É natural a desconfiança em relação ao Irã. O país já avançou e recuou nas negociações sobre seu programa nuclear outras tantas vezes. Mas o mérito do Brasil é inegável. Junto com a Turquia, o governo brasileiro simplesmente adaptou, aumentou e reduziu exigências no acordo proposto em outubro do ano passado por França e Rússia, com o consentimento da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). É por isso que o processo é chamado de negociação e por conta disso também houve uma série de conversações entre as partes envolvidas. Acho importante ressaltar que o Brasil fez o que estava a seu alcance.
As críticas das potências ocidentais são compreensíveis. Por motivos distintos. Em primeiro lugar, a ambição nuclear iraniana não é mesmo positiva. Até porque o país construiu usinas secretas para enriquecimento de urânio e impediu a visita de funcionários da AIEA a suas instalações. Por outro lado, creio que a frieza com que os governos de EUA e países membros da UE receberam o acordo firmado com a ajuda de Turquia e Brasil tem outra explicação: a competência brasileira em negociar com os iranianos pode ser interpretada também como um fracasso da diplomacia de americanos e europeus. Tal raciocínio pode levar a outro; a reforma do Conselho da ONU, uma vez que seus membros permanentes não conseguiram ser bem sucedidos ao abordar o Irã.
Por mais que seja claro para mim que Irã, Brasil e Turquia tenham firmado uma parceria estratégica onde cada um deles é atendido em seus objetivos internacionais - como escrevi ontem -, a percepção da opinião pública mundial poderia ser outra. E aí pegaria muito mal para o grupo de países que vem tentando sem sucesso levar Ahmadinejad à mesa de negociações. A situação fica ainda pior para Barack Obama, há um ano e quatro meses em busca de um acordo com os iranianos. Seus esforços têm sido infrutíferos até agora e não há sinais de que Ahmadinejad deve ceder a seus pedidos.
Agora, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, informa que as potências ocidentais chegaram a um acordo sobre novas sanções ao Irã. O texto tem aprovação inclusive de Rússia e China, países que sempre se mostraram menos dispostos a aderir à posição americana. O fato gera um constrangimento com Brasil e Turquia, uma vez que deixa claro que seus esforços foram inúteis, segundo a interpretação de Washington.
A aprovação das sanções no dia seguinte ao anúncio do acordo mostra também que o único resultado possível das conversações seria Lula deixar Teerã com a promessa iraniana de interromper seu programa nuclear. E aí não se trata de negociação. Mas, sim, de esperar um sucesso absolutamente distante da realidade do quadro que tem se apresentado. Brasil e Turquia deram um passo importante, e o resultado mexeu com as estruturas internacionais. A tal ponto que as potências decidiram se antecipar como forma de manter o status-quo geopolítico.
Na prática, no entanto, as sanções não conseguiram evitar que o Irã iniciasse seu programa nuclear. Desde 1995, o país é atingido por medidas desta natureza. Ou seja, nada garante que novas sanções sejam capazes de interromper o projeto atômico de Khamenei-Ahmadinejad. Como ninguém se mostra disposto por ora a atacar militarmente as usinas da república islâmica, as potências vão precisar dar explicações mais claras para a tomada de tal decisão.
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