Mahmoud Ahmadinejad está no Líbano. Sua visita ao sul do país permitirá que esteja ao lado de Israel. Mais perto do que nunca, capaz inclusive de assistir à movimentação no lado israelense da fronteira, pretende lembrar a todos os envolvidos no grande conflito do Oriente Médio que o Irã é um ator a ser considerado. A visita do presidente iraniano à região está longe de marcar uma posição consensual num país marcado por profundas divisões internas.
"Ahmadinejad seria bem-vindo se pudesse se comportar como o presidente do Irã, não como o presidente de uma parte do Líbano", diz à BBC Samir Geagea, líder do partido Forças Cristãs Libanesas.
Na segunda-feira, escrevi que a visita contemplava o Hezbollah, uma vez que receber seu maior patrocinador é uma forma de voltar o discurso contra Israel, desviando o foco das investigações da ONU que pretendem esclarecer as circunstâncias em torno do assassinato do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, em 2005. Não se trata somente disso, obviamente.
É do maior interesse iraniano a renovação da imagem de Ahmadinejad como ator regional e, principalmente, opositor à retomada das negociações de paz entre israelenses e palestinos. Como muitos antes dele, o presidente se pretende o maior defensor da causa palestina, alguém com força suficiente para não aceitar os “termos impostos por Israel e EUA”. A causa palestina é a carta na manga mais usada por pretendentes a líderes regionais do mundo islâmico. E agora não é diferente.
Diferente mesmo é o fato de o cenário estar muito favorável a Ahmadinejad. Com a Autoridade Palestina enfraquecida por conta dos confrontos com o Hamas, o presidente Mahmoud Abbas não pode garantir qualquer compromisso que assumir com Israel. É este o ponto fraco que o iraniano não se cansa de explorar. A ideia que tenta emplacar é que somente ele - Ahmadinejad - pode causar medo ao Ocidente graças a seu programa nuclear. Não deixa de ser verdade. Mas o presidente iraniano não está nem aí para o processo de paz ou os palestinos. Ele se importa apenas com seu projeto pessoal de poder.
O seu aparecimento ao lado da fronteira israelense é mais uma jogada de sua ampla estratégia. Ainda mais agora, com o processo de paz emperrado. Como o diálogo está teoricamente parado – escrevo sobre isso posteriormente, já que notícias recentes mostram que há muitas movimentações em curso –, as pedras que o presidente do Irã diz que irá jogar contra Israel miram também outro alvo: a crescente frustração entre os palestinos. Ahmadinejad aproveita esta oportunidade para lembrar o mundo árabe e islâmico que ele representa a única solução. Mesmo que as opções que defenda representem o rompimento total.
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