quinta-feira, 28 de outubro de 2010

EUA devem apresentar nova proposta de negociação ao Irã

Pela primeira vez em muito tempo, as autoridades americanas estão otimistas em relação ao programa nuclear iraniano. Por mais que a república islâmica tenha anunciado nesta semana o carregamento de combustível na usina de Bushehr (foto), no sul do país, Washington demonstra certa percepção de que, finalmente, os esforços para aplicar sanções mais duras começam a ser recompensados.

Realmente, as poucas notícias que chegam de Teerã sem o filtro oficial não são boas para os iranianos. A desvalorização do rial, a moeda do país, a diminuição das vendas internacionais de petróleo – o Irã é o segundo maior exportador mundial – e as dificuldades para encontrar bancos dispostos a fazer as transações têm dificultado as operações governamentais. Para completar, há o início de divisões internas; os subsídios históricos que mantêm os preços estáveis estão para cair. Com isso, ninguém sabe como os cidadãos comuns irão comprar todos os distintos bens cotidianos, como pão ou gasolina.

As sanções, de fato, estão tornando a vida pior no Irã. Mas a população do país é a mais afetada, não a cúpula governamental. É uma forma de pressão, não há dúvida, mas ela não vai receber a resposta que os EUA esperam. A posição de Washington é um tanto ingênua, de certa forma. Os teóricos do governo americano acreditam que, com a escassez tornando o dia a dia muito difícil, os iranianos irão se mobilizar e pressionar para que seus líderes aceitem negociar os termos do programa nuclear com o Ocidente.

Há algumas evidências recentes para acreditar que esta possibilidade é remota. Quando uma parcela considerável do Irã foi às ruas questionar os resultados da eleição presidencial, os protestos foram reprimidos. Houve muito descontrole, mortes, violência, vídeos no Youtube, petições na internet, mas o governo não cedeu. Não houve revisão de resultados ou qualquer mea-culpa. Isso sem falar que mesmo a oposição a Ahmadinejad não questiona o projeto atômico nacional.

Não faltam exemplos: no Iraque, logo ao lado, a visão romântica americana acreditava ser possível instalar uma democracia tão bem sucedida que, cedo ou tarde, se espalharia naturalmente pelo Oriente Médio. O Iraque é hoje um país atolado no impasse político e seu primeiro-ministro busca apoio justamente dos iranianos. O conceito de democracia nos territórios palestinos permitiu ao Hamas ascender democraticamente e, pouco depois, expulsar violentamente os membros do Fatah de Gaza.

O New York Times publica reportagem afirmando que Obama vai fazer nova proposta de negociação a Ahmadinejad. Diante das evidentes dificuldades causadas pelas sanções, o presidente americano sofisticou sua lista de demandas: O Irã deveria aumentar em mais de dois-terços o volume de urânio levemente enriquecido a ser enviado ao exterior e interromper toda a produção de combustível nuclear.

Se o governo iraniano negou o pedido da chefe de política externa europeia, Catherine Ashton, para um encontro em Viena em meados do mês que vem, alguém acha que os líderes da república islâmica irão concordar com as exigências americanas? Como as sanções têm atingido basicamente a população do Irã, não há dúvidas de que o governo vai continuar a tratar a questão como símbolo de resistência nacional diante do poder "imperialista".

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