Eu ainda não decidi se considero Mahmoud Ahmadinejad estúpido ou um grande estrategista. Ou melhor, é bem provável que eu mesmo não saiba se a estupidez é um termo que se aplica a mim. Porque quando o presidente iraniano volta a repetir que o Holocausto é uma mentira, na verdade ele presta um grande desserviço aos palestinos que diz defender.
Ao dizer com todas as letras pela milésima vez que o Estado de Israel deve ser varrido do mapa, Ahmadinejad reafirma o argumento do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de que o maior desafio de seu governo hoje é combater a ameaça nuclear iraniana.
Ao convencer seu gabinete, a opinião pública interna e mesmo a Casa Branca, Bibi consegue adiar a retomada dos difíceis diálogos de paz com a liderança palestina.
Na prática, ao manifestar suas crenças absurdas sobre a inexistência do Holocausto para logo em seguida reafirmar o plano de acabar com Israel, Ahmadinejad assina embaixo da doutrina de segurança de Bibi.
Vale lembrar, entretanto, que, ao fazer tais declarações – o dia em que os iranianos são conclamados às ruas para gritar “morte a Israel” –, uma outra manifestação tomava conta de Teerã: novamente os opositores ao atual governo iraniano saíram para protestar contra o resultado das eleições de junho passado.
Este é um “case” em tempo real que prova o quanto o conflito entre israelenses e palestinos favorece alguns setores – geralmente, os dominantes – do mundo muçulmano. É sempre uma válvula de escape capaz de unir vozes dissonantes em torno do ódio a Israel.
Na prática, entretanto, ele desfavorece os maiores interessados: os palestinos que permanecem sem discutir abertamente com o atual governo israelense questões-chave para a constituição de seu Estado.
Fica claro também que a solidariedade aos palestinos é apenas mais uma peça do discurso de Ahmadinejad. Mas ela não amolece seu coração quando é colocado na balança ao lado de seu projeto hegemônico regional.
Enquanto isso, Barack Obama se reúne amanhã
“A Casa Branca informa que não espera alcançar qualquer grande avanço (nos diálogos entre os lados). Mas oficiais de Washington afirmam que Obama optou por manter as reuniões de forma a mostrar sua determinação em retomar o processo”.
Ou seja, o objetivo é sair bem na foto. Interessa ao presidente americano – que enfrenta uma baixa de popularidade –, ao próprio Netanyahu – que vai arrastando o assunto enquanto pode –, mas não aos palestinos – que deveriam “agradecer” todo o empenho de Mahmoud Ahmadinejad.
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