quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O projeto internacional venezuelano

Há muito tempo a América do Sul não estava nas manchetes internacionais por conta de assuntos militares. Se a Colômbia virou notícia depois de autorizar o uso de bases por forças americanas, Argentina e Brasil decidiram ir às compras e a Venezuela a cada dia deixa mais claro seus objetivos regionais.

E, à exceção da Colômbia, os processos de concorrência e fechamento de contratos de Brasil e Argentina acabaram se internalizando. Ou seja, depois de ganharem certa repercussão internacional, a reformulação tecnológica na área militar dos dois países se tornou tema de debate interno. O mesmo não se aplica à Venezuela. Primeiro, porque Chávez consegue criar polêmica. Segundo, porque as ambições estratégicas do presidente venezuelano extrapolam fronteiras e pisam no calo de quem realmente importa: os Estados Unidos.

Chávez está em tour por diversos países e promete lançar provocações aos EUA em cada uma das visitas. No Irã, mais uma vez defendeu o projeto nuclear de Ahmadinejad e Khamenei e, pra completar, declarou abertamente que irá fornecer a Teerã 20 mil barris de gasolina todos os dias.

Trata-se de um embate quase direto com os EUA e União Europeia, que pretendiam bloquear a exportação do produto ao país asiático como forma de pressionar pela interrupção de seu programa nuclear. Chávez acaba de minar a plenitude desta medida.

Na Rússia, foi ainda mais longe. Ao se encontrar com o presidente Dmitri Medvedev, declarou oficialmente que a Venezuela passa a reconhecer a independência de Abkházia e Ossétia do Sul, regiões que integram a Geórgia cujas independências levaram à guerra entre Moscou e Tbilisi em agosto do ano passado. Para se ter a exata noção do ineditismo da decisão de Chávez, até hoje, além da própria Rússia, somente a Nicarágua havia reconhecido a soberania das duas regiões.

Enquanto no Brasil há gente demais opinando em política externa dentro do próprio governo, na Venezuela ocorre o oposto. Chávez é teórico e articulador das ações internacionais do país. A simplicidade da teoria, no entanto, é fácil de ser percebida. Em Caracas, a diretriz determina que qualquer oposição aos Estados Unidos é digna de apoio, mesmo que as relações sejam travadas com uma multiplicidade de atores como Rússia, Síria, Irã, Bielo-Rússia, Líbia, Argélia, dentre outros.

Ao que me conste, nenhum dos Estados listados acima partilha do Socialismo do Século 21 de Chávez.

Seja como for, Caracas pretende liderar um eixo internacional antiamericano. Se o projeto funcionar – com compra de armamento russo em curso, por exemplo – vai ser a primeira vez, desde a Crise dos Mísseis de 1962, que os Estados Unidos serão desafiados institucionalmente tão de perto.

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