terça-feira, 8 de setembro de 2009

Por que França e Brasil decidiram se unir

A visita de Nicolas Sarkozy ao Brasil é repleta de significados. Não apenas pela transação militar que conseguiu emplacar por aqui. Mas, principalmente, porque evidencia uma visão estratégica nova e à frente de outros países. A França parece ter compreendido que o mundo mudou e, com isso, os parâmetros que regem a diretriz de política externa de Paris.


O que me chamou bastante atenção foi a entrevista concedida pelo presidente francês ao jornal O Globo, do Rio de Janeiro, publicada no domingo. Dentre as muitas declarações em que exalta o Brasil – é claro, há um tanto de confete no que diz –, fica registrada a intenção de mudança de organismos multilaterais um tanto ultrapassados.


O mais arcaico e poderoso é o G-8, criado no século passado por potências do século passado e baseado em parâmetros de poder do século passado. Sarkozy se antecipa à falência declarada do grupo e mostra ter decidido pular fora do barco antes que ele naufrague de vez. O presidente francês propõe ampliá-lo no mínimo em seis países – com o Brasil incluído, claro.


E este foi o pulo-do-gato da parceria que se torna a cada dia mais concreta entre Paris e Brasília. Ambos sabem que é preciso enxergar a nova ordem mundial (no caso da aproximação com uma potência emergente como o Brasil), mas sem abrir mão do poder conquistado até aqui (sob a ótica brasileira, é importante ter a França como um aliado estratégico, já que ela é reconhecida como tal pelos demais países que ainda mantêm o status quo internacional e pode inclusive participar da viabilização de um assento permanente ao Brasil no Conselho de Segurança da ONU, o grande sonho de consumo da política externa brasileira).


O governo francês vem se encaixando como pode nesta característica de parceria, alianças e participação em diversas questões internacionais. Não é à toa que, após ter se destacado no estancamento da guerra entre Israel e o Hamas em Gaza no início deste ano, decidiu retornar à OTAN após 43 anos de afastamento. Associar-se a um país que se configura como potência de acordo com os novos moldes internacionais é parte de uma estratégia maior.


Num mundo onde valores como supremacia bélica e corrida armamentista dão lugar aos poucos às variáveis econômicas, a França parece ter escolhido o Brasil como parceiro. Vale lembrar que, dentre os membros dos BRICS (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil parece ser o único que apresenta características mais próximas à França – um Estado laico democrático e ocidental. Não é à toa que Sarkozy esteve por aqui. Vender helicópteros e aviões me parece ser apenas a ponta do iceberg.


Vale lembrar que a próxima reunião do G20 acontece já a partir do próximo sábado, dia 12 de setembro. Este fórum sim é importante. É lá que o novo e o velho mundo vão se encontrar para decidir sobre as questões deste século que vivemos: economia, clima, consumo dos recursos disponíveis e aumento populacional.

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