No dia seguinte às eleições, aproveito para fazer um mea-culpa: ao contrário do que imaginava, as decisões externas do governo Lula não tiveram qualquer influência nas discussões até este momento. Se Dilma já tivesse sido eleita, esta seria uma verdade absoluta. No entanto, talvez, em novos encontros entre os dois primeiros colocados, a questão acabe aparecendo.
Correndo o risco de errar novamente, acho que esta é uma perspectiva real. Primeiro por conta da natureza da campanha até agora. Se os candidatos trocaram algumas farpas, os assessores políticos e publicitários tentaram ao máximo evitar um clima de confronto direto. Por mais que muita gente goste do vale-tudo, pesquisas refletem a opinião do eleitorado de que o período de debates deve ser aproveitado para confrontar ideias - acho que existe uma certa vergonha dos entrevistados em admitir que rusgas mais violentas costumam sarisfazer bastante.
De qualquer maneira, o clima um tanto harmonioso do primeiro turno deve ceder lugar ao embate direto. Ainda mais porque Dilma pretende se colocar como a antítese de Serra. O representante do PSDB, no entanto, tem tentado se posicionar como o candidato melhor preparado para o cargo, mas que ao mesmo tempo é capaz de reconhecer os avanços da atual administração. Daqui para a frente, com posicionamentos mais claros e obrigados a partir para o tudo ou nada - e isso vale mais para Serra, que precisaria, em tese, de todos os votos de Marina para se eleger -, a tendência é que o confronto aconteça.
E aí acredito que Serra possa colocar sobre a mesa as decisões internacionais que o Brasil tem tomado nos últimos oito anos. Este é um ponto que polariza as duas candidaturas. Acho interessante ilutrar o caso com o resultado da votação de brasileiros no exterior: brasileiros que vivem em Israel elegeram Serra, de acordo com dados da embaixada em Tel-Aviv; os que vivem nos territórios palestinos deram a vitória a Dilma, segundo informações da embaixada em Ramallah. Apesar de a amostra ser insignificante diante da massa de eleitores brasileiros, é curioso notar como há polarização em relação ao posicionamento para aquela região a partir das atitudes brasileiras.
Mas é preciso deixar claro: a política internacional pode ser apenas um dentre os muitos pontos de discussão neste segundo turno. Até porque a grande maioria das pessoas ou não se importa com a questão ou não faz sua escolha sob este ponto de vista.
Mudando um pouco de assunto, percebi que algumas publicações internacionais conseguiram enxergar as nuances das eleições brasileiras. No caso do britânico Guardian, por exemplo, a matéria principal cita as especulações sobre o posicionamento de Dilma em relação ao aborto e informa que este foi um fator importante para a ascensão de Marina. Este tipo de jogo acabou por afastar a candidata do PT de uma fatia importante do eleitorado: os evangélicos.
Ao contrário do que muita gente imagina, o voto no PV não se restringiu a uma massa crítica às políticas de sustentabilidade - um voto de "vanguarda". A boataria em torno das opiniões de Dilma sobre uma questão que ainda é crítica para uma parcela considerável da população brasileira acabou por levar o pleito para o segundo turno. É impressionante como, às vezes, publicações estrangeiras conseguem detectar as estratégias - muitas vezes, sujas - da política nacional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário