Os olhos do mundo estão cada vez mais voltados para a China. O aumento da taxa de juros ordenada pelo governo de Beijing teve duas consequências distintas: se por um lado derrubou as bolas de valores, por outro foi positiva para os EUA, país-simbolo da sociedade de mercado e maior adversário dos chineses na liderança global. A "sino-dependência" planetária é explicada pelas conexões intrínsecas entre as economias e também pelos impressionantes índices do Estado asiático.
Enquanto americanos e europeus se debatem entre greves, crises e pacotes de salvação, a expectativa de crescimento chinês em 2010 é de 9,5%. Beijing não sabe o significado de crise, pelo menos do tipo que o Ocidente está acostumado a enfrentar nos últimos anos.
Os dados são realmente impressionantes e os saltos econômicos, gigantescos e alcançados num curtíssimo espaço de tempo. Em 2003, 190 milhões de pessoas possuíam telefones celulares. Se este já era um número muito significativo, o que dizer dos atuais 800 milhões? Deste total, 420 milhões estão conectados à internet. Como informa reportagem do britânico Telegraph, a China responde hoje por 8% do PIB mundial. Mas, em 2019, a previsão é de que este índice chegue a 15%, apenas cinco pontos menos que os EUA.
O mundo teme a China e está em permanente apreensão quanto a suas decisões porque tais números não podem ser ignorados. Que empresa não quer entrar um mercado deste tamanho? Para se ter ideia, a quantidade de chineses com telefones celulares é dez vezes superior à população total da Alemanha, a maior economia europeia, ou quase três vezes maior que a população americana, a maior economia do planeta.
Mas esta equação que coloca o mercado chinês como a maior massa de manobra do governo pode também se transformar no calcanhar-de-aquiles do regime. A crescente classe média do país consome bastante e joga todos os índices para cima. Mas a insatisfação com as restrições cresce na mesma medida. E isso pode representar o começo do fim para as muitas formas de controle.
Quem já percebeu o movimento tem dado um passo à frente. E isso não diz respeito somente às pessoas comuns que foram protestar, por exemplo, na porta do prédio onde vive Liu Xia, mulher do prêmio nobel da paz deste ano, Liu Xiaobo. Mesmo dirigentes do Partido Comunista perceberam que será impossível manter a situação atual. Mereceu pouca repercussão por aqui, mas, na semana passada, 23 membros do partido enviaram carta aberta ao parlamento exigindo o fim das restrições à liberdade de expressão.
Ninguém sabe como o governo vai reagir a este tipo de pressão interna. Talvez pretenda ganhar tempo para analisar maneiras de se reinventar. É bem possível que, por conta disso, as tensões com o Japão tenham aumentado nos últimos tempos. Hoje, a China voltou a enviar patrulhas marítimas para as ilhas Senkaku/Diaoyu, territórios disputados pelos dois países e também por Taiwan. Nada melhor do que apelar para o nacionalismo irracional de forma a silenciar a oposição. É um tremendo de um lugar-comum. E isso Beijing parece ter aprendido muito bem com o Ocidente.
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