O presidente americano, Barack Obama, enviou ao Congresso nesta quinta-feira um documento de 52 páginas conhecido como National Security Strategy (Estratégia de Segurança Nacional) em que lista não apenas os desafios internos enfrentados pelos EUA, mas também as diretrizes internacionais do país. Curiosamente, a redação da formalidade é uma exigência feita aos presidentes desde 1986. A ideia inicial era que os congressistas recebessem esta espécie de relatório todos os anos. Mas poucos cumpriram. George W. Bush, por exemplo, só divulgou por escrito suas posições duas vezes.
No documento divulgado neste ano, Obama reafirma suas intenções de construir um mundo multipolar. Certamente, este é um momento delicado para tal afirmação. Apesar de ter sido uma das principais características a contribuir para a popularidade mundial do presidente americano, seu governo não tem demonstrado o mesmo empenho prático que evidencie possíveis desejos pessoais de Obama. Um exemplo recente é a discordância ainda mantida com Brasil e Turquia quanto ao acordo alcançado pelos dois países emergentes com o Irã.
Talvez como forma de quebrar o gelo, Ben Rhodes, conselheiro de segurança nacional dos EUA e principal redator do relatório divulgado hoje, diz que as autoridades de Washington estão "profundamente comprometidas em aumentar o círculo de atores responsáveis". Ele lembra também os esforços pessoais de Obama para transformar o G8 em G20, com as participações de China, Índia e Brasil. Parece clara a estratégia diplomática americana de marcar posição em relação aos países emergentes. Ou seja, a Casa Branca reconhece que a ordem mundial mudou, mas estabelece limites para as ambições desses novos atores globais.
Um dos pontos do documento examina exatamente esta questão. "Da mesma maneira como foi feito após a Segunda Guerra Mundial, os EUA devem, hoje, moldar um novo sistema de instituições globais capazes de refletir a realidade do século 21 na qual a grandeza americana não está garantida", escreve.
Questões caras ao atual presidente também estão contempladas, como o combate à proliferação nuclear e a preocupação com as mudanças climáticas. Não duvido que esses temas sejam de real interesse de Obama, mas acredito que sua gestão tem sido marcada por uma tremenda falta de sorte.
Quem poderia prever o desastre do vazamento de óleo no Golfo do México? Quem poderia imaginar o desgaste político com Israel? Quem poderia imaginar que cairia no colo do presidente americano a maior crise entre as Coreias desde o final da guerra, em 1953? E a aprovação da lei anti-imigração mais polêmica dos últimos tempos no Arizona?
A divulgação do National Security Strategy é uma tentativa de virar este jogo com placar altamente desfavorável. Apesar de uma leve melhora nos índices de aprovação da gestão Obama (48%, bem longe dos quase 80% do momento seguinte à posse, há 16 meses), o presidente não pode se dar ao luxo de perder a impressão positiva interna e externa de ser o porta-voz da mudança planetária. Se isso acontecer, ele terá sido somente uma imagem arranhada e passageira do que diz representar e, pior de tudo, com apenas um mandato de duração.
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