Muito interessante o rumo que esta crise em Honduras está tomando. Aos poucos, os personagens vão mostrando seus reais propósitos. Por exemplo, quando o grupo de empresários hondurenhos passa a aceitar a ideia de restabelecer o presidente deposto, levanta a seguinte questão: ora, afinal de contas, o objetivo do golpe era moldar o governo Zelaya de forma a nunca mais ousar fazer qualquer consulta popular?
Estranho mesmo é perceber que no final da primeira década do século 21, um país latino-americano ainda é palco de movimentos políticos ilegais que ressaltam as diferenças de classe. Mas a luta de classes não é um slogan um tanto ultrapassado, de acordo com o próprio liberalismo?
Ora, o liberalismo se mostrou insuficiente para impedir a maior crise econômica desde a década de 1930. O Estado se mostra relutantemente necessário para regular os gastos, investir na sociedade e impedir a mão boba do mercado de fazer o que bem entende.
Mas é para controlar o Estado que a elite hondurenha apoiou o golpe que depôs Zelaya. Um Estado que, se já não serve para muita coisa – afinal, para o empresariado, quanto menos intervenção estatal, melhor –, ao menos ainda detém o monopólio do poder coercitivo – leia-se, polícia e forças armadas.
E o presidente interino Micheletti não pensou duas vezes em lançar mão de medidas coercitivas para calar a oposição. Não conseguiu. A corda foi esticada ao máximo e arrebentou. Afinal de contas, no século 21 parece ser difícil controlar a informação, a rebeldia e – mais ainda – a imprensa internacional. Parece que, aos poucos, a situação vai se ajeitar
Mas, num mundo cada vez mais contraditório, o grupo de nobres parlamentares é composto por, dentre outros, Cláudio Cajado (DEM) e Bruno Araújo (PSDB), de partidos que até pouco tempo criticaram a “intromissão brasileira em assuntos internos de outros países”.
Num mundo cheio de contradições, nem nossos deputados haveriam de ficar de fora. Talvez o fato de a crise de Honduras ter sido o assunto mais buscado na internet brasileira na última semana explique em parte o repentino interesse “nos assuntos internos” alheios. Até porque, no século 21, fazer um papel bacana por lá pode render uns votos por aqui.
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