É o primeiro governo conservador na Grã-Bretanha em 13 anos. É o primeiro governo de coalizão desde a Segunda Guerra Mundial. Em tempos difíceis na Europa, a dupla David Cameron-Nick Clegg (foto) já anunciou uma série de intenções de mudança no primeiro pronunciamento desde que conservadores e liberais democratas aceitaram a união em nome da governabilidade. O processo de alternância de poder foi rápido, algo que, por si só, já é bastante positivo. Deixar o país entregue a uma longa disputa de poder neste momento seria uma tragédia.
A agenda apresentada por Cameron e Clegg mostra disposição de atenuar a confusão política ressaltada por este processo eleitoral que se encerra. A intenção é mudar o sistema e estabelecer nova votação em maio de 2015, alterando o atual regime em que o primeiro-ministro tem poderes para convocar eleições a qualquer momento. Acho que só este gesto serve para tranquilizar bastante a opinião pública, já que ficou muito claro o descontentamento com a imprevisibilidade política que poderia ter sido agravada por um vácuo de poder prolongado durante período de tempo indeterminado.
Há, no entanto, previsões de tempos difíceis para o país. Conforme informação da edição de hoje do New York Times, a taxa de desemprego atingiu a marca de 2,5 milhões de pessoas, a maior já registrada. Além disso, o governo produziu um buraco de 240 bilhões de dólares em sua conta anual. Some-se a isso tudo a recessão europeia em curso, e está formado o cenário catastrófico. Um enorme problema cuja resolução caberá a Cameron e Clegg.
E isso sem levar em conta que a articulação política vitoriosa não é unanimidade entre os eleitores. Não é preciso muito esforço para diagnosticar possíveis reações populares com o aperto de gastos para frear o crescente déficit fiscal britânico. Aliás, hoje mesmo, durante o pronunciamento, Cameron deixou claro que a população vai precisar fazer esforços para contornar a crise. Acredito, no entanto, que eventuais protestos na Grã-Bretanha não se aproximem do caos instalado na Grécia, por exemplo. E não apenas por questões culturais, mas porque a economia britânica é bem mais sólida e complexa que a grega.
Há visões distintas sobre as possibilidades oferecidas pela aliança entre conservadores e liberais-democratas. Enquanto o Guardian é otimista e acredita que os lib-dems poderão amenizar o conservadorismo de Cameron, o Independent lembra que os eleitores não apoiaram Nick Clegg na esperança de que ele viesse simplesmente a sustentar uma coalizão liderada pelos conservadores. Acho que ambos os raciocínios se complementam e não necessariamente são excludentes
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