E eis que Osama bin Laden decidiu aparecer novamente. Divulgou uma fita reafirmando sua disposição para se digladiar com a cultura ocidental, os Estados Unidos e Israel. Aliás, como numa monografia, o líder da al-Qaeda decidiu recortar o tema e focar seu ódio na relação entre americanos e israelenses. Bin Laden pode até estar enfraquecido, mas é impossível negar sua esperteza para encontrar um nicho de mercado.
Quase como um político numa mesa de negociação, desfilou argumentos que, segundo ele, justificam todos seus atos terroristas, inclusive os atentados de 11 de Setembro:
“Nós demonstramos e afirmamos muitas vezes, durante mais de 25 anos, que a causa de nossa discordância com vocês (ocidentais) é o apoio dado a seus aliados israelenses que ocupam nossa terra palestina”.
E mais:
“Essa posição – combinada com algumas outras injustiças – levaram-nos a realizar os ‘eventos’ (?) em 11 de Setembro”.
Ora, a jogada de mestre de Bin Laden ocorre justamente porque sabe o quanto a questão palestina é cara aos ocidentais e mesmo entre os americanos. Ao argumentar que somente o apoio dos EUA a Israel o teria levado a arquitetar o maior atentado da história americana, ele mostra entender bem como funciona a mente da opinião pública ocidental.
Por essas bandas de cá, existe uma grande necessidade de justificar o terrorismo. A cultura dos países ocidentais é felizmente distante do raciocínio fundamentalista. Para todos nós, existe uma chave racional que seria capaz de impedir a decisão e o planejamento de atos bárbaros como o assassinato em massa de civis inocentes.
Ou seja, ao mencionar o conflito árabe-israelense e a ocupação israelense de território reivindicado para a constituição de um Estado palestino, o líder da al-Qaeda busca – num ato desesperado – apaziguar corações e mentes da população ocidental. Ora, poderia se pensar, se o apoio dado a Israel é a razão que leva os fundamentalistas a cometer atos atrozes, basta que se retire este apoio e toda a violência que envolve o terrorismo será interrompida para sempre.
É justamente isso que Bin Laden quer que se pense quando divulga mais esta fita de vídeo – a 60ª desde os atentados de 11 de Setembro. Não custa lembrar, entretanto, que, ao supostamente dar suas razões para planejar tais atos, o líder da al-Qaeda já apresentou anteriormente razões distintas: a expulsão dos muçulmanos da península ibérica pelos reis católicos no século 15 e a corrupção da monarquia saudita atual e sua aliança com os Estados Unidos.
Bin Laden não apenas está fraco, mas também está desesperado. Ao apresentar novos motivos que supostamente amoleceriam o ocidente, tenta dar a entender que está propondo um acordo. Mas, ora, acordos são firmados entre partes de igual poder. E este não é o caso no momento. A estratégia de Bin Laden não irá funcionar justamente porque suas declarações não são mais vistas como ameaças concretas. Oito anos após os ataques que deram visibilidade ao fundamentalismo islâmico, Europa, EUA e os demais países ocidentais estão preparados para enfrentar o terrorismo sem a necessidade de negociar com ele.
Mesmo assim, o líder da al-Qaeda decidiu em seu mais recente comunicado lançar mão de um trunfo que agrada não apenas à opinião pública do mundo árabe mas também sensibiliza o ocidente. É um gesto desesperado em busca de legitimidade e apoio popular.
O terrorismo é injustificável por natureza. Os grupos que patrocinam ou realizam seus atos o fazem pelo simples desejo de morrer e matar. As causas pelas quais alegam lutar são meras desculpas. Mesmo se obtivessem o que quer que reivindicam, novas e ainda mais complexas demandas seriam apresentadas logo em seguida.
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