Na próxima quinta-feira, 20, ocorrem eleições que vão determinar não apenas o novo presidente afegão, mas também os representantes das províncias. Num ano que presenciou votações muito importantes no Oriente Médio (Israel, Líbano, Irã e a conferência do Fatah), esta é a próxima capaz de alterar os pilares da região. Muito embora, – verdade seja dita – por mais emblemáticos que alguns eventos tenham sido neste ano, nenhum deles conseguiu mudar qualquer coisa de fato.
E no Afeganistão muito pouco deve mudar. Principalmente porque, desde já, o Talibã – grupo extremista e fundamentalista que ainda detém o poder em Helmand e Kandahar, duas das mais importantes províncias do país – já determinou a pena para aqueles que se atrevam a votar nas eleições patrocinadas pelos EUA: um dedo cortado – preferencialmente o usado para marcar os candidatos nas cédulas de votação.
Eu não me arriscaria a perder o dedo em nome da “defesa da democracia”, da “liberdade” ou de qualquer outro slogan que faz sentido por aqui, mas que não tem muito significado por lá. Apesar disso, 17 milhões de corajosos – de um total de 33 milhões de habitantes – estão registrados para votar.
Mesmo ainda longe de derrotar os talibãs, a simples realização do pleito é em si uma tremenda vitória para a coalizão. Alguns números mostram isso: há mais de 3 mil candidatos em busca de um das 420 vagas nas províncias; desse total, 300 mulheres lutam para se tornar representantes políticas. É, nas devidas proporções, uma tremenda revolução num lugar onde mulheres que ousam frequentar escolas chegam a ter o rosto queimado por ácido por militantes talibãs.
É curioso notar que o purismo do Talibã se resume a determinadas regras de conduta – como impedir mulheres de estudar, por exemplo. As tropas americanas, da coalizão e da OTAN lançaram uma ofensiva sobre os domínios do grupo extremista. A batalha tem sido travada sob fogo cerrado não porque o grupo pretende controlar territórios simplesmente por questões ideológicas. Os militantes temem perder o controle das áreas de produção de heroína, droga que financia a logística e a compra de armamento.
Como se poderia imaginar, coerência não é lá o forte dos talibãs. Em nome da defesa dos pontos de produção de um dos mais letais entorpecentes, podem ter certeza de que muitos atentados terroristas serão cometidos até as eleições do dia 20.
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