
Brasil e Turquia agiram incentivados pela perspectiva da multipolaridade que Barack Obama dizia representar. O caso da Turquia ainda é mais simbólico. Foi no parlamento do país que o presidente americano fez um de seus mais importantes discursos conciliatórios com o mundo muçulmano, em abril do ano passado.
A situação de embate entre as potências e Brasil e Turquia é muito nova porque ainda paira um tanto de desconhecimento quanto à nova ordem global. Se no século vinte os interesses econômicos e ideológicos bastavam para classificar grupos distintos, hoje há uma diversidade de impressões e conceitos que termina por dificultar a simples aplicação de "etiquetas" internacionais.
Brasil e Turquia são exemplos clássicos. A política externa brasileira é independente. O país se relaciona com grande diversidade de atores internacionais. E, ao mesmo tempo em que busca seus interesses de forma pragmática, tem se colocado como porta-voz de nações menos pujantes no cenário. Lula não cansa de repetir que o governo brasileiro quer reequilibrar as relações internacionais. Essas forças aparentemente ambíguas impulsionaram a atuação mundial de Brasília.
A Turquia segue caminho parecido, muito embora o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan (na foto, ao lado de Lula), apresente mais traços ideológicos do que Lula. O partido governista AKP tem origem islâmica, característica muito distinta da política brasileira. De qualquer forma, no entanto, Ancara participa de organismos multilaterais importantes, como a Otan (a aliança militar ocidental da qual é membro desde 1952), e, por pior que tenha sido nos últimos anos, ainda mantém relações diplomáticas com Israel, por exemplo. O país é candidato a aderir à União Europeia, além de representar atualmente a 20ª economia mundial e ostentar significativa população de 74 milhões de habitantes.
Brasil e Turquia representam hoje uma grande novidade internacional. Tanto que a atuação dos dois países na mediação do acordo com o Irã deu um nó nos conceitos estabelecidos das potências ocidentais. Como ignorar essa nova aliança? Ou melhor, como continuar a negar este novo mundo que ambos representam? Essas são perguntas que os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU têm feito desde a última semana.
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