A sexta conferência do Fatah terminou nesta semana. Como o acordo entre EUA e Colômbia acabou por tomar boa parte da cobertura da imprensa – inclusive deste espaço –, o assunto não mereceu maiores análises. O tema é importantíssimo para a dinâmica do Oriente Médio, uma vez que o Fatah é não somente liderado pelo presidente palestino, Mahmoud Abbas, mas também se opõe ao Hamas e é visto por Israel e Estados Unidos como o único interlocutor para as negociações de paz.
Houve grande otimismo por conta da própria realização do encontro. Como fundador do Fatah, o falecido símbolo da identidade palestina e primeiro presidente da AP, Yasser Arafat, não permitiu este tipo de disputa eleitoral, principalmente, diga-se de passagem, a partir do momento em que a Autoridade Palestina foi criada, em 1994.
Este é um momento importante do conflito árabe-israelense, justamente pela divulgação de atitudes e posições políticas que simplesmente vêm sendo ignoradas pela imprensa brasileira: às vésperas de comemorar sua “vitória” militar em 2006, o Hezbolah tem declarado estar pronto para uma nova guerra contra Israel e afirma ter um arsenal de 40 mil mísseis para serem lançados contra o território israelense; o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirma que qualquer ação do Hezbolah será interpretada como uma declaração de guerra libanesa, uma vez que o grupo extremista paramilitar tem participação não apenas na sociedade, mas também no aparato de Estado do Líbano; e, por fim, uma tecla na qual venho batendo há duas semanas: a Jordânia tem retirado compulsoriamente a cidadania de palestinos. Até o momento, cerca de 40 mil palestinos com cidadania jordaniana tiveram este direito revogado.
E não houve qualquer pronunciamento oficial do alto escalão do governo americano – a parte mais interessada em retomar o processo de paz. Pelo menos, em teoria.
Sobre a conferência do Fatah, é bom que novas lideranças tenham sido eleitas. Mas, ao contrário de parte dos analistas internacionais que escreveram artigos entusiasmados sobre essa renovação, penso que ter diferentes nomes na política palestina não muda a situação de impasse do processo de paz. Até porque, por mais que uma das decisões do encontro tenha sido pela opção pacífica, há outras resoluções tomadas por este grupo que passa assumir o comando do Fatah. E elas não são lá tão positivas assim para as conversações.
Alguns pontos acordados nesta reunião para um acordo de paz: Israel deve deixar todos os territórios conquistados durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, inclusive a porção oriental de Jerusalém (ponto que pode até ser discutido pelo governo israelense, mas que promete muita polêmica interna); todos os assentamentos na Cisjordânia deverão ser desmantelados (por mais que a logística seja complicada, isso pode vir a acontecer durante a negociação de um acordo definitivo, até porque Israel já tomou esta atitude em Gaza); e, por último, segundo o Fatah, só haverá paz quando todos os refugiados palestinos puderem se estabelecer em Israel.
Este é o ponto mais controverso. A posição oficial israelense é que os palestinos que perderam, deixaram ou foram expulsos durante a Guerra de Independência de Israel, em 1948, devem retornar para o futuro Estado palestino. Até porque a inclusão de mais 800 mil palestinos dentro das fronteiras do Estado Judeu alteraria a chamada “balança demográfica” do país, tornando, em curto prazo, a população judaica minoritária em Israel e, por fim, acabando com o conceito de Estado Judeu sobre o qual o país foi criado.
Essa posição adotada pelo Fatah simplesmente inviabiliza qualquer acordo. Mas, quem sabe, esta não seja apenas uma forma de manter a moral do grupo para não ser acusado pelo próprio Hamas ou pelo Irã de ceder a Israel. O resultado prático da conferência só poderá ser avaliado quando as negociações forem retomadas. Por ora, parte do otimismo exposto em análises não passa de ingênuo – ou míope – otimismo.
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