A busca por armamento militar empreendida neste momento na América do Sul – notadamente por Venezuela e Brasil – aos poucos vai sendo explicada. Interessante a reportagem publicada na edição deste domingo do jornal O Globo que relaciona as reservas de pré-sal às diretrizes de defesa brasileira.
E o caminho para entender a questão parece ser por aí mesmo. Uma pequena faixa do pré-sal fica além do que as convenções internacionais determinam ser parte das águas territoriais do Brasil. O fato configuraria uma brecha para qualquer país explorar esta parte das reservas.
E este é um problema principalmente quando que se torna claro que os embates internacionais têm como alvo os recursos – cada vez mais escassos e cada vez mais necessários para abastecer economias com populações que precisam consumir.
Não acredito, entretanto, no estereótipo do imperialismo. Pelo menos não nos dias de hoje. Não creio que qualquer país desenvolvido irá despachar um porta-aviões para os mares do sul de forma a explorar o pré-sal na marra.
Acho que o interesse nas reservas brasileiras vai se manifestar pela tangente. Na medida em que não se pode atingir o pré-sal de forma limpa, não duvido que o movimento ambientalista possa ser usado para contestar a legitimidade da extração.
E talvez por isso o Brasil tenha corrido tanto para fechar a compra de equipamentos militares franceses, não de aviões americanos. E não apenas isso: ficaria mais claro também que o governo Lula acreditaria que a ameaça viria dos Estados Unidos. Até porque Brasília já manifestara preocupação com a reativação, no ano passado, da Quarta Frota da Marinha americana para patrulhar a costa do Caribe e das Américas Central e do Sul.
A doutrina que tem marcado as decisões de Brasil e Venezuela é chamada por Nouriel Roubini, professor da Universidade de Nova Iorque, de “nacionalismo de recursos”. E ela explica em parte o que tem acontecido por aqui. O valor das descobertas brasileira – pré-sal – e venezuelana – a descoberta, na última sexta-feira, do maior reservatório de gás do país – está na percepção das fontes energéticas num mundo às vésperas do esgotamento de petróleo.
Por isso, ambos os países estão em marcha acelerada para nacionalizar os recursos. O pré-sal brasileiro e o gás venezuelano estão em outro patamar econômico; eles não foram descobertos somente para serem explorados, mas também são percebidos como patrimônio dos dois países. Da mesma maneira que Rússia e México usam o petróleo de forma estratégica, Venezuela e Brasil estão dispostos a agir da mesma maneira com o que têm.
O estudo de caso também mostra uma nova abordagem da velha visão global dos países em desenvolvimento como provedores de recursos. No século 21, os erros do passado servem como lição. Somente através de alianças, vantagens econômicas e acesso aos mercados do primeiro mundo, as potências poderão negociar a compra – mas nunca a posse – das fontes energéticas. É isso o que Caracas e Brasília querem deixar claro a partir de agora.
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