O relatório divulgado nesta semana pela ONU que acusa Israel de crimes de guerra e contra a humanidade tem provocado polêmica. Não poderia ser diferente, uma vez que o assunto sempre desperta muitas paixões. Ainda mais quando se trata de um documento de temática tão delicada. A própria missão das Nações Unidas encarregada da investigação não conta com o apoio de países importantes.
Até porque, quando o conflito árabe-israelense é o foco, existe grande possibilidade de transformar a busca da verdade em manipulação política. No caso – o relatório que estabelece culpas e atribuições pelas mortes durante a guerra entre Israel e Hamas em Gaza, no início deste ano – há indícios de que isso realmente tenha acontecido.
Por conta dos resultados menos humanitários e mais políticos que a comissão buscava encontrar, Japão, Canadá, França, Grã-Bretanha, Itália, Alemanha e Holanda decidiram romper logo de cara com iniciativa da ONU.
Por outro lado, os maiores incentivadores para que esta missão acontecesse foram Síria, Somália, Paquistão, Malásia e Bangladesh – países que, digamos, não gozam de grande histórico de respeito aos direitos humanos.
Acusado de parcialidade, o sul-africano Richard Goldstone, presidente da comissão, escreveu um editorial aberto no New York Times para se defender.
“Se a justiça não puder se obtida através dos mecanismos locais, então os governos estrangeiros devem agir”, diz.
Com declarações como a acima, Goldstone gerou ainda mais controvérsia, já que também tira a legitimidade da Suprema Corte de Israel e questiona sua competência para julgar o assunto.
Mesmo o jornal israelense Haaretz – reconhecido internacionalmente por sua independência e postura crítica ao governo de Jerusalém – refuta as acusações contidas no documento.
Artigo do correspondente Ari Shavit lembra os recentes equívocos de Estados Unidos e membros da Otan que causaram a morte de civis no Afeganistão e pergunta se os líderes de potências mundiais também serão julgados pela comissão.
“A Arábia Saudita pratica de maneira declarada uma política de discriminação contra as mulheres que a comunidade internacional não enxerga. O Sri Lanka está acabando com o movimento nacional Tamil, causando um grave desastre humanitário. A Turquia oprime brutalmente a minoria curda e a comunidade internacional tampouco se posiciona”.
“Somente quando o assunto é Israel as leis e a justiça internacional descobrem que podem se manifestar. Somente a Israel se exigem padrões morais que não são exigidos a qualquer superpotência ou país do Oriente Médio”, diz.
Como escrevi tantas vezes na época do conflito – entre o final do ano passado e o início deste ano – o Hamas forçou um embate militar direto porque sabia que não perderia qualquer que fosse o resultado (e não poderia ser outro além de uma vitória inapelável de Israel).
Israel ganhou e perdeu. Perdeu porque, como Estado democrático, está vinculado a códigos de ética e conduta amplamente ignorados pelo Hamas – grupo que não reconhece acordos de paz e declaradamente não está comprometido e nem pretende se comprometer com qualquer processo de pacificação da região.
Este relatório divulgado é apenas a peça que faltava para legitimar a “vitória” do Hamas. É óbvio que todas as ações militares das partes devem ser investigadas. Mas por uma comissão que conte com juízes israelenses e palestinos. Seria inclusive uma forma que poderia culminar na retomada dos diálogos de paz.
Da maneira como foi concebido, escrito e publicado, serve apenas ao propósito de polemizar ainda mais um assunto já exaustivamente polêmico.
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