O Oriente Médio não tem sido foco de interesse nas últimas semanas. No entanto, isso não significa a ausência de movimentação por lá. Muito pelo contrário. Apesar de os Estados Unidos demonstrarem menos empenho do que se costuma ver, os países têm se movimentado em busca de alianças, empreendimentos econômicos e políticos e influência. O Brasil é um desses casos. Muito embora os resultados das intensas comunicações diplomáticas com o Irã só devem ser conhecidos a partir de sábado. A Rússia é um dos atores mais agressivos, deixando claro que pretende preencher o vácuo deixado pelos americanos nesses últimos tempos.
Passou despercebido, mas Moscou deu um passo grandioso em sua busca por protagonismo na região. Nesta semana, o presidente, Dmitry Medvedev (na foto com o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan), esteve na Turquia, onde assinou 17 acordos com o governo de Ancara. Voltado principalmente para a área energética – a ponta-de-lança da política externa russa – ficou acordada a participação do Kremlin na construção da primeira usina nuclear turca. Ou seja, se alguém ainda duvidava desta possibilidade, é mais um passo para a realização da temida corrida atômica numa das regiões mais instáveis do planeta.
Como se sabe – e como tenho repetido neste espaço ao longo dos últimos seis meses –, o governo turco não faz qualquer questão de esconder que está cada vez mais alinhado ao Irã. E isso tem sido tema também de protestos dos militantes pela manutenção do caráter laico do Estado. Coincidência ou não, as mudanças propostas pelo atual governo turco sugerem um maior controle estatal de fóruns anteriormente regidos pela sociedade civil e laica. Coincidência ou não, o partido do governo tem fortes tendências islâmicas e a sempre controversa relação entre religião e política é colocada em pauta mais uma vez. Como não credito tais articulações somente ao acaso, acho que a possibilidade de a Turquia seguir o mesmo rumo do Irã num futuro próximo não é impossível.
Ao se alinhar aos turcos, a Rússia pretende se beneficiar duas vezes com um único gesto político: mostra disponibilidade para atuar junto a esta coligação turca, iraniana e síria; e deixa claro estar disposta a não esquecer sua extinta zona de influência entre as ex-repúblicas soviéticas. Por isso, um dos assuntos abordados foi justamente o conflito no Cáucaso em torno de Nagorno-Karabakh, região disputada justamente entre Azerbaijão (ex-república apoiada pela Turquia) e Armênia (cuja relação com a Turquia é a pior possível, não é preciso ser dito).
Para completar, a Rússia acena com a possibilidade de construir um oleoduto ligando o Mar Negro ao Mediterrâneo turco. Não custa lembrar que a presença russa no Mar Negro foi garantida graças ao desconto de 30% concedido à Ucrânia, no último mês de abril, na compra de gás. Os russos permanecerão com sua base em território ucraniano pelo menos até 2042. E certamente darão mais passos ousados rumo à polarização do Oriente Médio.
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