Ainda sobre a parceria da França com o Brasil, há indícios de que a negociação para a compra de equipamento militar não está fechada, como foi divulgado pelo governo na segunda-feira. Agora se inicia uma inversão de ordem provocada pela ansiedade de dar uma notícia positiva a Sarkozy enquanto ele esteve por aqui. Um erro básico que compromete todo o processo.
Parlamentares questionam a transação e há inclusive dúvidas sobre as razões que justificariam tanta pressa na escolha dos caças franceses. Hoje pela manhã recebi em meu email uma mensagem oficial da embaixada americana em Brasília informando que os Estados Unidos não se negaram a transferir tecnologia militar para o Brasil – o principal argumento a favor da opção pelo equipamento francês.
O fato vai ser responsável por ocupar a imprensa brasileira no mínimo durante esta semana. Acredito, no entanto, que o post publicado ontem por aqui possa explicar os motivos que levaram Lula a noticiar a vitória da empresa francesa na licitação promovida pelo governo brasileiro.
A alta cúpula de política externa em Brasília fechou com a França. A parceria entre os países é vista como estratégica e, sob esta ótica, assinar um contrato caro e importante envolvendo a compra de caças, submarinos e helicópteros é parte de um quadro maior e cujos benefícios a ambos os países serão colhidos a longo prazo.
É o caminho que o Brasil escolheu. O problema é que há regras a serem seguidas. O poder executivo precisaria consultar os parlamentares, abrir o contrato e justificar sem meias-palavras a opção tomada. Até porque o embaraço agora é ainda maior. Voltar atrás é patético e mostra uma enorme desorganização burocrática.
Não é a primeira vez, no entanto, que a política externa nacional se mete em trapalhadas. Tudo porque muita gente se sente no direito de opinar e – pior – dar declarações públicas. Fica a pergunta: se o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, entram em choque sobre este assunto, quem é o responsável por manifestar a real posição brasileira?
Uma das explicações para isso acontecer com certa frequência – na guerra entre Israel e o Hamas, no início do ano, não faltaram palpiteiros oficiais em Brasília, por exemplo – é justamente o glamour em torno da área internacional. Dá para escalar um time de futebol de salão listando os que costumam se pronunciar oficial e extraoficialmente sobre a política externa brasileira: além do presidente Lula, é claro, Nelson Jobim; Celso Amorim; o assessor especial da presidência, Marco Aurélio Garcia; o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini; e até o secretário de Relações Internacionais do partido, Valter Pomar.
Qual deles vai responder pela confusão atual? Ou todos vão agir como sempre e sair falando o que bem entendem por aí?
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