna.
Quanto à questão da falta de liderança na Europa, o continente paga pela rejeição irlandesa do Tratado de Lisboa, em junho passado. O documento – que precisa de aprovação unânime – estabelece a presidência permanente da UE, como se fosse um país, além da nomeação de um ministro das relações exteriores.
Para piorar, as discussões diretas entre República Tcheca e Estados Unidos envolvem um assunto bastante polêmico: a instalação do escudo de mísseis, proposta ainda do governo Bush. Na teoria, as armas deveriam ficar em território tcheco. Mais pimenta para a discussão que promete já ser acalorada na semana que vem.
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