terça-feira, 4 de maio de 2010

Carro-bomba em Times Square: uma pergunta ainda sem resposta

Após alguns dias ausente do blog por estar em viagem de trabalho, retorno já com uma série de assuntos importantes. Não é todo dia que Mahmoud Ahmadinejad está nos Estados Unidos para participar justamente do encontro que revisa o Tratado de Não-Proliferação de Armamento Nuclear. E também não é todo dia – definitivamente – que um carro-bomba quase é detonado num dos pontos principais da cidade mais importante do planeta.

As autoridades americanas capturaram o paquistanês de nascimento (mas com cidadania dos Estados Unidos) Faisal Shahzad. Segundo informações divulgadas pelo governo dos EUA, outro homem foi preso em Karachi, no Paquistão, acusado de ter participado do planejamento do atentado. O Talibã paquistanês assumiu o ataque. De certa maneira, o caso caminha para uma solução óbvia.

Mas duas principais dúvidas ainda passam pela minha cabeça, apesar disso: por que o grupo terrorista não reivindicou a autoria logo nas horas seguintes à descoberta do veículo carregado de explosivos? assim que o Talibã costuma agir, ainda mais quando pode se vangloriar de furar o aparato de segurança da maior potência do planeta.Por que o carro não explodiu? Vale lembrar que o mesmo Talibã paquistanês é responsável por uma série de atentados que, nos últimos três anos, deixaram um rastro de mais de 3.200 pessoas mortas.

A segunda pergunta é mais simples de ser respondida. Com os meios de comunicação e a proliferação da ideologia da al-Qaeda, qualquer pessoa hoje pode montar explosivos na própria casa. Basta acessar as páginas de grupos terroristas na internet e seguir o passo-a-passo fornecido.

"Velhas técnicas como o uso de carros e ônibus-bomba mostram que os jihadistas passaram a considerar a realização de ataques terroristas mais fáceis de serem executados", escrevem Steven Simon, membro do Conselho de Relações Internacionais, e Jonathan Stevenson, professor de Estudos Estratégicos da Escola de Marinha de Guerra Americana, no Washington Post.

Ou seja, a simplificação do terrorismo acabou por retirar o "selo de qualidade" dos ataques. Sem a presença dos especialistas – cada vez mais confinados ao território livre da fronteira entre Afeganistão e Paquistão –, fica impossível garantir o "sucesso" desses ataques. Haveria uma perda de eficiência calculada em nome da expansão da ideologia. Faz sentido.

O problema é que a primeira pergunta continua em aberto. Por que não reivindicar a autoria do primeiro atentado em Nova Iorque desde o 11 de Setembro? Alguns podem argumentar que ninguém quer levar o crédito por um ataque frustrado. Mas eu não creio que tenha sido um fracasso, do ponto de vista dos terroristas. Afinal, as forças de segurança americanas foram mobilizadas, os nova-iorquinos prenderam a respiração mais uma vez, e a cidade parou.

Sustento a teoria de que os ataques de 11 de Setembro tinham como objetivo mandar uma mensagem simbólica, não necessariamente tirar a vida da maior quantidade de inocentes possível. Se este fosse o caso, seria mais óbvio atacar o estádio de futebol americano no dia da final do campeonato. Por isso, penso que o ataque de sábado passado atingiu seu objetivo, de certa maneira. Afinal, o terrorismo pretende pôr em xeque algumas das conquistas básicas da sociedade ocidental (e ainda mais caras aos americanos, vale dizer): liberdade e segurança.

Mas e se o atentado não tiver sido necessariamente planejado pelo Talibã paquistanês? Amanhã, escreverei sobre isso.

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