Como a semana começou com a discussão sobre o uso da história em benefício de decisões políticas, decidi escrever sobre o mais recente exemplo de que, às vezes, a retomada de estudos do passado pode servir como ponte para o processo de pacificação atual. É exatamente isso o que deve ocorrer entre Turquia e Armênia, dois países que não mantêm relações de qualquer natureza.
Isso pode mudar em breve, uma vez que os dois lados devem anunciar o estabelecimento de bases para o diálogo em 14 de outubro, quando turcos e armênios disputarão uma partida das eliminatórias da Copa do Mundo de futebol.
O grande impasse entre os países decorre de uma enorme discordância sobre a interpretação do massacre de 1,5 milhão de armênios por forças do Império Otomano, em
Independentemente do que a Turquia pensa sobre o assunto, o fato é que houve a deportação e o assassinato em massa de 1,5 milhão de Armênios. Este é o ponto que me parece mais importante, não conceitos sobre quais palavras devem ou não ser usadas.
Seja como for, levando-se em consideração que seria difícil convencer os turcos a abrirem mão de sua posição histórica – além do mais, o assunto é até hoje um tabu na Turquia – as partes chegaram a um acordo que mostra bem como o bom-senso pode ser usado para desarmar espíritos e, mais importante, seguir adiante na normalização das relações: uma comissão de historiadores e especialistas armênios, turcos e de outros países será formada para estudar a documentação sobre o assunto e promover o diálogo mútuo.
É óbvio que nenhuma das partes iria abrir mão de suas posições. Até porque, se o fizessem, perderiam legitimidade interna para assinar qualquer acordo. A solução encontrada é a mais simples e também a única existente. Tocar discursos, conceitos e prática ao mesmo tempo.
Simultaneamente a tudo isso, é fundamental que Armênia e Turquia mantenham relações porque serve economicamente a ambos. As relações internacionais obedecem a fatores talvez até mais pragmáticos do que a vida pessoal de cada um. Retomar o diálogo serve a interesses que beneficiam os países num mundo cada vez mais integrado. E, neste caso, como a Turquia é o estado mais desenvolvido economicamente, é Ancara que manifesta maiores ambições regionais, como explica à revista Time o analista Hugh Pope, do International Crisis Group, de Bruxelas:
“Se bem sucedidos, os diálogos podem retomar o prestígio do país e de sua capacidade de reforma doméstica, como um pacificador regional e também de estar realmente empenhado no processo de ingresso como membro da União Europeia”, diz.
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