Na expectativa do início da visita de Lula ao Irã, reafirmo: a ausência americana no Oriente Médio deixa espaço para novos atores. Rússia, Brasil e Turquia são ótimos exemplos de países interessados em usar todo o potencial conflituoso da região para alavancar seu poderio internacional. Mas, talvez os EUA mais uma vez tenham optado por um recuo estratégico; uma mudança de postura em relação ao mundo muçulmano, mais especificamente, declarada no discurso de Obama no Cairo, em junho de 2009. Curiosamente, agora, um ano após este evento marcante, Washington vive seu maior momento de pressão em sua não-relação com o Irã.
Para Robin Niblett, diretor do centro privado de análise de Chatham House, de Londres, a política de engajamento - como tem sido chamada a doutrina externa promovida por Barack Obama - é inteligente e muda o posicionamento americano mesmo em relação a seus inimigos.
"Muda a dinâmica da política externa dos Estados Unidos, mesmo que não consiga atingir resultados imediatos e específicos. Ao tentar abrir discussões bilaterais com o Irã, (Obama) não foi capaz de mudar o comportamento iraniano, mas aumentou a boa vontade europeia para apoiar sanções mais sérias", diz em entrevista à BBC.
Ou seja, na prática, a atuação americana seria muito parecida à brasileira. Vale lembrar que Washington ofereceu todas as chances de diálogo a Ahmadinejad. A opção por sanções acabou sendo a única restante - se descartarmos uma ação militar que, segundo as próprias autoridades dos EUA, ainda permanece sobre a mesa. A visita de Lula a Teerã segue mais ou menos a mesma linha, na medida em que o presidente brasileiro não cansa de repetir que espera conseguir da liderança iraniana garantias dos objetivos pacíficos de seu programa nuclear.
Pode ser uma prerrogativa equivocada, mas o discurso do Itamaraty não desconsidera a possibilidade de o Brasil vir a se colocar ao lado de EUA e União Europeia na aplicação de novas sanções ao Irã. Para isso, bastaria que Lula não conseguisse extrair de Ahmadinejad as tais garantias quanto a seu programa nuclear. Como acho que o presidente brasileiro não toparia ir a Teerã para provar que sua linha de raciocínio esteve errada durante todo este tempo, creio que inevitavelmente algum acordo capaz de satisfazer as ansiedades mundiais será anunciado neste final de semana.
Os EUA vão assistir de camarote aos acontecimentos. Seguramente irão intervir quando acharem que novamente suas expectativas não foram correspondidas. Por ora, no entanto, a diplomacia de engajamento americano dá conta apenas de recuar e assumir a postura low-profile que os próprios inimigos do país reivindicaram principalmente durante o governo Bush. Ao mesmo tempo, sua atuação internacional - exceção feita às guerras de Iraque e Afeganistão, fatos consumados anteriormente à posse de Obama - acontece cada vez mais em esferas menos formais, vamos dizer assim. Ou seja, reafirma slogans marcantes do discurso do presidente americano no Cairo: "Respeito mútuo, interesses mútuos e responsabilidade mútua".
Nenhum comentário:
Postar um comentário