A expulsão dos ciganos pela França expõe, na verdade, uma prática comum a boa parte dos países europeus. O foco atual está em Nicolas Sarkozy porque o presidente francês decidiu fazer da deportação sistemática do grupo bandeira de seu governo. Aliás, como já escrevi outras vezes, a União Europeia parece estar estacionada no mundo do século 20. O exemplo de perseguição remete ao mais trágico episódio da humanidade.
Assim como no Holocausto, a caça promovida nos dias atuais é injustificada. Os argumentos de Paris seriam risíveis, se não fossem trágicos. Por exemplo, quando o governo francês denuncia a falta de higiene dos acampamentos, esquece de mencionar os motivos por trás da ausência de estrutura digna. Lei nacional estabelece como obrigação de cidades com mais de 5 mil habitantes fornecer eletricidade, rede de esgoto e água para os acampamentos. Mas a determinação é ignorada pelas autoridades locais.
É preciso deixar claro que Sarkozy age em benefício próprio. Com a popularidade em baixa, as medidas restritivas aos ciganos ajudaram a melhorar a percepção sobre seu governo. Antes de determinar as expulsões, a aprovação do presidente estava em 34%. Agora, está em 36%. Os muito insatisfeitos caíram de 66% para 64%.
Dá para concluir que não é possível culpar apenas as autoridades. Principalmente quando se leva em consideração que dois terços dos franceses aprovam as medidas.
Além da desumanidade envolvida, o gesto também desrespeita a legislação europeia. Como a maior parte dos ciganos possui cidadania romena ou búlgara – países que entraram para a UE em 1 de janeiro de 2007 –, eles não poderiam ser impedidos de circular pelos demais Estados-membros do bloco. Paris argumenta que, por conta da adesão recente, búlgaros e romenos só poderiam usufruir da cláusula de livre movimentação a partir de 2014.
O que pouca gente se recorda é que a Comissão Europeia - órgão executivo do bloco - criou um fundo de 22 bilhões de dólares para ser usado na melhoria das condições de vida dos ciganos. O dinheiro permanece intocado, mesmo neste momento de dificuldades.
Editorial do Washington Post lembra um ponto importante. A guinada de Sarkozy pode marcar o início de um processo de mudança interna na França. Ao eleger os ciganos como os culpados pela criminalidade nacional, o governo pode também sinalizar uma nova abordagem em relação aos milhões de imigrantes que vivem no país.
Até o momento, a lei determina que crianças nascidas em território francês devem receber cidadania automaticamente. O ministro do Interior, Brice Hortefeux, pretende mudar isso, por ora em casos onde os pais tenham sido condenados criminalmente por ataques a policiais ou bombeiros. Se isso de fato vier a acontecer, a França poderá assistir a uma perigosa onda de caça aos imigrantes. Não se sabe como os seis milhões de franceses de origem árabe, por exemplo, poderiam reagir diante deste novo posicionamento oficial.
Assim como no Holocausto, a caça promovida nos dias atuais é injustificada. Os argumentos de Paris seriam risíveis, se não fossem trágicos. Por exemplo, quando o governo francês denuncia a falta de higiene dos acampamentos, esquece de mencionar os motivos por trás da ausência de estrutura digna. Lei nacional estabelece como obrigação de cidades com mais de 5 mil habitantes fornecer eletricidade, rede de esgoto e água para os acampamentos. Mas a determinação é ignorada pelas autoridades locais.
É preciso deixar claro que Sarkozy age em benefício próprio. Com a popularidade em baixa, as medidas restritivas aos ciganos ajudaram a melhorar a percepção sobre seu governo. Antes de determinar as expulsões, a aprovação do presidente estava em 34%. Agora, está em 36%. Os muito insatisfeitos caíram de 66% para 64%.
Dá para concluir que não é possível culpar apenas as autoridades. Principalmente quando se leva em consideração que dois terços dos franceses aprovam as medidas.
Além da desumanidade envolvida, o gesto também desrespeita a legislação europeia. Como a maior parte dos ciganos possui cidadania romena ou búlgara – países que entraram para a UE em 1 de janeiro de 2007 –, eles não poderiam ser impedidos de circular pelos demais Estados-membros do bloco. Paris argumenta que, por conta da adesão recente, búlgaros e romenos só poderiam usufruir da cláusula de livre movimentação a partir de 2014.
O que pouca gente se recorda é que a Comissão Europeia - órgão executivo do bloco - criou um fundo de 22 bilhões de dólares para ser usado na melhoria das condições de vida dos ciganos. O dinheiro permanece intocado, mesmo neste momento de dificuldades.
Editorial do Washington Post lembra um ponto importante. A guinada de Sarkozy pode marcar o início de um processo de mudança interna na França. Ao eleger os ciganos como os culpados pela criminalidade nacional, o governo pode também sinalizar uma nova abordagem em relação aos milhões de imigrantes que vivem no país.
Até o momento, a lei determina que crianças nascidas em território francês devem receber cidadania automaticamente. O ministro do Interior, Brice Hortefeux, pretende mudar isso, por ora em casos onde os pais tenham sido condenados criminalmente por ataques a policiais ou bombeiros. Se isso de fato vier a acontecer, a França poderá assistir a uma perigosa onda de caça aos imigrantes. Não se sabe como os seis milhões de franceses de origem árabe, por exemplo, poderiam reagir diante deste novo posicionamento oficial.
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