Como complemento ao texto de hoje, dois vídeos para que os leitores tirem suas próprias conclusões:
http://www.youtube.com/watch?v=gYjkLUcbJWo
http://www.youtube.com/watch?v=DSFwyWyVo74&feature=watch_response
A abordagem israelense à frota marítima internacional – patrocinada pelos turcos – é um desses eventos capazes de alterar decisivamente o cenário geopolítico no Oriente Médio. A guerra de propaganda envolvendo o episódio apenas começou. Como se sabe, a imprensa reflete a paixão com que as pessoas discutem este tema e defendem este ou aquele lado. No entanto, apesar de toda a desinformação que cerca o resultado deste imbróglio de hoje, já é possível chegar a algumas conclusões sobre a empreitada da "Frota da Liberdade".
Como mencionei ontem, o momento não é nada positivo para a administração Obama. A imigração é um dos pontos mais delicados que o governo vai enfrentar e também será alvo de grande polêmica. O presidente decidiu, nesta semana, enviar 1,2 mil soldados da Guarda Nacional para os quatro estados do sul que fazem fronteira com o México (na foto ao lado, trecho da barreira que divide EUA e o país latino-americano). Longe de resolver o problema, a medida anunciada mostra algo de relevante nesses 16 meses de mandato: Washington não conseguiu pôr em prática as propostas anunciadas durante a eloquente campanha de 2008. Pelo contrário; a Casa Branca tem apenas reagido aos acontecimentos.
O presidente americano, Barack Obama, enviou ao Congresso nesta quinta-feira um documento de 52 páginas conhecido como National Security Strategy (Estratégia de Segurança Nacional) em que lista não apenas os desafios internos enfrentados pelos EUA, mas também as diretrizes internacionais do país. Curiosamente, a redação da formalidade é uma exigência feita aos presidentes desde 1986. A ideia inicial era que os congressistas recebessem esta espécie de relatório todos os anos. Mas poucos cumpriram. George W. Bush, por exemplo, só divulgou por escrito suas posições duas vezes.
O desgaste em curso entre as Coreias causa temor. Kim Jong-il já deixou claro que não irá se render a ameaças e sanções internacionais. Não acredito, no entanto, que os Estados Unidos realmente tenham intenção de abrir mais uma frente de batalha, desta vez no extremo oriente. Não há dinheiro, material humano e, menos ainda, aprovação da opinião pública americana para tal empreendimento. O que se vê hoje é o fenômeno da corte internacional à China. De todas as partes envolvidas. Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão viram na crise atual a oportunidade de chamar os chineses às discussões que lhe interessam.
A divulgação da carta enviada por Barack Obama para Lula pegou muito mal para os Estados Unidos. Na prática, é como se ficasse exposto que Washington entregara a corda para o Itamaraty se enforcar. O problema é que a repercussão de que o Brasil foi incentivado pelos americanos a negociar com Teerã é a única resposta possível da diplomacia brasileira. E aí sobram voluntários do governo Obama para tentar amenizar a situação. O fato é que Brasil e Turquia não poderão ser simplesmente ignorados pela comunidade internacional a partir da discordância em torno da questão nuclear iraniana. Como escrevi anteriormente, esta é uma situação totalmente nova. Por consequência, os atores globais ainda patinam sem saber ao certo como agir.
A semana termina com mais um fato perigoso envolvendo as relações entre americanos e países que o antecessor de Obama chamou de "Eixo do Mal". Agora, após a subida de tom entre norte-coreanos e sul-coreanos, Hillary Clinton declarou que Pyongyang poderá enfrentar consequências por ter afundado um navio militar da Coreia do Sul em março passado. O ataque deixou 46 marinheiros mortos e fez a comunidade internacional voltar os olhos novamente para o regime de Kim Jong-il (no centro da foto).
A sucessão de acontecimentos ocorridos após o anúncio do acordo mediado por Brasil e Turquia com o Irã mostra um mundo em transformação. Fica claro agora o embate entre três líderes regionais importantes: a Turquia, no Oriente Médio, e Brasil e EUA nas Américas. Com a ascensão geopolítica brasileira, o impasse envolvendo a questão iraniana mostra uma briga por acomodação internacional.
É natural a desconfiança em relação ao Irã. O país já avançou e recuou nas negociações sobre seu programa nuclear outras tantas vezes. Mas o mérito do Brasil é inegável. Junto com a Turquia, o governo brasileiro simplesmente adaptou, aumentou e reduziu exigências no acordo proposto em outubro do ano passado por França e Rússia, com o consentimento da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). É por isso que o processo é chamado de negociação e por conta disso também houve uma série de conversações entre as partes envolvidas. Acho importante ressaltar que o Brasil fez o que estava a seu alcance.
Alguém realmente acreditava que Lula iria percorrer meio mundo para sair sem um acordo com o Irã? Não acredito em tanta ingenuidade. Muito possivelmente, a aceitação da proposta de Brasil e Turquia para o impasse envolvendo o enriquecimento de urânio iraniano já vinha sendo costurada há meses. A primeira rodada de negociações pode ter acontecido em novembro do ano passado, quando Mahmoud Ahmadinejad esteve em Brasília.
