Mais uma vez, a maré das relações internacionais acaba de ascender novamente o Brasil ao posto de porta-voz da razoabilidade na América do Sul. Em meio a discursos apaixonados, ameaças de guerra e grande polêmica por conta das bases americanas na Colômbia, caberá a Lula exercer – sempre com grande satisfação, é claro – o papel de apaziguador oficial do continente.
De fato, o barulho em torno da decisão colombiana de ceder bases para uso militar norte-americano me parece um tanto exagerado. Muito embora seja justo o olhar atento dos demais países por conta da interferência dos EUA no combate ao narcotráfico.
A posição oficial brasileira, exposta hoje diretamente ao presidente colombiano, é deixar claro que os países do continente devem tratar de seus assuntos de segurança sem necessidade de intervenção externa.
E a verdade é que, além de suas próprias forças armadas, os Estados sul-americanos criaram a Unasul, órgão que existe justamente para tratar de questões militares e de segurança.
Por outro lado, a cessão das bases colombianas aos EUA é uma questão interna e decidida bilateralmente entre Washington e Bogotá. A discussão é grande não apenas por conta da decisão de Álvaro Uribe, mas porque resgata a memória coletiva dos vizinhos, inclusive do Brasil.
Historicamente, não faz muito tempo que os Estados Unidos tratavam os países do continente como irmãos mais novos e um tanto incapacitados para decidir sobre o próprio futuro. Foi assim durante os diversos casos de apoio expresso ou furtivo a golpes militares que derrubaram governos de tendência popular legitimamente eleitos. E este é o trauma absolutamente justificado que volta a se manifestar e novamente num momento em que líderes populares dão as cartas em boa parte dos países da região.
Soma-se a isso a péssima relação entre EUA e Venezuela e as farpas trocadas entre Chávez e Uribe – aliás, em boa parte por conta da proximidade entre Colômbia e Estados Unidos.
Em entrevista ao Terra Magazine, o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas lembra que a Colômbia tem um grande ônus diplomático por contar com apoio financeiro e logístico americano. O país deixa de ser visto como representante dos demais Estados sul-americanos. E, aí sim, o Brasil pode ocupar esta lacuna:
“O Brasil tem um ganho indireto. Ele passa a ser de fato um mediador entre a Colômbia, que pertence a um grupo conservador, ligado aos EUA, e o grupo de esquerda, com Venezuela, Bolívia...”
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