A notícia divulgada nesta segunda-feira de que Osama bin Laden e seu braço direito, Ayman al-Zawahiri, estariam vivos no noroeste do Paquistão cai como uma bomba no Ocidente. Primeiro porque, como costumo lembrar, a invasão ao Afeganistão ocorrida em 2001 tinha como objetivos a derrubada do Talibã e a captura do líder da al-Qaeda. Quase dez anos depois, nada disso aconteceu. Para piorar, os detalhes sobre a atual situação de bin Laden são ainda mais agravantes.
Segundo um alto-oficial da Otan, ao contrário do que costuma se dizer, o mentor do maior atentado realizado em solo americano não viveria escondido em cavernas, mas estaria confortavelmente abrigado em alguma das cidades que se transformaram em reduto do Talibã paquistanês. Para completar o quadro, ele também receberia proteção de ninguém menos do que a Inter-Services Intelligence (ISI), o serviço de Inteligência do Paquistão. Quem acompanha este blog já leu inúmeros textos sobre as muitas suspeitas de jogo duplo que recaem sobre as ISI.
O inacreditável é que, se as informações forem mesmo verdadeiras, os esforços empreendidos pelas forças ocidentais - e com mais empenho e aporte financeiro pelos EUA - podem se consolidar como inúteis. Vidas humanas, prestígio internacional, inteligência e os cerca de 345 bilhões de dólares (contabilizando-se apenas a invasão ao Afeganistão) teriam sido jogados no lixo. Se bin Laden estiver vivo, a operação apresenta todos os elementos para ser considerada um fracasso de fato, uma vez que, como se sabe, os talibãs também estão longe de serem derrotados.
Para completar, o governo civil do Paquistão cairá em desgraça se ficar comprovada a suspeita de que as ISI estão aliadas à al-Qaeda. O líder da organização terrorista que se transformou em "franquia" e inspiração ideológica para milhares de entusiastas da jihad mundial mostra ter dado o grande golpe para conseguir colocar Washington em posição profundamente delicada. Se as conexões forem confirmadas, seguindo um raciocínio lógico, a Casa Branca teria pago as contas de bin Laden. Sim, uma vez que, não custa lembrar, o governo do Paquistão é destino de ajuda fornecida pelos EUA em valor superior a 5 bilhões de dólares - boa parte deste aporte tem o serviço de inteligência paquistanês como beneficiário.
O momento é especialmente difícil no Oriente Médio. Se já não bastassem os prejuízos na guerra do Afeganistão e agora a bombástica revelação sobre bin Laden, as peças do dominó parecem prontas para cair de maneira sucessiva. A crescente influência iraniana se aproxima com força do poder político estabelecido no Iraque, país que, no mundo ideal imaginado pelos teóricos americanos, serviria de modelo de democracia a ser irradiado por toda a região. Mas prefiro desenvolver este tema amanhã.
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