Na expectativa do início da visita de Lula ao Irã, reafirmo: a ausência americana no Oriente Médio deixa espaço para novos atores. Rússia, Brasil e Turquia são ótimos exemplos de países interessados em usar todo o potencial conflituoso da região para alavancar seu poderio internacional. Mas, talvez os EUA mais uma vez tenham optado por um recuo estratégico; uma mudança de postura em relação ao mundo muçulmano, mais especificamente, declarada no discurso de Obama no Cairo, em junho de 2009. Curiosamente, agora, um ano após este evento marcante, Washington vive seu maior momento de pressão em sua não-relação com o Irã.
O Oriente Médio não tem sido foco de interesse nas últimas semanas. No entanto, isso não significa a ausência de movimentação por lá. Muito pelo contrário. Apesar de os Estados Unidos demonstrarem menos empenho do que se costuma ver, os países têm se movimentado em busca de alianças, empreendimentos econômicos e políticos e influência. O Brasil é um desses casos. Muito embora os resultados das intensas comunicações diplomáticas com o Irã só devem ser conhecidos a partir de sábado. A Rússia é um dos atores mais agressivos, deixando claro que pretende preencher o vácuo deixado pelos americanos nesses últimos tempos.
É o primeiro governo conservador na Grã-Bretanha em 13 anos. É o primeiro governo de coalizão desde a Segunda Guerra Mundial. Em tempos difíceis na Europa, a dupla David Cameron-Nick Clegg (foto) já anunciou uma série de intenções de mudança no primeiro pronunciamento desde que conservadores e liberais democratas aceitaram a união em nome da governabilidade. O processo de alternância de poder foi rápido, algo que, por si só, já é bastante positivo. Deixar o país entregue a uma longa disputa de poder neste momento seria uma tragédia.
Há algo muito além da crise econômica nos países europeus mediterrâneos e na Irlanda. Com a Alemanha finalmente tomando a frente do concerto de nações envolvidas em ajudar principalmente os gregos, a natureza da União Europeia corre sérios riscos. Tudo isso porque os eleitores alemães deixaram claro que não estão dispostos a pagar para resgatar as economias mais fracas do bloco. E isso pode mudar tudo.
O Partido Trabalhista britânico levou uma lavada nas urnas. Apesar disso, no entanto, a situação continua indefinida. A enorme complexidade no Reino Unido mostra como processos eleitorais esquizofrênicos acabam por prejudicar o que se pretende ser uma democracia. O caso está longe de ser isolado. Vale lembrar, por exemplo, o resultado das urnas israelenses, em 2009, quando Tzipi Livni venceu Benjamin Netanyahu por uma pequena margem de votos, conseguiu mais cadeiras no parlamento, mas, mesmo assim, acabou perdendo o cargo.
O chanceler francês, Bernard Kouchner (foto), deu entrevista ao Globo de hoje afirmando temer que o presidente Lula seja enrolado pelo Irã. A declaração da autoridade francesa soa um tanto ultrapassada. Não pela crítica ao líder brasileiro, mas por crer na existência de atores incautos no cenário atual. Como escrevi algumas vezes, inclusive ontem, acredito mais no voluntarismo brasileiro em sua relação com os iranianos. Tendo o cuidado de me isentar por ora no juízo de valor quanto à velha tática de Ahmadinejad de embromar para ganhar tempo – o que ele faz desde sempre quando se trata de seu programa nuclear –, a verdade é uma só: o Brasil optou neste momento por esticar a corda ao máximo em relação à aprovação das sanções a Teerã.
Depois que as duas únicas agências de notícias iranianas, Fars e Irna, divulgaram a informação de que o presidente Ahmadinejad estaria disposto a enviar urânio levemente enriquecido ao Brasil, houve uma sucessão de confusões, explicações, desmentidos e malabarismos políticos. Se isso de fato acontecer, o governo brasileiro definitivamente será alçado ao status de jogador internacional de primeira linha. E isso certamente interessa a Brasília. E, é claro, a Teerã também.
Agora ninguém mais parece questionar o envolvimento do Talibã paquistanês no quase-atentado de Nova Iorque. E essa é a melhor opção entre todas as outras mesmo. Existe uma possibilidade que poderia ser muito mais fatal do que a reivindicação de qualquer gruto fundamentalista islâmico: a de que o esquema do carro-bomba tivesse sido montado por imigrantes insatisfeitos com as novas leis aprovadas pelo estado do Arizona.
Após alguns dias ausente do blog por estar em viagem de trabalho, retorno já com uma série de assuntos importantes. Não é todo dia que Mahmoud Ahmadinejad está nos Estados Unidos para participar justamente do encontro que revisa o Tratado de Não-Proliferação de Armamento Nuclear. E também não é todo dia – definitivamente – que um carro-bomba quase é detonado num dos pontos principais da cidade mais importante do planeta.